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    Em noite 'vintage', FHC saboreia reconhecimento tardio em Nova York

    VERA MAGALHÃES
    ENVIADA ESPECIAL A NOVA YORK
    GIULIANA VALLONE
    DE NOVA YORK

    13/05/2015 07h07

    O cenário, o icônico hotel Waldorf Astoria, ajudava a compor o clima da noite. Mais de dez anos depois de deixarem o poder, tal como naqueles filmes norte-americanos de comédia em que idosos se reúnem para reviver os "melhores dias", Bill Clinton e Fernando Henrique Cardoso não escondiam a satisfação ao reunirem 1.200 pessoas em Nova York para receberem o prêmio de Personalidades do Ano, conferido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos.

    Tratava-se de uma festa muito mais brasileira que americana, diga-se. Políticos, empresários, diplomatas, executivos do setor financeiro e socialites se estapearam nos últimos dias por convites para ter a chance de se exibir em smokings e vestidos de gala e tirar selfies com os homenageados.

    Aos 83, FHC encarou a maratona com uma vitalidade que fez o senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB e último candidato do partido ao Planalto, brincar: "Em 2018 já está definido: o candidato será Fernando Henrique".

    Vera Magalhães/Folhapress
    Evento que homenageou os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, do Brasil, e Bill Clinton, dos EUA, em Nova York
    Evento que homenageou os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton em Nova York

    O ex-presidente não perdeu a chance de, em um discurso longo, proferido parte em inglês, parte em português, alfinetar o PT, que lhe atribuiu ao longo das últimas décadas uma "herança maldita" que teria sido legada por ele ao sucessor, Lula.

    Na fala, FHC fez questão de pontuar o que considera avanços de sua presidência —a estabilização da moeda, a responsabilidade fiscal, a modernização de serviços como a telefonia, a abertura comercial do Brasil e uma política externa voltada para a crítica a regimes autoritários—, em contraposição ao momento atual do governo Dilma Rousseff, a quem atribuiu retrocessos.

    "Muito fizemos depois da Constituição de 1988 para refundar as bases de nosso progresso econômico e cívico. Foi para o que joguei o melhor de minhas forças. Nos últimos anos toda esta construção histórica parecia desfazer-se no ar. Construção, repitamos, feita por gerações e diante da qual não dá para dizer o 'nunca neste país, antes de mim fez-se tal e tal coisa', um país não se constrói senão pondo tijolo sobre tijolo, obra de gerações", afirmou, sendo calorosamente aplaudido.

    Numa fala mais nostálgica e menos elaborada que a do contemporâneo dos tempos de Presidência, Clinton —que, a despeito de ser 14 anos mais novo, estava mais abatido que FHC, segundo a opinião generalizada dos convidados— preferiu rememorar episódios em que ambos atuaram juntos e a amizade que construíram. Os dois tinham tomado café juntos na tarde de terça-feira (12), no escritório de Clinton.

    "Cardoso foi a pessoa certa no tempo dele. Aliás, é a pessoa certa em qualquer tempo", elogiou o norte-americano.

    Um dos mestres de cerimônia da noite, o publicitário Nizan Guanaes, a quem coube "apresentar" Clinton antes de ele discursar, deu o tom de saudosismo reinante ao lembrar que "saudade" é uma palavra que só existe em português. "Ter saudade quer dizer sentir a falta de alguém. Saudade, presidente Fernando Henrique", afirmou o ex-marqueteiro da campanha de 1998 e da de José Serra em 2002.

    Quando FHC foi anunciado, alguém na plateia gritou: "Volta FHC".

    Para quem há algum tempo não podia nem ser exibido na propaganda dos candidatos a presidente do PSDB por ter deixado a Presidência mal avaliado, foi uma noite de redenção.

    Afiado, o próprio laureado não perdeu a chance de se referir à virada da moeda, que saboreia 12 anos depois: "Perdi em vários momentos a popularidade, mas nunca a credibilidade. Na quadra que atravessamos no nosso país, houve perda da credibilidade". Foi novamente ovacionado pela plateia saudosista.

    Aos tucanos presentes coube um mea-culpa. "Nada melhor que a história. A história e o tempo fazem a justiça que os primeiros anos pós-Fernando Henrique não fizeram", afirmou o senador e presidente nacional da legenda, Aécio Neves.

    Candidato à Presidência derrotado em 2014, Aécio disse que houve "reconhecimento claro" da contribuição de FHC para o país nas últimas eleições.

    Para o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o PSDB sempre apostou no legado do ex-presidente. "Acontece que nós perdemos a eleição [em 2002, para Lula], né?"

    Ele afirmou, no entanto, que o tempo está mostrando todas as diferenças entre os estilos de governo de PT e PSDB. "O Fernando Henrique nunca flertou com o populismo, foi muito importante na questão da responsabilidade fiscal", disse.

    A jornalista VERA MAGALHÃES viajou a convite do grupo Lide.

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