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    Lava Jato

    Publicitário diz que pagou a André Vargas por serviços não prestados

    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO
    FELIPE BÄCHTOLD
    DE PORTO ALEGRE

    15/04/2015 13h21

    O publicitário Ricardo Hoffmann, preso desde sexta-feira (10) pela Operação Lava Jato sob acusação de pagar propina em contratos da agência Borghi Lowe com aCaixa Econômica Federal e o Ministério da Saúde, disse à Polícia Federal que os repasses que empresas do setor fizeram ao ex-deputado André Vargas (ex-PT-PR, hoje sem partido) eram uma comissão por um serviço que nunca foi prestado.

    Os pagamentos feitos, segundo o publicitário, eram uma recompensa para ele conseguir clientes privados no Paraná para a agência Borghi Lowe. O parlamentar, porém, não conseguiu "angariar cliente algum", afirmou Hoffmann.

    A decisão de fazer os pagamentos a Vargas partiu do presidente e do vice-presidente da Borghi Lowe, José Borghi e Waldir Barbosa, ainda de acordo com o publicitário. Segundo ele, Vargas havia pedido essa comissão e os dois executivos concordaram com os repasses, o que José Borghi nega enfaticamente.

    O depoimento do publicitário foi prestado na última segunda-feira (13), em Curitiba.

    Uma planilha apreendida pela PF na casa de Vargas, em Londrina (PR), mostra registros de cerca de 200 pagamentos, que somam R$ 3,17 milhões, para a LSI, uma empresa de fachada do ex-deputado e do irmão dele. O juiz Sergio Moro já escreveu em um despacho que os valores repassados a duas empresas fantasmas de Vargas (LSI e Limiar) podem ser muito maiores.

    No despacho em que decretou a prisão preventiva do publicitário, nesta terça (14), Moro disse que "a falta de consistência" no depoimento reforça a suspeita de que as quantias recebidas por Vargas eram propina por contratos de publicidade no governo federal.

    "Parece pouco consistente a alegação de que os pagamentos se davam pela promessa de André Vargas de angariar clientes", escreveu Moro.

    O publicitário havia sido preso por cinco dias, que venceram nesta terça (14). Com o novo decreto, de prisão preventiva, não há limite de prazo para ele deixar a custódia da PF.

    COMISSÃO

    O dinheiro repassado a Vargas saía de uma comissão que as produtoras pagam às agências de publicidade por terem sido contratadas, conhecida como BV (bônus de veiculação) de produção.

    Empresas públicas e a própria Borghi Lowe proíbem o BV de produção por considerá-lo antiético –seria uma forma disfarçada de corrupção. Em vez de pagar essa comissão à agência, os fornecedores repassavam os 10% para as empresas de Vargas.

    A planilha apreendida pela PF lista pagamentos de produtoras famosas de cinema e publicidade, como a O2 Filmes Publicitários (R$ 311 mil) e Conspiração Filmes (R$ 226,7 mil), para uma das empresas de Vargas, a LSI.

    A O2 é do cineasta Fernando Meirelles, diretor de "Cidade de Deus" (2002), enquanto a Conspiração produziu "Dois Filhos de Francisco" (2005).

    Hoffman disse que a agência tinha dois grandes contratos com o governo: um de aproximadamente R$ 100 milhões, com a Caixa, e outro de R$ 18 milhões, com o Ministério da Saúde. Ainda de acordo com o publicitário, 85% desses montantes eram usados para pagar o meio em que a publicidade era veiculada (TV, jornal ou rádio). A agência era remunerada com os 15% restantes. Ou seja, os contratos com a Caixa e a Saúde renderam à agência uma receita de R$ R$ 18 milhões e R$ 2,5 milhões, respectivamente, ainda de acordo com o publicitário.

    OUTRO LADO

    José Borghi disse em nota que não conheceu nem teve contato com o ex-deputado André Vargas ou qualquer pessoa ligada a ele. "Possuo 32 anos de vida profissional, atuando no mercado criativo da publicidade de forma ética", afirma o presidente da agência.

    A Conspiração diz ter feito o depósito nas duas empresas de Vargas por indicação da agência. "Foi uma surpresa saber que estas empresas que receberam o BV [bônus de volume] pela agência são de propriedade de políticos".

    A produtora diz que teria recusado o trabalho se tivesse conhecimento de irregularidades.

    A agência diz que seu código de ética proíbe o pagamento de bônus a produtoras.

    A O2 disse, em nota, que está apurando o que ocorreu e que até o momento não foi chamada pelas autoridades para prestar esclarecimentos. A produtora afirmou que "pauta suas práticas comerciais com clientes e fornecedores na mais elevada ética e transparência, razão pela qual se surpreendeu com tal notícia."

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