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    Confronto entre PM e manifestantes deixa ao menos 170 feridos no Paraná

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA
    JULIANA COISSI
    DE SÃO PAULO

    29/04/2015 15h07

    Após servidores estaduais do Paraná tentarem romper o cerco da Polícia Militar na Assembleia Legislativa e a corporação reagir com bombas de gás e balas de borracha, manifestantes e PMs entraram em confronto na tarde desta quarta-feira (29) em frente à Casa. O local virou uma praça de guerra onde ao menos 170 pessoas se feriram.

    De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, 20 dos feridos são policiais. Já a prefeitura de Curitiba estipula que 150 civis foram feridos.

    Os protestos ocorreram no Legislativo porque os deputados votaram, a portas fechadas, o projeto do governo Beto Richa (PSDB) que modifica a previdência dos funcionários públicos estaduais. De acordo com o sindicato servidores, foram à manifestação 15 mil pessoas –a PM não fez estimativa.

    Apesar da confusão e dos protestos, o projeto da administração tucano acabou sendo aprovado pela Assembleia, onde Richa tem maioria. A proposta reduz a contribuição do governo –em crise financeira desde o ano passado– sobre as pensões pagas pelo Estado no PR. Os manifestantes reclamam que perderam benefícios.

    Veja vídeo

    Desde o início desta semana, a Assembleia foi cercada por PMs a pedido do governador tucano, que se baseou numa ordem judicial para fazer a votação sem a presença de manifestantes.

    A polícia jogou também jatos de água contra os ativistas. Já os manifestantes atiraram pedaços de pau e pedras. Parte deles são professores, que entraram em greve na última segunda (27) contra o projeto.

    O prédio da prefeitura, que fica em frente à Assembleia, foi transformada em uma espécie de enfermaria para agilizar o atendimento dos feridos.

    A polícia prendeu seis pessoas –entre eles, há professores e black-blocks, segundo a pasta.

    O confronto durou pelo menos duas horas. Após o ataque da PM, os manifestantes –entre eles também alunos da rede pública–, recuaram, mas continuaram ocupando as ruas ao redor do Legislativo.

    A gestão Richa montou uma operação de guerra ao redor da Assembleia.

    Um deputado chegou a ser mordido por um cachorro da PM. Pelo menos dois cinegrafistas que cobriam o confronto também ficaram feridos –um por uma bala de borracha, outro também mordido na perna por um cão da polícia.

    O cinegrafista Luiz Carlos de Jesus, atacado por um pit bull da PM, foi atendido em um hospital, tomou vacina antirrábica, recebeu curativos e teve alta em seguida. Ele não fez cirurgia nem levou pontos.

    'REFÚGIO'

    Dos 170 feridos, 35 foram socorridos por ambulâncias do Samu e por guardas civis municipais. Eles foram levados para hospitais e para a UPA matriz. Havia também entre eles pessoas que passaram mal com o gás usado pela PM.

    Segundo a assessoria da prefeitura, diante do tumulto, as pessoas se refugiaram na prefeitura. O saguão principal ficou lotado de pessoas ensanguentadas, ainda sob efeito de crise nervosa ou que tiveram algum tipo de ferimento.

    Funcionários tentaram acalmar manifestantes, distribuindo água.

    Enquanto isso, a sessão foi realizada na Assembleia. Foi interrompida por cerca de dez minutos, já que o gás chegou a atingir o plenário da Casa, mas foi retomada, mesmo com o barulho de bombas e gritos do lado de fora.

    Também houve confronto nesta terça-feira (28), quando um caminhão de som tentou se aproximar do Legislativo. Na ocasião, a PM reagiu com bombas de gás e spray de pimenta.

    A expectativa dos servidores era evitar a aprovação da proposta de Richa.

    Com medo de que o prédio do Legislativo fosse invadido, a exemplo do que ocorreu em fevereiro, a gestão Richa montou uma operação de guerra ao redor da Assembleia Legislativa do Paraná para garantir a votação.

    Diante da fumaça, foram suspensas as aulas na CMEI Centro Cívico, uma creche infantil para filhos de funcionários, que também fica perto da Assembleia.

    Os pais foram convocados a buscar às pressas as crianças. Assustadas, algumas passaram mal e começaram a tossir diante do desconforto com o gás.

    SEGURANÇA

    Quase 2.000 policiais, segundo apurou a Folha, participaram da operação. Ônibus do batalhão de choque, caminhões dos Bombeiros e até a cavalaria foram convocados para fazer a segurança do prédio.

    Do lado de fora, manifestantes carregaram cartazes e gritaram "retira, retira" e "eu estou na luta".

    Todas as entradas do Legislativo ficaram cercadas. Os manifestantes foram concentrados em apenas um dos lados do prédio. Entre eles e a entrada da Assembleia, há cerca de 30 metros e duas fileiras de grades.

    No início da tarde, comandantes davam ordens à seus batalhões. Em caso de invasão do perímetro, homens da Rotam e do Bope agirão para dispersar os manifestantes, com escudos, bombas de gás e spray de pimenta.

    "É tipo aquele filme 300", explicou um policial, em referência ao filme em que 300 soldados de Esparta enfrentam um exército persa com milhares de integrantes.

    O batalhão de choque teve dezenas de homens dentro do prédio, preparados para o avanço do grupo, com balas de borracha e escudos.

    "Se precisar usar a tonfa [cassetete], é por baixo! Nada de sair girando por cima", orientou um dos comandantes à tropa de policiais.

    PREVIDÊNCIA

    O projeto que pretende alterar a previdência estadual alivia, nas contas dos tucanos, o caixa do governo em R$ 1,7 bilhão ao ano.

    Em protesto, professores e outras categorias, como agentes penitenciários e servidores da saúde, entraram em greve e têm organizado manifestações em frente à Assembleia desde segunda (27).

    A direção da Casa conseguiu uma ordem judicial que proíbe a invasão do plenário, como já ocorreu em fevereiro. A PM diz que está agindo para cumprir a decisão.

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