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    Auditor diz que usou verba de corrupção em comitê de Richa

    CARLOS OHARA
    DE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CURITIBA

    19/05/2015 02h00

    O auditor Luiz Antônio Souza, preso acusado de fraudar a Receita estadual do Paraná, diz que usou R$ 20 mil do dinheiro arrecadado no esquema de corrupção para comprar divisórias de compensados instaladas no comitê da campanha de Beto Richa (PSDB) à reeleição, em 2014.

    Souza apresentou ao Ministério Público cópias das notas fiscais da compra. A Folha teve acesso a uma delas, de R$ 5.700, sobre a aquisição de 70 unidades de compensados na Gmad Complond Suprimentos para Móveis. De julho de 2014, a nota cita identifica o CPF de Souza como destinatário. O endereço de entrega é o mesmo do comitê de campanha do PSDB.

    A revelação foi feita em delação premiada do auditor, já homologada pela Justiça. Souza está preso desde janeiro sob acusação de enriquecimento ilícito e de exploração sexual de menores, crimes que ele admite.

    Reprodução
    Nota fiscal da compra de divisórias que teriam sido compradas com dinheiro de propina
    Nota fiscal da compra de divisórias que teriam sido compradas com dinheiro de propina

    O auditor sustenta que cerca de R$ 2 milhões do dinheiro da propina foram repassados à campanha de Richa. No sábado, Richa disse que o relato é "coisa de bandido".

    Segundo o Ministério Público, o esquema de corrupção lesou os cofres públicos em mais de R$ 50 milhões nos últimos dez anos.

    Souza e mais 14 auditores e funcionários públicos são acusados de cobrar propina de empresários e, em troca, reduzir ou até anular dívidas tributárias. No total, 62 pessoas foram denunciadas pela Promotoria por participação no esquema.

    O delator disse aos promotores que recebeu ordens do então inspetor-geral de fiscalização da Receita, Márcio de Albuquerque Lima –apontado como líder do esquema– para "atender a todos os pedidos do Vitor Hugo".

    Na época, Vitor Hugo Boselli Dantas era o chefe do comitê da campanha tucana em Londrina. Com a vitória de Richa, Vitor Hugo ganhou o cargo de coordenador da região metropolitana de Londrina.

    Márcio, que chegou a ser preso mas agora responde às acusações em liberdade, é amigo de Richa –os dois foram parceiros em corridas de automobilismo.

    INTENÇÃO

    O advogado Eduardo Duarte Ferreira, que defende o auditor, disse que ele tem "mais duas ou três notas" comprovando outros gastos que bancou no comitê do PSDB.

    Ferreira afirma que seu cliente não tem intenção de prejudicar Richa. "Ele está apenas contando a verdade, para conseguir a redução da pena em todos os processos onde consta como acusado. E também vai indenizar o Estado, fazendo a devolução do dinheiro desviado". Ferreira não quis informar os valores que serão devolvidos.

    Além da acusação de corrupção e enriquecimento ilícito, Souza é réu em nove processos pelo crime de exploração de menores. Ele foi detido com uma adolescente de 15 anos e R$ 20 mil em espécie. Segundo o Ministério Público, o auditor tem patrimônio avaliado em R$ 30 milhões. Como funcionário da Receita, recebia cerca de R$ 25 mil mensais.

    OUTRO LADO

    O PSDB-PR afirmou, por nota, que "não reconhece a veracidade da alegada despesa." Segundo a sigla, "a coordenação da campanha eleitoral do PSDB não encomendou o referido material, não autorizou e nem recebeu qualquer nota fiscal referente ao alegado serviço."

    O advogado Douglas Maranhão, que defende Márcio Albuquerque Lima, disse que não teve acesso à delação. Por isso, não poderia comentar.

    A assessoria do governador Beto Richa disse que assuntos de campanha são tratados só pelo diretório do PSDB.

    O coordenador da região metropolitana de Londrina, Vitor Hugo Dantas, não atendeu as ligações.

    Reprodução
    Oficio enviado ao Ministério Publico
    Oficio enviado ao Ministério Publico

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