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    Deputado quer que 'piroca' seja patrimônio imaterial do Amazonas

    JOSÉ MARQUES
    DE BELÉM

    23/04/2015 07h00

    Um deputado estadual do Amazonas apresentou um projeto que propõe transformar palavras como "piroca", "cabaço", "baitola", "pinguelo" e "xibiu" em patrimônio imaterial do Estado.

    Membro da bancada evangélica em seu quarto mandato, Wanderley Dallas (PMDB) listou os termos junto a dezenas de outros, como "cabeça dura", copiados do livro "Amazonês", do acadêmico Sérgio Freire, que pesquisa a linguagem da região.

    Após enfrentar críticas, o peemedebista voltou atrás e disse que retirará palavrões do projeto, mas atacou os colegas. "É um grupo de deputados que se constrange com a palavra 'cabaço', mas usa de boca cheia em qualquer local", disse.

    Na quarta-feira (22), ele subiu no plenário da Assembleia para se defender. "Tiram 30 palavras de todo o projeto, desvirtuando do contexto", reclamou.

    Embora seja de 2012, o projeto de lei só começou a tramitar em comissões da Casa este ano. No texto, ao lado de cada tópico, segue uma explicação, como: "Cabaço, O hímen. 'Essa aí tem cara de que já perdeu o cabaço'."

    A necessidade de analisar a viabilidade jurídica do projeto irritou o presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), Orlando Cidade (PTN), que o considera "sem a menor consistência".

    "Ele [Dallas] já tentou transformar em patrimônio até a festa do repolho. Tem muito deputado que faz isso. Aí depois põe um outdoor dizendo que é o que mais apresentou projeto", disse.

    Ele pediu à Mesa Diretora que mude o regimento para que a CCJ também possa vetar matérias que não sejam de utilidade pública. Atualmente, ela decide apenas sobre a constitucionalidade dos textos.

    Dallas diz que os colegas se "incomodam" porque ele tem "355 projetos e 86 deles são leis", mas nega ter feito o tipo de publicidade mencionado por Cidade.

    Além do repolho, ele já tentou transformar em patrimônio as festas do Boto, do Pirarucu e da Soltura dos Quelônios. Um deputado no Amazonas ganha pouco mais de R$ 25 mil por mês.

    No Facebook, Sérgio Freitas defendeu o projeto. "O português oral falado aqui é riquíssimo e lhe cortar partes numa censura linguística –porque é 'feio'– é de uma pobreza intelectual imensa", escreveu em seu perfil.

    "Isso é falso moralismo. Se fosse usar amazonês, diria que são uns tremendos babacas", afirmou Dallas. A palavra "babaca", no entanto, não aparece no glossário de Freitas.

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    EXPRESSÕES DO GLOSSÁRIO
    Conheça alguns termos do projeto de lei do AM

    BAGACEIRA: noitada
    BAIACU: pessoa gorda
    BAITOLA: homossexual
    CABAÇO: hímen. "Essa aí tem cara de que já perdeu o cabaço"
    CABAÇUDA: mulher virgem
    CHIRRADO: bêbado
    CUNHANTÃ: garota. "Quem é essa cunhantã?"
    CUNHÃ-PORANGA: mulher bonita. Parte do imaginário do Boi-bumbá de Parintins
    GUGUENTO: pessoa feridenta, nojenta, cheia de marcas na pele. "Eu nunca namoraria com a Waldemarina. Ela é toda guguenta, cheia de espinha"
    PINGUELO: órgão sexual feminino. "Menino nasce por onde entra: pelo pinguelo"
    PIROCA: pênis
    PIROCAR: perder ou cortar o cabelo. "Rapaz, olha o cara aí... pirocou o cabelo todinho"
    XIBIU: vagina

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