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    Castelinho foi salvo pelo prestígio, diz biografia

    BERNARDO MELLO FRANCO
    COLUNISTA DA FOLHA

    19/04/2015 02h00

    O hábito foi cultivado por gerações de leitores do "Jornal do Brasil". Após passar o olho nas manchetes, eles pulavam para a página 2 e começavam a se informar pela Coluna do Castello.

    Por mais de 30 anos, entre 1963 e 1993, o "JB" abrigou o espaço mais influente do jornalismo político brasileiro. A coluna e o colunista, Carlos Castello Branco, ressurgem agora em "Todo Aquele Imenso Mar de Liberdade" (Record), de Carlos Marchi.

    A biografia conta em detalhes a trajetória do piauiense, que começou a cobrir política em 1949 e acompanhou os bastidores de 13 governos, de Dutra a Itamar.

    O texto de Castelinho unia o faro do repórter, que trazia notícias em primeira mão, ao talento do analista, que interpretava os fatos e antecipava seus desdobramentos.

    Depois do AI-5, em 1968, o colunista teve que mudar o estilo para dar o recado nas entrelinhas. Nos tempos mais difíceis, travou duas batalhas simultâneas. Contra os militares da linha dura, que chegaram a prendê-lo, e contra os donos do "JB", que tentavam domesticá-lo para negociar vantagens com a ditadura.

    Castelinho foi salvo pelo próprio prestígio. Pediu demissão duas vezes, mas o jornal não pôde aceitar. Fechar a coluna significaria perder a maior grife e, com ela, incontáveis leitores e anunciantes.

    O livro traz passagens curiosas sobre a intimidade do jornalista com políticos. Em um voo para visitar as obras de Brasília, Juscelino Kubitschek recusou os apelos para dar uma entrevista. "Castello, você me conhece, sabe o que vou dizer. Redija você mesmo a entrevista e mande publicar", disse o presidente.

    Em outros trechos, a narrativa revela uma proximidade que seria condenável nos dias de hoje. De JK, Castelinho ganhou um cargo público sem concurso. No fim do governo Medici, o mais brutal da repressão, publicou generosos elogios ao general.

    Apesar disso, defendia sempre a volta à democracia. O biógrafo o absolve pela moderação: "Mesmo nos textos mais elogiosos, Castelinho conseguia colocar nevralgicamente críticas necessárias".

    Desde 2008, seu acervo está disponível no site www.carloscastellobranco.com.br. As 7.446 colunas valem por muitos livros de história.

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    TODO AQUELE IMENSO MAR DE LIBERDADE
    Autor Carlos Marchi
    Editora Record
    Preço R$ 60 (560 págs.)
    Classificação bom

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