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    Lava Jato

    Investigadores têm novo indício que liga Cunha a requerimentos suspeitos

    RANIER BRAGON
    AGUIRRE TALENTO
    DE BRASÍLIA

    31/05/2015 02h00

    Investigadores da Operação Lava Jato vão usar como prova contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a informação de que a sua senha digital particular e a da ex-deputada Solange Almeida (PMDB-RJ) estavam ativas no momento em que foram criados dois requerimentos suspeitos de terem sido usados para achacar uma fornecedora da Petrobras.

    Os requerimentos foram redigidos em 2011, ano em que os dois eram colegas na bancada do PMDB do Rio de Janeiro, e são apontados pela Procuradoria-Geral da República como um dos principais indícios de participação de Cunha esquema de corrupção descoberto na estatal.

    Solange Almeida apresentou oficialmente os dois requerimentos à Câmara em julho de 2011. Eles pediam às autoridades informações sobre auditorias em contratos da Petrobras com a Mitsui.

    O doleiro Alberto Youssef, um dos delatores da Lava Jato, afirmou que os requerimentos foram apresentados a mando de Cunha com o objetivo de constranger um representante da empresa e fazê-lo pagar propina ao PMDB.

    Esse executivo, Julio Camargo, nega a versão de Youssef. Solange Almeida fez o mesmo às autoridades, embora declare não se lembrar do motivo pelo qual redigiu e apresentou os requerimentos.

    Quando a acusação veio à tona, Cunha disse ter relação "zero" com os papéis. Em abril, a Folha revelou quea expressão "dep. Eduardo Cunha" aparece no campo usado para identificar o autor dos arquivos em que foram redigidos os dois requerimentos.

    O deputado passou a dizer então que Solange pode ter usado seu gabinete ou algum assessor redigi-los, porque era uma suplente inexperiente recém-empossada.

    A Procuradoria conseguiu autorização do Supremo Tribunal Federal para realizar buscas no setor de informática da Câmara em maio.

    Ed Ferreira - 28.mai.2015/Folhapress
    O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (centro), durante votação no plenário da reforma política
    O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (sentado, de gravata verde), durante votação no plenário da reforma política

    Investigadores disseram à Folha que os peritos conseguiram um histórico detalhado de todas as vezes que a senha pessoal e intransferível de Cunha apareceu naquele período como "logada" no sistema digital da Câmara.

    Eles constataram que a senha do deputado e a de Solange estavam ativas no momento em que os requerimentos suspeitos foram criados.

    Na avaliação de integrantes da força-tarefa da Lava Jato, os indícios reforçam a suspeita de que os dois deputados agiram juntos. Ao mesmo tempo, a constatação de que a senha de Solange estava ativa em outro computador, no mesmo momento, enfraquece a hipótese de que teria recorrido a auxiliares de Cunha.

    Dias depois da incursão dos procuradores à Câmara, Cunha baixou norma interna que autoriza todos os deputados a delegar a assessores suas senhas, até então "intransferíveis". Cunha argumenta que, pelo excesso de atribuições, os deputados sempre fizeram isso de forma generalizada, sem qualquer tipo de controle ou regra.

    OUTRO LADO

    A assessoria do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que sempre negou relação com os requerimentos suspeitos e com esquema de corrupção na Petrobras, afirmou que o sistema digital da Câmara permite que a senha de acesso do deputado possa estar ativa em diversos computadores, ao mesmo tempo.

    "Todos os funcionários de gabinete de posse da senha de qualquer deputado podem se 'logar' de forma cumulativa e fazer trabalhos diversos ao mesmo tempo", afirmou a assessoria.

    Questionada sobre o porquê de Cunha ter repassado sua senha pessoal a assessores –já que cada um deles possui um ponto e senha próprios–, a assessoria de Cunha disse que nem todos os funcionários têm acesso às pastas e ferramentas dos parlamentares.

    "A senha de acesso de um deputado permite que ele use ferramentas que não estão disponíveis a outros."

    Basta, porém, enviar um requerimento do deputado ao setor de informática expandir acesso do funcionário.

    A Folha questionou por que o deputado Eduardo Cunha não fez isso, mas não obteve resposta até a conclusão desta edição.

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