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    Lava Jato

    Graça Foster se diz 'envergonhada' por propina na Petrobras

    AGUIRRE TALENTO
    DE BRASÍLIA

    26/03/2015 13h27

    Pedro Ladeira/Folhapress
    A ex-presidente da Petrobras Graça Foster em depoimento à CPI da estatal, na Câmara
    A ex-presidente da Petrobras Graça Foster em depoimento à CPI da estatal, na Câmara

    Em depoimento à CPI da Petrobras nesta quinta-feira (26), a ex-presidente da Petrobras Graça Foster afirmou se sentir "envergonhada" e ter um "constrangimento muito grande" pelos relatos de propina na estatal, feito por ex-funcionários que se tornaram delatores da Operação Lava Jato.

    Graça ainda confirmou a tese levantada pelo também ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli de que a corrupção se formou fora da Petrobras e não foi possível de ser detectada pelo controle interno nem pelas auditorias externas.

    "Eu lógico que passo horas do meu dia pensando em tudo que está acontecendo na Petrobras. Eu entrei aqui nas outras CPIs, em audiências, com muito mais coragem do que entro hoje aqui. [Porque] poderiam ter todas as suspeitas mas não tinha os fatos que estão aí, para serem apurados, evidentemente. Eu tenho realmente um constrangimento muito grande por tudo isso, de olhar pra vocês", declarou a ex-presidente.

    Também citou o caso do gasoduto Gasene, apontado pelo ex-gerente Pedro Barusco como uma das obras em que ele recebeu propina, e da qual ela participou por ter sido diretora de Gás e Energia, para dizer que se sentiu "envergonhada".

    "Gostaria que tudo isso fosse mentira e que não tivesse tido propina alguma", disse.

    Graça Foster, que começou na empresa como estagiária, pediu demissão da presidência da Petrobras em fevereiro e contou ter se aposentado há cerca de dois meses.

    ATAQUES

    Após ter entrado na sala da CPI escoltada por parlamentares do PT que participam da comissão, Graça defendeu sua gestão e fez ataques ao PSDB. Disse que a estatal bateu recordes em 2014, mesmo com a Lava Jato dificultando o acesso ao mercado.

    Para ela, não faz sentido o ex-gerente Pedro Barusco ter recebido propina isoladamente enquanto a estatal ainda estava sob o comando do PSDB, na gestão Fernando Henrique Cardoso.

    "Tenho dificuldade de aceitar porque um gerente no meio da linha hierárquica possa receber vantagem por alguma coisa, sem que outro soubesse. Eu acho que talvez o nosso colega Barusco não possa ter falado porque ele está em um processo de delação premiada. Não consigo imaginar que possa, uma pessoa sozinha no meio da estrutura, ter feito uma coisa isoladamente", afirmou.

    Graça ressalvou, porém, que nunca soube de propina e corrupção na Petrobras durante o período em que atuou na estatal.

    'MERECE MAIS'

    Atacado por parlamentares, que questionavam sua gestão à frente da estatal, Graça por diversas vezes afirmou que a Petrobras "merecia um gestor muito melhor do que eu, eu não tenho a menor dúvida disso". Ressaltou, porém, que fez seu melhor à frente do cargo.

    Na avaliação da ex-presidente, por mais melhorias que se fizesse no controle interno, seria difícil detectar o esquema. "Dificilmente serão capazes de identificar o que se acerta em um jantar, em um almoço, o que se acerta não sei onde. Eu não posso dizer de fato que era uma corrupção sistêmica, institucionalizada".

    No momento mais tenso da sessão, deputados do PT bateram boca acusando a CPI de tentar proteger o lobista Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB. O deputado Delegado Waldir (PSDB-GO) chegou a gritar para Jorge Solla (PT-BA): "Abaixa o dedo!".

    O depoimento terminou por volta das 17h. Graça saiu sem falar com a imprensa.

    Com reportagem de SÃO PAULO

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