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    Lava Jato

    Ex-deputado recebeu e não fez nada, diz publicitário

    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO
    FELIPE BÄCHTOLD
    DE PORTO ALEGRE

    16/04/2015 02h00

    O publicitário Ricardo Hoffmann, preso desde sexta-feira (10) pela Operação Lava Jato sob acusação de pagar propina em contratos da agência Borghi Lowe com a Caixa e o Ministério da Saúde, disse à Polícia Federal que repasses que empresas do setor fizeram ao ex-deputado André Vargas (ex-PT-PR) eram uma comissão por um serviço que nunca foi prestado.

    Os pagamentos, segundo o publicitário, eram uma recompensa para Vargas conseguir clientela privada para a agência, mas ele não conseguiu "angariar cliente algum".

    A decisão de fazer os pagamentos partiu do presidente e do vice-presidente da agência, José Borghi e Waldir Barbosa, de acordo com o publicitário –o que Borghi nega enfaticamente.

    Uma planilha apreendida pela PF na casa de Vargas, em Londrina (PR), mostra registros de cerca de 200 pagamentos, que somam R$ 3,17 milhões, para a LSI, uma empresa de fachada do ex-deputado e do irmão dele. Além da LSI, eles têm a Limiar.

    Ao decretar uma nova prisão do publicitário –já que a primeira expirara após cinco dias– o juiz federal Sergio Moro disse que a inconsistência do depoimento reforça a suspeita de que as quantias recebidas por Vargas eram propina por contratos de publicidade no governo federal.

    "Parece pouco consistente a alegação de que os pagamentos se davam pela promessa de André Vargas de angariar clientes", escreveu.

    O dinheiro repassado a Vargas saía de uma comissão que as produtoras pagam às agências de publicidade por terem sido contratadas, conhecida como BV (bônus de veiculação) de produção, segundo a Folha apurou.

    Em vez de pagar essa comissão à agência, as produtoras repassavam os 10% para as empresas de Vargas.

    Empresas públicas e a própria Borghi proíbem o BV de produção por considerá-lo antiético –seria uma forma disfarçada de corrupção.

    A planilha apreendida pela PF lista pagamentos de produtoras famosas, como a O2 (R$ 311 mil) e a Conspiração (R$ 226,7 mil), para as empresas de Vargas. A O2 é de Fernando Meirelles, diretor de "Cidade de Deus", enquanto a Conspiração produziu "Dois Filhos de Francisco".

    Hoffmann disse que a agência tinha dois grandes contratos com o governo: um de cerca de R$ 100 milhões anuais com a Caixa Econômica e outro de R$ 18 milhões com o Ministério da Saúde.

    OUTRO LADO

    José Borghi, presidente da Borghi Lowe, afirmou em nota que não conhece o ex-deputado André Vargas ou qualquer pessoa ligada a ele.

    "Possuo 32 anos de vida profissional, atuando no mercado criativo da publicidade de forma ética", afirma.

    A Conspiração disse ter feito o depósito nas empresas de Vargas por indicação da Borghi. "Fomos surpreendidos ao saber que estas empresas que receberam o BV [bônus de volume] pela agência são de propriedade de políticos".

    A produtora afirmou ter sido envolvida "involuntariamente nesse ato lamentável".

    A Borghi disse que seu código de ética proíbe o pagamento de bônus a produtoras.

    A O2 disse em nota que está apurando o que ocorreu e que até o momento não foi chamada pelas autoridades para prestar esclarecimentos. A produtora afirmou que "pauta suas práticas comerciais com clientes e fornecedores na mais elevada ética e transparência, razão pela qual se surpreendeu com tal notícia."

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