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    Lava Jato

    Empreiteiro assina acordo de delação e vai devolver R$ 50 milhões

    MARIO CESAR CARVALHO
    FLÁVIO FERREIRA
    DE SÃO PAULO
    GABRIEL MASCARENHAS
    RUBENS VALENTE
    DE BRASÍLIA

    13/05/2015 16h50

    O empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC e da Constran, assinou nesta quarta-feira (13) um acordo de delação com a Procuradoria Geral da República em Brasília. No trato, ele prometeu revelar o que sabe sobre pagamentos de suborno na Petrobras e outras estatais.

    Ele também se comprometeu a pagar uma multa de R$ 50 milhões, a segunda mais alta entre os delatores da Operação Lava Jato (a maior foi paga por um ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco, de US$ 97 milhões, o equivalente hoje a R$ 295 milhões).

    Pessoa passou cerca de quatro horas na sede da PGR, em Brasília, com os procuradores da República que trabalham nos inquéritos sobre políticos relativos à Operação Lava Jato. A Folha apurou que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, também participou da conversa.

    Nas negociações para o acordo, Pessoa disse que deu R$ 7,5 milhões à campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) no ano passado, negociados com o tesoureiro Edinho Silva, ainda de acordo com Pessoa.

    A doação, segundo Pessoa, visava evitar retaliações em contratos com a Petrobras, conforme a Folha revelou no último sábado (9). Atualmente, Edinho ocupa o Ministério da Secretaria de Comunicação Social.

    Tanto ele quanto o PT negam ter recebido doações ilegais na campanha do ano passado.

    Pessoa também citou o senador Edison Lobão (PMDB-MA) como beneficiário de propina na época em que era o titular do Ministério das Minas e Energia, no primeiro governo de Dilma Rousseff (2011-2014). O empresário contou que Lobão recebeu R$ 1 milhão para não criar empecilhos na obra da usina nuclear de Angra 3.

    A UTC conquistou um dos contratos da usina nuclear, obra estimada em R$ 2,9 bilhões, em consórcio formado com a Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez. Todas essas empreiteiras são investigadas pela Lava Jato sob suspeita de terem pago propina para conquistar contratos da Petrobras.

    Segundo "O Globo", Pessoa citou outros parlamentares, mas as circunstâncias das menções ainda não estão claras.

    Pessoa e outros dois executivos da Camargo Corrêa que fizeram acordo de delação foram os primeiros investigados a apontar que essa prática de suborno também ocorria em outras empresas públicas.

    Pessoa ficou preso de 14 de novembro a 28 de abril, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que ele deveria sair da custódia da Polícia Federal em Curitiba e cumprir prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica.

    O STF e a Polícia Federal não participaram da reunião na PGR. O acordo de delação ainda deverá ser homologado pelo ministro do STF Teori Zavascki.

    OUTRO LADO

    Edinho Silva, negou que tenha havido ligações entre doações eleitorais feitas pela empresa UTC e contratos da Petrobras.

    Silva afirmou que as contas de Dilma de 2014 foram aprovadas por unanimidade pelo Tribunal Superior Eleitoral."Jamais mantive qualquer contato com a Petrobras, portanto, jamais cumpri esse tipo de função. Fui um tesoureiro de campanha como todos os demais tesoureiros, procurando empresários."

    O ministro admitiu ter se encontrado com Pessoa, mas afirmou que apenas tratou de pedidos de doação eleitoral dentro da lei, sem mencionar negócios da Petrobras.

    O PT afirmou que só recebeu doações legais da UTC, que foram registradas no Tribunal Superior Eleitoral

    A assessoria da Presidência da República informou que não iria se manifestar porque o tema campanha eleitoral é de responsabilidade do PT.

    O advogado do senador Edison Lobão, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse que não conseguiu confirmar a citação a seu cliente e, por isso, não iria comentá-la.

    "Ainda assim, vejo com muitas reservas afirmações feitas em delações premiadas. Em outros depoimentos recentes, já vimos contradições, ilações e coisas que não se confirmaram", disse Kakay.

    O advogado Alberto Toron, que defende Pessoa, disse que "está contratualmente proibido de falar sobre este assunto".

    A PGR informou, por meio da assessoria, que não vai se manifestar sobre o assunto.

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