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    Gestores do grupo Schahin permanecem calados na CPI da Petrobras

    RUBENS VALENTE
    DE BRASÍLIA

    27/05/2015 19h00

    Protegidos por uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que lhes deu o direito de ficar em silêncio para não se incriminarem, cinco membros da família que fundou e administra o Grupo Schahin se recusaram a responder qualquer indagação feita pelos parlamentares da CPI da Petrobras em sessão na tarde desta quarta-feira (27). A sessão começou às 15h e continuava até o fechamento deste texto.

    Cinco membros da família compareceram à CPI: Milton Taufic, Salim Taufic, Rubens Taufic, Carlos Eduardo e Pedro Henrique Schahin. O primeiro a ser ouvido, Carlos Eduardo, logo no início informou aos parlamentares: "Por orientação de nossos advogados, vou permanecer em silêncio a todas as perguntas". Ao longo de 1h11min de depoimento, Carlos Eduardo repetiu a mesma resposta, com variações.

    Os empresários, que foram ouvidos na condição de testemunhas, disseram dezenas de vezes que não iriam dirimir as dúvidas dos deputados. Só um dos depoentes, Milton, repetiu cerca de 70 vezes, às perguntas do subrelator da CPI, Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), que iria permanecer em silêncio.

    No primeiro depoimento, parlamentares discutiram com os defensores dos Schahin, Eduardo Sanz de Oliveira Filho e Guilherme San Juan Araújo. Os deputados não gostaram de ver os advogados usando telefones celulares e trocando mensagens eletrônicas enquanto transcorria o depoimento. Os advogados alegaram que apenas estavam usando suas "ferramentas de trabalho" e exigiram que seus direitos de defesa fossem assegurados.

    A deputada Eliziane Gama (PPS-MA) protestou: "É um total desrespeito à CPI, parece que isso aqui não vale nada".

    Vários deputados demonstraram contrariedade com a decisão tomada pelo ministro relator no STF Celso de Mello, em um habeas corpus impetrado pelos advogados dos Schahin, segundo a qual os depoentes poderiam permanecer calados na comissão.

    "É mais ou menos uma autorização para mentir. [] Ele não tem a obrigação de dizer a verdade, e com isso a CPI não pode tomar nenhuma decisão restritiva. É uma explicação meio dúbia, mas essa é a nossa lei, temos que cumprir", disse o presidente da comissão, Hugo Motta (PMDB-PB).

    "O grupo Schahin é conhecido como grupo trapaceiro, useiro e vezeiro. Mas mesmo avocando esse direito constitucional [de ficar em silêncio], certamente a condenação não vai tardar, porque é notório, é comprovado, as provas que existem no seio dessa CPI e nas demais instituições que investigam o senhor e os demais componentes do seu grupo, são provas irrefutáveis", disse o deputado Édio Lopes (PMDB-RR) durante o depoimento de Rubens Schahin. Lopes considerou a sessão como um momento "deprimente, de frustração".

    O grupo Schahin, formado por dezenas de empresas, é capitaneado por uma construtora e um banco. O grupo foi mencionado em depoimentos prestados por delatores ao longo da Operação Lava Jato. Segundo os delatores, o grupo integrava o cartel das empreiteiras que, de acordo com as investigações, fraudou concorrências na Petrobras para venda de equipamentos e serviços de construção civil.

    O grupo Schahin também é suspeito de ter concedido um empréstimo de R$ 12 milhões ao empresário José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teria utilizado os recursos para calar outro empresário –Ronan Maria Pinto deteria informações incômodas para figuras do PT em torno da gestão do prefeito de Santo André Celso Daniel (PT), assassinado em 2002.

    Na esteira do escândalo da Lava Jato, a Petrobras anunciou a rescisão de contratos com o grupo Schahin fechados entre 2006 e 2008 no valor total de US$ 5 bilhões.

    O deputado federal Altineu Côrtes (PR-RJ) trouxe à sessão da CPI documentos que, segundo ele, revelariam a existência de 107 contas bancárias abertas no Brasil e no exterior em nome de Carlos Eduardo Schahin ou de empresas por ele controladas. Cópia da documentação não foi disponibilizada à imprensa. Segundo o parlamentar, os documentos demonstram que "mais de R$ 500 milhões" foram "depositados e movimentados usando o nome" de Carlos Eduardo. O deputado não revelou a origem desses documentos que, segundo ele, serão entregues formalmente à CPI.

    Segundo o parlamentar, dois membros da família abriram uma empresa no exterior, chamada SS Finance, que fez pagamentos ao ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco e também "transferiu propina para diversas outras figuras desse país".

    Indagados sobre a movimentação financeira e as empresas, os membros da família Schahin também não se manifestaram.

    O presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), disse que o grupo controla mais de 200 empresas abertas no Brasil e no exterior o que, para ele, "é muito estranho".

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