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    Inspirada em Júlio César e Prestes, marcha contra Dilma começa em SP

    LUCAS FERRAZ
    DE SÃO PAULO

    24/04/2015 15h55

    Inspirada em movimentos semelhantes realizados por líderes como Júlio César na Roma antiga e Luís Carlos Prestes no Brasil do século passado, a intitulada "marcha pela liberdade" organizada pelo MBL (Movimento Brasil Livre) deixou São Paulo nesta sexta-feira (24) numa caminhada prevista para terminar só em Brasília, após percurso de 1.007 km.

    Se o grupo conseguir marchar como o previsto, chegará na capital federal no dia 27 de maio, uma quarta-feira, quando esperam o apoio de políticos da oposição e um ato de recepção na praça dos Três Poderes para pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), a pauta da manifestação.

    Na saída, numa praça da zona oeste de São Paulo, o grupo recebeu o apoio de empresários, familiares e amigos. Nenhum político apareceu.

    O figurino era o mesmo do visto nas últimas duas manifestações organizadas em São Paulo e outras cidades do país contra a presidente: bandeiras do Brasil, faixas sobre o Petrolão e desenhos de uma mão com quadro dedos, em referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

    Só uma mulher, de salto alto, destoava dos demais. "Vim a São Paulo para um congresso na minha área, mas resolvi acompanhar a marcha assim mesmo. Não importa ficar com bolha no pé, marchar é o mais importante", disse Graciam Li Pereira, 34, anestesista de Porto Alegre que acompanhou somente os primeiros 25 minutos.

    Começava ali, segundo discurso dos organizadores, o ato número dois: após as manifestações, era necessário agora articular apoio político em prol do impeachment de Dilma.

    Nem as recentes declarações de Fernando Henrique Cardoso e José Serra -líderes do PSDB que disseram nos últimos dias não haver base legal para o impeachment-desanimavam os presentes. Eles acreditam que o movimento chegará em Brasília e, logo em seguida, será deflagrado o processo de impedimento contra Dilma Rousseff.

    "A marcha tem o objetivo de angariar apoio político", disse Kim Kataguiri, 19, um dos líderes do MBL. "Vamos realizar atos nas cidades durante todo o trajeto, assim esperamos reunir mais apoio".

    Renan Santos, outro dos coordenadores, lembrou que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) vai recebê-los em Brasília, no final de maio. "Que ele nos apoie no pedido de impeachment e que nos leve um queijo-minas", pediu.

    Segundo Renan Santos, ele foi o idealizador da marcha. "A ideia é fazer história e criar um simbolismo. A esquerda é ótima em simbologia, também precisamos de uma", afirmou. Sobre a baixa adesão na saída da caminhada, Santos disse que os organizadores já esperavam, pois muitos de seus amigos acharam a ideia de andar até Brasília "coisa de louco".

    SOLDADOS

    Kim parecia ansioso. Ele não é adepto de esportes e diz não ter se preparado fisicamente para andar uma média de 30 km diários. "Mas vamos assim mesmo", contou.

    Parte do trajeto será feito em um ônibus, que está à disposição da marcha, mas os organizadores não sabem ainda dizer em quais trechos vão recorrer ao veículo. Uma pequena camionete carregada com água acompanha o grupo. O MBL afirma ter recebido doações, de internautas e empresários, para bancar os custos.

    Na saída de São Paulo, a marcha -que perdeu cinco pessoas nos primeiros 30 minutos- parou parte do trânsito da Marginal Tietê para cruzar a pista e caminhar por um viaduto que dá acesso à rodovia dos Bandeirantes, por onde eles vão caminhar nos próximos dias.

    Cerca de 30 policiais militares auxiliavam os 23 manifestantes e ajudavam a organizar o trânsito.

    "Não aguento muito esse sol, e olha que sou do Rio de Janeiro", dizia a advogada Lorraine Alves, 35, após quase quatro horas de marcha, no momento em que o grupo alcançou a rodovia dos Bandeirantes.

    Coordenadora do MBL Rio, ela viajou a São Paulo para participar dos primeiros três dias de caminhada, devendo parar de andar só no domingo, em Jundiaí (SP).

    "O problema é que tem gente marchando rápido demais, assim eles vão cansar e será difícil chegar em Brasília. Temos que marchar como soldados: devagar e sempre."

    MBL

    O MBL é um dos principais organizadores dos protestos contra o governo que levaram milhares de pessoas às ruas em diversas cidades do Brasil. Em 12 de abril, 100 mil manifestantes foram à avenida Paulista e, em 15 de março, os atos reuniram 210 mil em São Paulo e 1 milhão pelo país.

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