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    Reforma para superar crise divide petistas

    BELA MEGALE
    DE SÃO PAULO

    22/05/2015 02h00

    As denúncias da Operação Lava Jato, que investiga um esquema de desvios envolvendo políticos, empreiteiras e a Petrobras, está levando o PT a rediscutir seus próprios métodos, com propostas que, em tese, podem resultar em mudanças profundas em seu funcionamento.

    Discute-se alterações que vão desde a forma como o partido escolhe seus dirigentes até a relação com empresas privadas que financiam campanhas petistas.

    A extinção das doações empresariais e o fim do sistema de eleição direta interna para escolha de dirigentes, o chamado PED (Processo de Eleições Diretas), irão pautar o 5º Congresso Nacional do PT, em junho, em Salvador.

    Alvo unânime de críticas internas, o PED é visto como um sistema dominado pela corrupção eleitoral. Nele, qualquer filiado pode votar desde que esteja em dia com as taxas cobradas pela sigla. Elas vão de R$ 15 a cada seis meses a 20% do salário mensal, dependendo da relação do filiado com a legenda.

    Há denúncias frequentes de militantes que pagam as dívidas de outros filiados ou oferecem benefícios para arregimentar votos ao candidato ou à chapa do corruptor.

    A cúpula do partido defende sua manutenção, mas com alterações. "Ele [o PED] é importante, mas precisa ser corrigido", diz o presidente do PT em São Paulo Emídio de Souza. "Somos o único partido que elege diretamente suas direções", completa.

    Emídio defende que filiados comuns, aqueles sem cargos ou vínculos de trabalho com a legenda, não tenham mais que pagar para votar. A proposta será apresentada no congresso estadual paulista, nesta sexta (22) e no sábado, na capital.

    Correntes do PT mais à esquerda querem a extinção do PED. Preferem um modelo em que um colégio de delegados eleitos pela base escolha a direção partidária.

    Esses grupos não enxergam com bons olhos a mudança menos radical defendida por Emídio. "A ideia [de acabar apenas com a cobrança] é contraditória, ainda mais em um momento em que defendemos o autofinanciamento e precisamos convencer a militância a colaborar", diz Valter Pomar, da corrente Articulação de Esquerda.

    Outro argumento rebatido por esse grupo é de que o fim do PED dará margem para críticas de que o PT está restringindo a democracia interna. "Quem diz isso é demagogo", diz Pomar, lembrando que o PT não pode ter uma eleição só para fingir democracia.

    DOAÇÕES EMPRESARIAIS

    O fim de doações de empresas privadas é uma bandeira comum de todas os grupos internos. Mas com nuances.

    A executiva petista de São Paulo concorda com o fim de doações de empresas ao partido, mas defende que candidatos possam receber até que uma reforma política proíba esse tipo de financiamento.

    "Enquanto não virar lei não podemos deixar os nossos em situação diferente dos demais", diz Emídio.

    Seu grupo também propõe que diretórios possam aceitar financiamento de empresas para quitar dívidas contraídas até o momento. Só o paulista tem um rombo de cerca de R$ 55 milhões.

    Desde abril os diretórios nacionais, estaduais e municipais não estão mais recebendo recursos de empresas. A manutenção dessa medida será debatida em Salvador, mas diretórios como o do Rio já estão reclamando.

    Já os grupos mais à esquerda são contra qualquer tipo de financiamento empresarial. Querem banimento imediato, seja para diretório, seja para candidato.

    A forma de o partido se portar diante do governo e a retomada do diálogo com a base social são outros temas em discussão.

    Editoria de Arte/Folhapress

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