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    Lava Jato

    Empresa sob investigação na Operação Lava Jato pagou R$ 1,7 mi a Palocci

    RUBENS VALENTE
    DE BRASÍLIA

    10/05/2015 02h01

    Alvo de um inquérito da Polícia Federal na Operação Lava Jato por ter feito pagamentos ao doleiro Alberto Youssef, a petroquímica Unipar Carbocloro também contratou a empresa de consultoria do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, a Projeto.

    É a primeira vez que uma empresa suspeita de ter participado do esquema de corrupção na Petrobras aparece ligada à consultoria de Palocci.

    Por meio de duas empresas, a Unipar pagou R$ 1,7 milhão à Projeto, segundo relatório de 2011 do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão do Ministério da Fazenda que combate a lavagem de dinheiro. Os pagamentos foram feitos em parcelas de R$ 30 mil a R$ 50 mil.

    Vários pagamentos, a partir de outubro de 2009, quando Palocci era deputado federal, foram feitos na época em que a Unipar buscava se desfazer de uma sociedade com a Petrobras na empresa Quattor, operação concretizada.

    Meses depois, a Braskem, braço petroquímico da construtora Odebrecht, adquiriu as participações societárias da Unipar na Quattor. O acordo foi assinado em 22 de janeiro de 2010 entre a Petrobras, a Quattor e a Braskem.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Em delação premiada na Lava Jato, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa disse que "a Petrobras comprou o ativo da parte da Unipar [na Quattor] e então colocou esse ativo na Braskem, aumentando sua participação".

    Uma auditoria independente estimou o patrimônio líquido da Quattor em R$ 1,62 bilhão em 2009. O balanço da empresa indicou ativos totais de R$ 9,7 bilhões em 2009. O valor final da venda da Quattor para a Braskem e a Petrobras foi de R$ 870 milhões.

    A Unipar entrou na mira da Lava Jato após a quebra do sigilo bancário de firmas usadas pelo doleiro Youssef para lavar dinheiro. Depois ela admitiu à PF ter pago R$ 812 mil à MO Consultora e outros R$ 175 mil à RCI Software.

    Dirigentes da Unipar confirmaram à PF ter pago os R$ 812 mil a Youssef para intermediação de negócios e prestação de serviços de consultoria, e admitiram que nenhum serviço foi prestado, mas negaram que fosse propina.

    COMISSÃO

    Em sua delação, Youssef explicou os depósitos da Unipar. Disse que a partir de 2005 a Unipar procurou o ex-deputado José Janene (PP-PR), falecido em 2010, para obter ajuda para "a viabilização do empreendimento" de uma fusão com a Petrobras, que redundou na criação da Quattor, em parceria com a estatal.

    Segundo Youssef, o presidente do conselho da Unipar, Frank Abubakir, e o diretor financeiro da firma, José Octavio Vianello de Mello, aproximaram-se de Janene, que por sua vez procurou o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa.

    A "comissão" pelo trabalho, disse, seria de R$ 18 milhões "a serem pagos a Janene". Porém, o ex-ministro das Cidades Mário Negromonte (PP-BA) teria "atravessado" o acordo, "passando a receber a comissão por meio de um empresário da Bahia".

    OUTRO LADO

    Por meio de uma nota, a FSB Comunicações, empresa contratada pela empresa de consultoria Projeto, afirmou que a firma do ex-ministro Antonio Palocci não se manifestaria sobre as perguntas encaminhadas pela Folha.

    A reportagem perguntou sobre o objetivo do contrato da Projeto com a Unipar Carbocloro e se houve sucesso no serviço contratado.

    "A Consultoria Projeto não divulga detalhes sobre os contratos que celebra com seus clientes, os quais se revestem de sigilo, inclusive por serem continentes de segredos comerciais das contratantes", informou a nota. "Referidas informações, todavia, estão –e sempre estiveram– à inteira disposição dos órgãos de fiscalização e de controle", concluiu.

    Também por nota, a Danthi Comunicações, que assessora a Unipar, informou: "A Unipar confirma que contratou a consultoria Projeto. Os serviços prestados à época consistiram na elaboração de cenários macroeconômicos e análise da conjuntura político-econômica".

    Em depoimentos na Operação Lava Jato, o presidente do conselho da Unipar, Frank Abubakir, e o diretor financeiro da empresa, José Octavio Vianello de Mello, negaram ter pago propinas a políticos do PP.

    Segundo eles, os pagamentos às empresas do doleiro Alberto Youssef foram feitos porque o ex-deputado federal José Janene (PP-PR) afirmara poder obter a ajuda de "um fundo árabe" que pretendia adquirir uma parte da Unipar, mas nenhum negócio foi concretizado.

    Frank Abubakir disse também que foi ameaçado por Janene (morto em 2010), o que o levou a se mudar de Estado.

    O doleiro disse que Negromonte recebeu R$ 12 milhões e repassou cerca de R$ 1,5 milhão a Janene. Insatisfeito, Janene passou a cobrar a Unipar, que teria pagado mais R$ 9 milhões. Assim, no total teriam sido R$ 21 milhões em propina para políticos do PP.

    O acordo Unipar-Petrobras para criação da Quattor foi concluído em 2007. Em 2009, porém, com perdas financeiras na Quattor, a Unipar procurou sair do negócio, o que levou à entrada da Braskem.

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