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    Distritão faria Câmara ter 'cem Tiriricas', afirma especialista

    ALEXANDRE ARAGÃO
    DE SÃO PAULO

    27/05/2015 02h00

    Tal como foi defendido pelo PMDB, o projeto de reforma política geraria um sistema eleitoral "politicamente injusto" e que enfraqueceria os partidos. A opinião é da pesquisadora do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) Argelina Cheibub Figueiredo.

    "Você consegue imaginar como os partidos vão recrutar candidatos nesse novo sistema?", questiona a professora de ciência política na Uerj e doutora pela Universidade de Chicago. "Em vez de um Tiririca na Câmara, a gente vai ter dez ou cem", afirma.

    Leia trechos da entrevista:

    *

    Folha - Qual é o problema da reforma como ela esteve posta?

    Argelina Cheibub Figueiredo - O que eu acho mais importante é a questão do distritão. É um sistema injusto politicamente, não é representativo. Um presidente representa a maioria, a Câmara tem que representar 100% dos cidadãos. Essa é a grande vantagem do voto proporcional –tem muito pouco desperdício de voto. Essa discussão, de que você vota num candidato e elege outro, é esquizofrênica.

    Por que com o distritão há votos jogados fora?

    Vamos supor o caso de São Paulo, 70 deputados. [Com o distritão], vão ser eleitos pelo voto que obtiverem na ordem [de mais votados]. Com um sistema proporcional, a soma dos votos de legenda mais os votos nominais de cada partido vai dar 100% dos eleitores, ou quase isso. De alguma forma, seja por uma pessoa em quem votou, seja pelo partido, você está representado na Câmara e influenciou o resultado da eleição.

    Com o distritão, supondo que a média [para que um candidato seja eleito] seja 100 mil votos, 70 deputados precisariam de 7 milhões de votos. Quantos eleitores há no Estado de São Paulo? Por volta de 30 milhões. O desperdício é extremamente maior.

    O distritão é fundamentalmente personalista?

    Muito. Criticam o personalismo e vão fazer um sistema que vai ser uma guerra de todos contra todos. É um sistema que torna os partidos totalmente inúteis. Além do mais, se eu me elegi com o meu voto, depois o que o partido vai contar dentro do Congresso? O partido pode ter uma linha, pedir que a sua bancada vote de determinada maneira? Não. A bancada foi eleita com votos próprios.

    Para as siglas, esse sistema incentiva alguma estratégia?

    Os partidos tenderiam a ir atrás de jogador de futebol, artistas, celebridades, porque eles têm votos garantidos. Em vez de um Tiririca na Câmara, a gente vai ter dez ou cem. Nós não sabemos qual vai ser a estratégia.

    Há como dificultar que partidos defendam teses mais interessantes para eles próprios em uma reforma política?

    A defesa de alguma instituição política por grupos políticos que precisam sobreviver, acaba dando problemas. É muito difícil, em qualquer sistema político, em qualquer legislativo do mundo, passar uma reforma política que inclua tantos itens como essa. Nenhuma outra [tentativa] chegou a ir a votação. Não pode-se exigir que grupos abram mão da sua própria sobrevivência política.

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