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    Opinião

    Marcelo Soares: Patópolis

    18/04/2015 12h10

    Era uma vez uma cidade fictícia chamada Patópolis, que vivia uma forte crise política, com parte da população saindo às ruas para dizer que todos os seus representantes eram uns ratos.

    Para responder aos clamores da rua, o Partido da Disneylândia (PD) adotou um discurso que pegava bem: anunciou que deixaria de aceitar dinheiro de empresas, apenas de pessoas físicas. A proibição à doação de empresas é levada a sério como uma bala de prata para a reforma política em Patópolis.

    Uma das maiores doadoras de campanhas em Patópolis é a empreiteira Patinhas, cujas obras foram acusadas de superfaturamento no caso PetroPato e no cartel do trailerzão ("ela vem pela montanha, ela vem"). Seus executivos sênior, Tio Patinhas e Pato Donald, chegaram a ser presos.

    Veio a eleição daquele ano, e o Partido da Disneylândia recebeu doações milionárias das pessoas físicas Huguinho, Zezinho e Luizinho. Jovens empresários, eles fazem o que quiserem com suas moedas, desde que declarem oficialmente. Tudo dentro da lei.

    O que só a junta comercial de Patópolis sabe, porém, é que os três patinhos são sobrinhos do Pato Donald e diretores da Patinhas. O Pateta e o Professor Pardal, eleitores comuns, não têm a obrigação de saber quem trabalha onde.

    Um dia, o jornal "Planeta Diário", de Metrópolis, publicou essa informação, ligando o dinheiro doado ao PD à caixa-forte do Tio Patinhas, abastecida pelo dinheiro da PetroPato, numa maneira esperta de ocultar a origem empresarial do dinheiro.

    A reação foi forte. O PD acusou o "Planeta" de estar querendo acabar com o mundo maravilhoso da Disneylândia com sua má vontade. Huguinho, Zezinho e Luizinho, diz a nota do PD, são apenas empresários interessados em fazer avançar a democracia.

    No DuckBook, claques entusiasmadas passaram semanas divididas entre os que acusam a imprensa de ter má vontade e os que acusam o PD de ser ladrão. Tio Patinhas aguarda para mergulhar em sua piscina de moedas.

    Fora dos desenhos animados, claro, a vida é diferente.

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