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    Lava Jato

    Agência contratada pela Petrobras pagou R$ 311 mil a André Vargas

    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO

    17/04/2015 14h09

    Junior Pinheiro/Folhapress
    Luiz Argôlo (camisa verde), André Vargas e Ricardo Hoffmann no IML de Curitiba, após serem presos
    Luiz Argôlo (camisa verde), André Vargas e Ricardo Hoffmann no IML de Curitiba, após serem presos

    Uma agência de publicidade contratada pela Petrobras, a FCB Brasil, ordenou o repasse de R$ 311 mil para uma empresa fantasma do ex-deputado federal André Vargas (ex-PT-PR, hoje sem partido), segundo a Folha apurou.

    O pagamento foi feito em 26 de fevereiro do ano passado, três semanas depois de a FCB ter conquistado uma conta de R$ 110 milhões da Petrobras.

    A FCB Brasil pediu que a produtora O2 Filmes Publicitários fizesse o pagamento por ela. O envolvimento da agência no suposto esquema de desvios da estatal foi revelado pelo site O Antagonista nesta sexta-feira (17).

    O pagamento da 02 Filmes Publicitários a Vargas foi apontado em reportagem da Folha da última quarta (15). A 02 tem como um de seus sócios o cineasta Fernando Meirelles, diretor de "Cidade de Deus".

    Os procuradores da Operação Lava Jato consideram o repasse propina porque a empresa de Vargas que recebeu o montante, a LSI Solução em Serviços Empresarias, não tem atividade alguma.

    Outras produtoras famosas, como a Conspiração, a Academia de Filmes e a Zulu também fizeram pagamentos, que somam R$ 3,17 milhões, segundo planilha apreendida na casa do ex-deputado, em Londrina (PR), no último dia 10, quando Vargas foi preso.

    A Folha apurou que a conta da Petrobras foi conquistada com ajuda do publicitário Ricardo Hoffmann, que foi vice-presidente da agência Borghi Lowe em Brasília e atendia duas contas do governo (Ministério da Saúde e Caixa Econômica Federal), cujos contratos somam cerca de R$ 140 milhões.

    A FCB Brasil e a Borghi Lowe pertencem ao mesmo grupo, o Interpublic.

    NOVOS CLIENTES

    Hoffmann foi preso pela Operação Lava Jato na última sexta-feira (10) por conta de suspeitas de que ele teria pago propina para conseguir as contas da Caixa e do Ministério da Saúde, segundo o juiz federal Sergio Moro.

    O publicitário disse em depoimento à PF que pagava André Vargas para ele conseguir clientes privados para a agência, mas que ele não indicou nenhuma empresa.

    O repasse dos recursos saía de uma comissão que gira em torno de 10% que produtoras como a O2 pagam à agência de publicidade por ter feito um determinado trabalho, prática conhecida no mercado como BV (bonificação de volume) de produção. A O2, no entanto, não fez nenhum trabalho para a Petrobras na época do pagamento.

    Esse tipo de comissão é proibido pelo governo por ser considerado uma prática antiética, já que ele pode elevar o preço do trabalho. Agências como a Borghi Lowe proíbem o BV, mas a FCB Brasil só veta essa prática em contas publicitárias do governo.

    OUTRO LADO

    A FCB Brasil diz que pediu para a O2 fazer o pagamento para a empresa controlada pelo deputado André Vargas. "A transferência do crédito de fornecedor de produção a uma terceira empresa foi feita sem examinar adequadamente a propriedade dessa empresa", afirma nota da empresa.

    A agência diz que lamenta que "a produtora tenha tido seu nome exposto por esse fato".

    Segundo a agência, o pagamento para a empresa de Vargas foi solicitado pelo publicitário Ricardo Hoffman à FCB "como remuneração devida a ele por um único projeto de consultoria". A FCB diz já ter adotado "ações corretivas" para "esse fato único e isolado".

    A O2 afirma em nota que fez o pagamento por "conta e ordem da FCB Brasil" e que nunca manteve qualquer relação comercial com a LSI de André Vargas. A produtora diz que fez o depósito porque a FCB tinha crédito de bônus junto a ela em razão da relação comercial que mantém com a agência.

    A produtora informa que todos os filmes que fez para a FCB "foram feitos exclusivamente para anunciantes privados", sem vínculo algum com recursos públicos, e diz ter "compromisso com a ética e a transparência em nossas relações comerciais com o mercado".

    Procurada pela Folha, a Petrobras não quis se manifestar.

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