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    Lula disse que só é possível governar lidando com chantagens, conta Mujica

    MARIANA CARNEIRO
    DE BUENOS AIRES

    08/05/2015 11h57

    18.fev.2014/Efe
    Lula é recebido pelo então presidente do Uruguai, José Mujica, na residência oficial do governo do país
    Lula é recebido pelo então presidente do Uruguai, José Mujica, na residência oficial do governo do país

    O ex-presidente do Uruguai José Mujica afirmou, em um livro escrito por dois jornalistas uruguaios, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou o mensalão e que viveu o episódio "com angústia e um pouco de culpa".

    No livro "Una oveja negra al poder" (Uma ovelha negra no poder, em tradução livre), de Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz, o ex-presidente do Uruguai relata que Lula lhe disse: "Neste mundo tive que lidar com muitas coisas imorais, chantagens". O caso foi revelado pelo jornal "O Globo" nesta sexta-feira (8).

    A conversa teria ocorrido em março de 2010, segundo o relato de Mujica. "Essa era a única forma de governar o Brasil", continuou o brasileiro, sempre de acordo com o livro. Mujica conta que Lula falou com pesar, em encontro semanas antes de o uruguaio assumir a presidência. O então vice-presidente de Mujica, Danilo Astori, estava junto com Mujica.

    As declarações foram interpretadas como uma referência direta ao escândalo do mensalão, revelado em 2005, que terminou com a prisão de vários líderes petistas.

    Mujica narra que Lula sentia a necessidade de explicar a situação. No Brasil, o petista sempre negou que tivesse conhecimento do mensalão. Em declarações dadas em 2005, após a revelação do esquema, o então presidente disse que se sentia traído.

    "Quero dizer a vocês, com toda a franqueza, eu me sinto traído. Traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento. Estou indignado pelas revelações que aparecem a cada dia, e que chocam o país", disse Lula na época.

    Questionado pelo site G1 se ao falar sobre "a única forma de governar o Brasil" ou "coisas imorais" o ex-presidente se referia especificamente ao mensalão, um dos autores da obra respondeu por e-mail, dizendo:

    "Não, Lula estava falando sobre as 'coisas imorais' e não sobre o mensalão. O que Lula transmitiu ao Mujica foi que é difícil governar o Brasil sem conviver com chantagens e 'coisas imorais'", afirma Andrés Danza.

    No livro, Mujica defende o ex-presidente brasileiro, dizendo que grandes políticos tiveram que recorrer a mecanismos semelhantes -e que este seria "o preço infame das grandes obras".

    "Lula não é um corrupto como [Fernando] Collor de Mello e outros [ex-]presidentes brasileiros", e até Abraham Lincoln, teriam comprado votos para que seus projetos virassem leis.

    "[Lula] É um dos sujeitos mais brilhantes da América Latina e dos líderes internacionais que eu mais escuto", afirmou Mujica.

    As declarações alcançaram repercussão após reportagem do jornal "O Globo" sobre o livro. Procurada pela Folha, a assessoria de Mujica disse que ele não falaria.

    O Instituto Lula publicou mensagem nas redes sociais criticando as interpretações do livro uruguaio: "Lamentamos que uma vez mais a imprensa brasileira se utilize de imprecisões para gerar interpretações equivocadas e divulgar mentiras".

    DILMA

    O ex-presidente do Uruguai afirma que Lula sempre esteve pronto para dar-lhe conselhos, e que devido a essa proximidade soube que Dilma Rousseff seria indicada para concorrer à Presidência do Brasil antes que isso se tornasse público.

    "Ele a inventou", disse.

    Segundo a publicação, Mujica desejava "profundamente" que Dilma fosse eleita.

    Mujica conta ainda que Lula lhe recomendou que desse apoio declarado a Tabaré Vazquez, que o sucedeu na Presidência do Uruguai. "Quando eu era presidente e decidi apoiar Dilma, me diziam que não me metesse na campanha eleitoral. Então, eu falava de manhã, de tarde e de noite e deu resultado. Você tem que fazer o mesmo."

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