• Poder

    Sunday, 28-Apr-2024 13:18:05 -03

    Lava Jato

    Relatório da Petrobras aponta prejuízo de R$ 845 mi com navios

    ALEXANDRE ARAGÃO
    DE SÃO PAULO

    20/05/2015 02h00

    Richard/shipspotting.com
    O navio-sonda Petrobras 10.000, cujo contrato foi superfaturado em US$ 11,9 milhões, segundo relatório
    O navio-sonda Petrobras 10.000, cujo contrato foi superfaturado em US$ 11,9 milhões, segundo relatório

    Auditoria feita pela Petrobras entregue na segunda (18) ao Ministério Público Federal sustenta que contratos de construção e operação de dois navios-sonda e de aluguel e operação de outras duas embarcações causaram prejuízos à estatal de, pelo menos, US$ 281,8 milhões. O equivalente a R$ 845 milhões.

    Os diversos contratos somam US$ 8,5 bilhões, negociados e assinados de 2004 a 2010. Segundo o relatório, decisões foram tomadas "por premissas otimistas, criando uma expectativa que não se confirmou". Houve superfaturamento nos dois casos em que o contrato previa a construção de navio, diz o texto.

    Além disso, tanto nos casos de construção como nos de operação, o valor cobrado por bônus de performance (quando a embarcação opera acima de um índice de eficiência) estava acima do usual.

    O relatório destaca a atuação de lobistas junto à diretoria Internacional da Petrobras, cujos titulares eram Nestor Cerveró (2003 a 2008) e Jorge Zelada (2008 a 2012).

    Cerveró recebeu, em várias ocasiões, diversos representantes das empresas, diz o documento. Entre eles, o lobista Fernando Soares –o Baiano, apontado como operador do PMDB no esquema de corrupção–; o delator, ex-executivo da Toyo Setal e então representante da Mitsui Julio Camargo; e o lobista Hamylton Pinheiro Padilha Junior.

    Quando a diretoria-executiva da Petrobras aprovou a construção do primeiro dos navios-sonda, pela Mitsui, Cerveró reuniu-se com Fernando Baiano por aproximadamente seis horas, segundo registros do prédio da estatal. Ele também teve reuniões com Julio Camargo, que se apresentou como representante da firma japonesa.

    Já o principal encontro com Padilha Junior coincide com a data em que a proposta final da americana Pride foi recebida pela Petrobras.

    O texto atribui culpa a Zelada por não ter seguido procedimentos de governança estabelecidos na Petrobras.

    DESVIOS

    As empresas que fizeram transações com a Petrobras nesses casos são a japonesa Mitsui, a coreana Samsung e as americanas Pride e Vantage Drilling, responsáveis pelos navios-sonda Petrobras 10.000, Vitória 10.000, Pride/Ensco DS-5 e Titanium Explorer, respectivamente.

    Em outubro de 2005, a Mitsui procurou a Petrobras propondo a construção do Petrobras 10.000. Concebido para atuar em Angola, o navio-sonda zarpou da Coreia do Sul para a África em julho de 2009. Lá, furou três poços secos e retornou ao Brasil. Segundo a auditoria, seu contrato tem US$ 11,9 milhões de superfaturamento.

    Já o Vitória 10.000, construído pela Samsung a pedido da Petrobras, produziu prejuízos à estatal pela falta de licitação, por uma cláusula de variação cambial suspeita e pela demora que o equipamento levou para ser deslocado ao Brasil, onde entrou em operação.

    No caso do Pride/Ensco DS-5, o grupo de trabalho responsável pela contratação não tinha poderes para negociar, visto que deveria seguir acordo assinado por Cerveró. Este contrato continha cerca de US$ 118 milhões de sobrepreço, segundo o relatório.

    Por fim, o Titanium Explorer foi entregue com atraso e, apesar disso, a Vantage Drilling –empresa responsável pela operação– não foi penalizada. O prejuízo à estatal alcançou US$ 14,5 milhões.

    OUTRO LADO

    Em janeiro, o ex-diretor Nestor Cerveró disse que as embarcações que passaram por sua área foram adquiridas fora de procedimento licitatório. E que foram aprovadas pela diretoria da estatal, "composta por seis diretores e o presidente"

    O ex-diretor Jorge Zelada, em depoimento à CPI da Petrobras, disse que jamais interferiu em licitações. Seu advogado, Eduardo de Moraes, afirmou que ele teve conduta "ilibada" na estatal.

    Julio Camargo, que faz delação premiada na Operação Lava Jato, disse no ano passado ter feito uma intermediação entre Petrobras, Mitsui e Samsung. Acrescentou que ajudou Fernando Baiano a aproximar-se da área Internacional, liderada por Cerveró.

    A Mitsui diz não estar envolvida em atividade irregular e que não é investigada "por irregularidades em seus negócios com a Petrobras".

    A Samsung diz que "o assunto em questão não diz respeito a nenhuma das áreas de atuação" da empresa.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024