• Poder

    Sunday, 28-Apr-2024 21:47:32 -03

    Com terceirização na pauta, CUT e Força Sindical se enfrentam

    CLAUDIA ROLLI
    DE SÃO PAULO

    01/05/2015 08h00

    As duas principais centrais sindicais do país, CUT e Força Sindical, se enfrentam no 1º de Maio com posições opostas na questão do projeto que regulamenta e amplia a terceirização nas empresas.

    Contrárias ao projeto, CUT, outras entidades sindicais (como a central CTB e a organização Intersindical) e movimentos sociais (como MST, MTST e UNE, entre outros) farão passeatas de três pontos do centro de São Paulo até o Vale do Anhangabaú, onde realizarão protesto conjunto.

    Para essas entidades, o projeto causa riscos ao trabalhador porque, com a ampliação da terceirização para todas as atividades das empresas, os trabalhadores teriam menos proteção social e perda de direitos trabalhistas.

    O ex-presidente Lula subirá ao palco da CUT para reforçar o pedido de que o texto não seja aprovado no Senado e para pedir que a presidente Dilma vete o projeto caso seja aprovado pelos senadores.

    Depois de a CUT e líderes petistas cobrarem clareza do governo, Dilma afirmou nesta quinta ser contra a terceirização nas atividades essenciais das empresas.

    Pelas regras da Justiça trabalhista, ela só pode ocorrer hoje nas chamadas atividades-meio –ou de apoio– caso de limpeza, alimentação e vigilância, por exemplo.

    Do outro lado da cidade, a Força Sindical comanda o 1º de Maio na praça Campo de Bagatelle (zona norte), com posição contrária à política econômica do governo e favorável à regulamentação da terceirização. Haverá sorteio de carros, além de shows com artistas populares.

    Participam do evento da Força, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), aliados políticos do deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP) e ex-dirigente da Força Sindical, na aprovação do projeto.

    DIVISÃO

    A decisão de defender a extensão da terceirização nas empresas tem dividido os sindicatos filiados à Força Sindical. "Não somos favoráveis à terceirização na atividade-fim. O deputado Paulinho pode ter negociado para passar as emendas dele, mas não representa a posição de toda a central", diz José Pereira dos Santos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos, que representa 49 mil trabalhadores.

    Em Osasco, a posição é a mesma. "Essa maneira de regulamentar o trabalho terceirizado vai gerar mais precarização, um passo atrás em todas as conquistas alcançadas pelas categorias e pela legislação", afirmou Jorge Nazareno, presidente do sindicato na região, que representa 50 mil metalúrgicos.

    Em Curitiba, o sindicato dos metalúrgicos (filiado à Força) tem participado de protestos contra a ampliação da terceirização, em atos que reúne a CUT e outras centrais.

    "A central não está 'rachada', mas temos posição contrária a que está sendo defendida por parte da direção executiva. A Força Sindical demonstrou ser contrária à essa questão da terceirização em seu congresso no ano passado", disse Sérgio Butka, que preside a regional da Força no Paraná e o sindicato dos metalúrgicos da Grande Curitiba.

    DESINFORMAÇÃO

    Para Miguel Torres, que comanda a Força Sindical, há muita desinformação ainda sobre as alterações que foram aprovadas na Câmara.

    "A questão de responsabilidade solidária, de garantir que o sindicato ligado à atividade principal da empresa represente os trabalhadores terceirizados e o fundo que retém parte do valor do contrato para assegurar o pagamento desses trabalhadores são pontos importantes que constam no projeto", afirmou.

    Segundo o sindicalista, o texto vem sendo mudado há dez anos e vai proteger os 12,7 milhões de terceirizados que existem hoje no país.

    Para a UGT, central com maior representação na área de serviços, a terceirização na atividade principal das empresas prejudica os trabalhadores.

    "Uma coisa é criar regras e direitos para os cerca de 13 milhões de terceirizados no país. A outra é querer rebaixar os direitos de todos os demais trabalhadores do país. A central que defende a terceirização está praticando um 'crime de lesa' o trabalhador", disse Ricardo Patah, presidente da UGT.

    A central não fará evento no 1º de Maio nem deve participar de outras manifestações. "É um momento de reflexão, não de pão e circo", disse o dirigente.

    Na avaliação de parte das centrais, como a CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros), o governo tem criado uma "cortina de fumaça" para dar foco ao projeto de terceirização e desviar a atenção da tramitação das medidas provisórias 664 e 665 que reduzem direitos trabalhistas e previdenciários dos trabalhadores.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024