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    Com estrutura de campanha, Vem Pra Rua se recicla com "Fora Dilma" e periferia

    GRACILIANO ROCHA
    DE SÃO PAULO

    12/04/2015 20h40

    Nos 27 dias entre as duas manifestações que lotaram a avenida Paulista, o movimento Vem Pra Rua passou por uma metamorfose que incluiu a adesão ao "Fora Dilma".

    Em março, o Vem Pra Rua guardava distância do discurso pró-impeachment e se autodefinia como um movimento suprapartidário contra corrupção e pela melhoria dos serviços públicos.

    Neste domingo (12), o trio-elétrico do grupo ostentava imensas faixas cobrando a saída da presidente Dilma Rousseff - apelo repetido nos discursos de todos os oradores na esquina da Paulista com a rua Pamplona. Cerca de 100 mil pessoas foram ao local, segundo o Datafolha.

    "O que aconteceu é que surgiram teses jurídicas de que a presidente pode e deve ser investigada e que pode sofrer o impeachment", diz o empresário e engenheiro de produção Rogério Chequer, 47, líder do Vem Pra Rua.

    "O que queremos é que haja investigação e punição", disse.

    "ELITE DA PERIFERIA"

    Quando seu discurso foi anunciado, a advogada Janaína Lima, 30, foi apresentada como que veio de "longe", do Jardim Irene e do Capão Redondo.

    "A Dilma perdeu completamente a governabilidade e precisa ser sair, mas dentro da lei. Vim aqui hoje para gritar 'basta'", disse a jovem advogada.

    Neste domingo, além de Janaína, discursaram negros, um nordestino, um taxista e um lixeiro do ABC paulista durante os protestos.

    O próprio animador dos discursos, antes de chamar cada um, falou que estavam ali a "elite branca, a elite negra e a elite da periferia" fazendo um contraponto - ou vacina - ao discurso de setores do governo e do PT que tacharam as manifestações anti-Dilma como produto de preconceito dos ricos.

    Politicamente, o Vem Pra Rua marca posição contra os setores que pedem golpe militar. Havia cartazes de "não à intervenção militar" pregados no caminhão de som.

    JINGLE E GUARDA-COSTAS

    A estrutura do Vem Pra Rua é similar a de uma campanha eleitoral.

    Neste domingo, havia dois caminhões de som (um na avenida Paulista, outro na rua Pamplona), jingles, um exército de camisetas amarelas com o logotipo do grupo e uma organização profissional de comunicação e segurança.

    Duas assessoras de imprensa filtram pedidos de entrevistas a Chequer e ele, o rosto mais conhecido do movimento, circula protegido por dois guarda-costas.

    Chequer disse que os custos do Vem Pra Rua são bancados por 2.500 integrantes do movimento - empresários e trabalhadores.

    Ao lado do caminhão principal, havia um menor para recolher doações. R$ 2,50 davam direito a um adesivo e R$ 30 a uma camiseta amarela com a palavra "Basta" e o desenho de uma mão com quatro dedos - referência ao Lula ex-presidente Lula, que perdeu o mindinho da mão esquerda num acidente de trabalho.

    ACENO AO PMDB

    Em um dos vários discursos da tarde, Chequer acenou ao PMDB - maior partido da coalizão governista e fonte de dor de cabeça frequente para o Planalto desde que o partido conquistou o comando da Câmara e do Senado, em fevereiro.

    "PMDB, não adianta você conquistar mais poder, você tem de ouvir o apelo da rua. A aliança do PMDB não tem que ser com o PT, mas com a rua", disse.

    Chequer afirma que representantes de cinquenta movimentos anti-PT vão ao Congresso na próxima quarta. Um dos pontos, segundo ele, é pedir que os pedidos de impeachment sejam levados adiante.

    "A agenda está sendo construída. Somos muitos com pautas diferentes, mas uma coisa que pode nos unir é pedir que os pedidos de impeachment sejam analisados. Não vai ser reuniãozinha a portas fechadas, mas aberta", afirmou.

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