Em depoimento à CPI da Petrobras nesta quinta-feira (16), o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, afirmou que o banco não chegou a financiar a empresa Sete Brasil, empresa criada com apoio e participação da estatal para atuar na construção de sondas para exploração de petróleo.

O ex-gerente da petroleira Pedro Barusco, delator da Operação Lava Jato e que também atuou na Sete Brasil, havia dito –tanto em sua delação como na CPI–, que o principal financiador do projeto foi o banco de fomento.

Barusco disse que recebeu propina também por ter sido dirigente da empresa, após deixar a Petrobras. "A fonte de financiamento principal de tal projeto foi do BNDES", diz trecho de sua delação.

Coutinho confirmou que, dentro do projeto inicial da Sete Brasil, o BNDES seria o principal financiador, mas disse que nenhum desembolso chegou a ser feito.

	Pedro Ladeira - 16.abr.2015/Folhapress
	O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, depõe à comissão que investiga a Petrobras

"No momento o BNDES não possui contrato de crédito com a Sete Brasil e não desembolsou nenhum recurso", afirmou à comissão.

O relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), questionou Coutinho se ele estaria desmentindo a delação de Barusco, ao que o presidente do BNDES respondeu que as informações eram imprecisas, evitando dizer que era inverídicas.

"O BNDES seria a principal fonte dentro do projeto inicial. Até esse momento, não houve desembolso", disse Coutinho.

OUTROS PROJETOS

Ele confirmou que o banco emprestou recursos para outros projetos da Petrobras suspeitos de irregularidades, como a transportadora Gasene e a Refinaria Abreu e Lima. Disse ainda que o rigor técnico do BNDES é muito grande e que, por isso, a inadimplência dos seus créditos é "muito baixa".

Segundo Coutinho, os apoios do BNDES à Petrobras foram fortes em 2009, quando o crédito disponível diminuiu por causa da crise econômica, mas que a estatal se financia, em sua maioria, no mercado.

"Oitenta e seis porcento de toda a dívida da Petrobras é junto ao mercado. O BNDES teve um papel naquele momento. Nos anos seguintes, o BNDES emprestou, mas em quantias muito mais moderadas."

Coutinho também é presidente do Conselho de Administração da Petrobras atualmente, cargo que assumiu em março deste ano. Ele é integrante do conselho desde 2008 e exerce a presidência do BNDES desde 2007.

ENCONTROS

Coutinho admitiu ter se reunido com o executivo da UTC Ricardo Pessoa, preso na Operação Lava Jato, e com o tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff, Edinho Silva, mas afirmou que não tratou de doações ao partido nas reuniões, ocorridas no ano passado.

Segundo ele, o encontro com Pessoa ocorreu porque a UTC participa do consórcio que faz a reforma do aeroporto de Viracopos, juntamente com a equipe do consórcio, e não se tratou de outro assunto. Sobre o encontro com Edinho, ele contou que foi para tratar de assuntos do interesse de sua região, Araraquara, sem dar detalhes.

"Eu não tive reunião individual com o senhor Ricardo Pessoa. Eu recebi o consórcio Viracopos pra tratar da continuidade dos investimentos", declarou.

Coutinho também não quis comentar o assunto das "pedaladas fiscais", em julgamento no TCU (Tribunal de Contas da União). "Eu estou aguardando ainda a convocação pelo TCU, o BNDES será ouvido pelo TCU para esclarecer todos esses aspectos. Nós temos regularmente registrado os nossos créditos em relação ao Tesouro e eu creio que esse processo ficará bem esclarecido ao fim dessa avaliação pelo TCU", disse.

A sessão da CPI começou às 9h30 da manhã e se estendeu até por volta das 18h.