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    Campanha de Fachin rompe com tradição

    DANIELA LIMA
    DE SÃO PAULO

    17/05/2015 02h00

    Pedro Ladeira - 12.mai.2015/Folhapress
    Luiz Edson Fachin cumprimenta o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral, após sabatina
    Luiz Edson Fachin cumprimenta o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral, após sabatina

    O advogado e professor Luiz Edson Fachin rompeu com a cartilha de silêncio e discrição seguida há anos pelos juristas que concorreram antes dele a uma vaga na mais alta corte do país, o STF (Supremo Tribunal Federal).

    Não há relato de outro indicado que tenha feito vídeos e criado um site para defender sua nomeação, nem que tenha buscado contato com líderes religiosos para desmentir boatos sobre sua trajetória.

    Escolhido pela presidente Dilma Rousseff após mais de oito meses de indefinição, Fachin foi sabatinado pelos senadores por 11 horas na semana passada. O plenário do Senado deve votar sua indicação na próxima terça (19).

    Outros ministros do STF buscaram ajuda de assessores para se preparar para a sabatina, mas nunca alguém mobilizou uma equipe tão grande como a de Fachin.

    Carmem Lúcia, indicada em 2006, e Luís Roberto Barroso, nomeado em 2013, contaram com a ajuda informal do jornalista Irineu Tamanini para lidar com a mídia entre a indicação e a nomeação.

    O trabalho era basicamente mantê-los longe de entrevistas. Ambos foram orientados a só receber jornalistas após a posse, em reuniões com setoristas de Judiciário.

    Quem trabalha com indicados ao STF enumera algumas regras de ouro, como nunca se deixar ser chamado de ministro antes da nomeação, não conceder entrevistas antes da posse e mostrar respeito por ritos e protocolos.

    Fachin esteve não só com os senadores, mas também com líderes religiosos. Falou com d. Sérgio da Rocha, presidente da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil), e igrejas evangélicas.

    O pastor Silas Malafaia, que acusou Fachin na internet de ser defensor da poligamia, disse numa rede social ter sido procurado por ele. Pessoas próximas contam que o advogado, ao lado da mulher, a desembargadora Rosana Amara Girardi, também visitou os bispos Robson e Lúcia Rodovalho, da Sara Nossa Terra.

    REDES SOCIAIS

    Fachin contratou em abril uma assessoria, a F7 Comunicação, do jornalista Samuel Figueiredo. Pouco depois, a família do advogado recrutou um escritório para monitorar menções ao seu nome nas redes sociais e um designer para fazer o site pró-Fachin.

    Também associou o trabalho da F7 à consultoria do jornalista Gustavo Krieger, um dos responsáveis pela comunicação da campanha presidencial do senador Aécio Neves (PSDB) no ano passado.

    Segundo Figueiredo, o escritório da família do advogado pagou pelos serviços. E-mails que circularam nos últimos dias com especulações sobre o custo da equipe apontaram cifras próximas de centenas de milhares de reais.

    "Até gostaria de ganhar quanto dizem, mas os valores não são esses", diz Figueiredo. "Isso é maluquice." Uma pessoa com acesso à equipe de Fachin disse que o custo da campanha deve ficar em menos de R$ 100 mil.

    Figueiredo já havia trabalhado para um indicado ao Supremo, o ministro Luiz Fux, o primeiro nomeado por Dilma, em 2011. Mas a situação não se compara, diz ele: "O cenário político hoje é um pouco mais conturbado".

    Fachin foi indicado por Dilma no momento em que ela enfrenta seu maior desgaste político. Por isso, foi orientado a sustentar com firmeza que não tem vínculos com o PT, a CUT ou os sem-terra.

    'FACHINÊS'

    Só para a sabatina que enfrentou no Senado –a mais longa dos últimos 20 anos–, foram 10 horas de treinamento. Os assessores disseram a Fachin para ser didático, paciente, respeitoso e polido.

    Pediram ainda para evitar o "fachinês", apelido que deram ao hábito de usar palavras empoladas ou familiares apenas no universo jurídico.

    Houve uma campanha para mobilizar amigos e aliados nas redes sociais e nos contatos com os senadores. O empenho mereceu registro do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG). Na sabatina, ele disse que, nos dias anteriores, havia recebido inúmeras mensagens do meio jurídico pedindo apoio para Fachin.

    No dia da arguição, a equipe que monitora as menções ao nome do advogado nas redes registrou 110 mil citações. O estudo mostrava que o número era superior aos registrados pela presidente Dilma e por Aécio no dia do lançamento de suas candidaturas presidenciais, em 2014.

    Para especialistas em gestão de imagem ouvidos pela Folha, a maratona que Fachin decidiu correr para chegar ao Supremo pode, ainda que ele tenha sucesso no final da empreitada, lhe deixar uma herança incômoda –a de um ministro considerado frágil pela quantidade de aliados que precisou buscar.

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