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    Auditores do PR têm metas para ajudar primeira-dama

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA

    27/05/2015 02h00

    Responsáveis pela arrecadação de impostos estaduais, auditores fiscais do Paraná têm metas anuais para doar a uma ONG vinculada à mulher do governador Beto Richa (PSDB), Fernanda Richa.

    A campanha de arrecadação é promovida desde 2011 pelo sindicato da categoria, o Sindafep. O dinheiro é destinado à entrega de cobertores para famílias carentes do Paraná, em parceria com o Provopar (Programa do Voluntariado Paranaense).

    Nos últimos três anos, os auditores arrecadaram R$ 3,7 milhões, segundo o Sindafep. O R$ 1,5 milhão alcançado em 2014 corresponde a um terço da receita da ONG, segundo a Folha apurou.

    Os valores estão na mira do Ministério Público. Uma denúncia anônima sustenta que Fernanda Richa exigiu doações ao Provopar e à campanha do marido em troca da promoção de auditores, em 2014. Reportagem da Folha mostrou que auditores doaram quase R$ 1 milhão ao tucano e seus aliados em 2014.

    O inquérito corre sob sigilo. Até agora, não há provas que corroborem a suspeita.

    A corrupção entre auditores também é investigada. Quinze deles foram denunciados por anular dívidas de empresas em troca de propina, em Londrina. Há indícios de que o esquema exista em outras regionais.

    O Sindafep diz que tem forte atuação social e que ajuda diversas entidades.

    LAÇOS

    O Provopar foi fundado como braço de assistência social do Estado em 1980. Três anos depois, desvinculou-se do governo, mas seu estatuto prevê que toda primeira-dama tenha assento no conselho.

    A doação de cobertores é a mais importante ação da ONG. Fernanda Richa a impulsionou como primeira-dama de Curitiba, de 2005 a 2010. Em parceria com empresas, ela multiplicou as doações.

    Em 2010, ela foi condenada pela Justiça por pedir votos ao marido durante um evento de distribuição de cobertores. Está recorrendo.

    Hoje, o Sindafep é o principal parceiro da campanha no Provopar. Doou metade dos cobertores distribuídos nos últimos três anos.

    Para chegar a esse número, o sindicato estabelece metas de arrecadação para cada regional. Em reuniões mensais, cobra resultados e celebra metas atingidas.

    OUTRO LADO

    O Sindafep diz que tem forte atuação na área social e financia campanhas de várias entidades. "Temos um viés social muito forte, mas participação política, nenhuma", disse o presidente do sindicato, José Carlos Carvalho.

    Segundo ele, as doações à ONG são espontâneas. Procurado nesta terça (26), Carvalho não se manifestou sobre as metas de arrecadação.

    Presidente do Provopar, Carlise Kwiatkowski diz que a parceria com os auditores é "lícita e transparente" e que todas as doações feitas à entidade são contabilizadas e têm recibo.

    O órgão também discorda dos números apresentados pelo sindicato: diz que as doações não ultrapassaram R$ 257 mil nos últimos três anos, em dinheiro vivo. Os auditores dizem que, além do dinheiro, também doaram cobertores e outros materiais.

    Fernanda Richa, em nota, disse que a denúncia contra ela é um "atentado". Diz que jamais interferiu em temas administrativos e que atua com ação social "por dever de solidariedade humana".

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