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    Para cientista político, petistas devem se preparar para perder a Presidência

    BERNARDO MELLO FRANCO
    COLUNISTA DA FOLHA

    10/05/2015 02h08

    O PT vive o fim de um ciclo no poder e deve se preparar para uma derrota na eleição presidencial de 2018, afirma o cientista político Octavio Amorim Neto, da Fundação Getulio Vargas do Rio.

    Ele classifica o escândalo de corrupção da Petrobras como "devastador" para partido, que precisa começar a pensar na disputa de 2022.

    *

    Folha - O que muda na coalizão com a entrega da articulação política ao PMDB?

    Octavio Amorim Neto - O começo do segundo governo foi caótico e frustrante para quem votou em Dilma. A articulação política dos cem primeiros dias foi um desastre.

    A nomeação de Temer é uma grande mudança. Ela delegou a economia ao Joaquim Levy e delegou a articulação política ao PMDB.

    Dilma foi obrigada a fazer uma mudança radical em relação ao primeiro mandato, quando era uma presidente concentradora, que decidia unilateralmente e consultava muito pouco os aliados.

    O que a obrigou a mudar?

    A visão do precipício.

    Como fica a presidente?

    Acredito que agora ela vá se concentrar nos programas sociais, que são a marca eleitoral do partido.

    Dilma e o PT estão dando um passo atrás para tentar dar dois à frente mais adiante. A expectativa deles é que a economia volte a crescer em 2017 para que o partido continue a ser competitivo no ano seguinte. A eleição de 2018 será interessante, porque tudo indica que estamos chegando ao fim de um ciclo econômico e político.

    Ricardo Borges/Folhapress
    O cientista político Octavio Amorim Neto, professor da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro
    O cientista político Octavio Amorim Neto, professor da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro

    É o fim do ciclo do PT?

    O PT tem que começar a se preparar para perder em 2018. Não descarto uma vitória de um candidato do partido, possivelmente Lula, mas o realismo indica que vai ser muito difícil. Já foi no ano passado. Não é do estilo do PT reconhecer essas fraquezas de público, mas a questão é como perder. O partido precisa se preparar para o futuro, pensando em 2022.

    Lula pode desistir de 2018?

    Ele tem uma imagem e um nome na história a preservar. Não vai concorrer se sentir que pode sofrer uma derrota fragorosa, humilhante. Lula é muito pragmático. Se as chances foram muito baixas, não vai [concorrer]. Se ele vir que não tem condição de ganhar, é melhor pensar no futuro e lançar outro nome, a ser preparado para 2022.

    Isso será muito difícil, porque o PT não tem mais grandes nomes e tem que começar a firmar um nome para o pós-Lula e Dilma. É uma questão de preservação do partido. Sem isso, ele pode virar um PMDB, que é um grande partido, mas não tem nomes viáveis para a Presidência.

    O PT governa o país desde 2003. Como se comportará se tiver que deixar o poder?

    Não sei se será bom, nem para o PT nem para a democracia, um quinto mandato presidencial. O partido precisa lamber suas feridas, se revitalizar e redescobrir suas raízes. O exercício do poder torna conservadora qualquer organização política, e essa não é a vocação do PT.

    Muita gente quer a eliminação do partido, mas é fundamental que ele sobreviva. Se o PT for eliminado, vai abrir um flanco enorme para aventuras populistas, para o surgimento de um salvador da pátria. O partido cometeu erros calamitosos, inaceitáveis, mas isso não quer dizer que tenha que acabar.

    Em outros países em crise, como Grécia e Espanha, as manifestações geraram novos partidos de esquerda. Por que não aconteceu no Brasil?

    As últimas manifestações não estão à esquerda, estão à direita. Além disso, é difícil sair um Podemos [nova sigla espanhola] porque uma marca das manifestações aqui é a aversão aos partidos em geral. Não é à toa que o PSDB também tem dificuldade de se aproximar.

    Como avalia o petrolão?

    É uma bomba que vai explodir lentamente, com efeitos muito duros para o PT. A Petrobras é símbolo do nacionalismo, da soberania nacional e da capacidade do Estado de induzir o desenvolvimento. Qualquer escândalo poderia acontecer numa gestão petista, menos esse.

    O que acha da ofensiva de parte da oposição por um processo de impeachment?

    Concordo com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: não há base jurídica nenhuma para se abrir um processo de destituição da presidente. Alguns líderes querem se aproveitar do fato de que parte do eleitorado defende o impeachment sem saber bem o que ele significa.

    É fundamental informar à população que o regime é presidencial, com mandato fixo. A permanência da presidente no Planalto independe do seu desempenho. Essa é uma das virtudes e um dos vícios do presidencialismo. Se a presidente vai mal, a única solução possível é ter paciência.

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