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    Lava Jato

    Firma atribuída a Renato Duque comprou imóveis no total de R$ 12 mi

    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO

    07/06/2015 02h00

    Uma empresa do Uruguai cujo controle é atribuído ao ex-diretor da Petrobras Renato Duque comprou 11 imóveis no Rio e em São Paulo, com valor comercial de R$ 11,6 milhões, de acordo com levantamento feito pela Folha em cartórios nessas duas cidades.

    A empresa, chamada Hayley, é investigada na Operação Lava Jato sob suspeita de ter sido usada para lavagem de dinheiro desviado de contratos da Petrobras.

    Entre os imóveis que ela possui estão um apartamento avaliado em R$ 4,5 milhões em São Paulo e salas comerciais num complexo empresarial na Barra da Tijuca, no Rio, de R$ 1,5 milhão.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Duque está preso desde 16 de março sob acusação de ter transferido 18,7 milhões de euros da Suíça para Mônaco no final do ano passado, com a intenção de evitar o sequestro do montante, equivalente a R$ 66 milhões.

    As autoridades do principado bloquearam os valores por causa da suspeita de que se trata de propina –o que os advogados de Duque negam com veemência.

    Em outubro, a Folha revelou que Duque tinha um patrimônio imobiliário de R$ 12,5 milhões em seu próprio nome e no de suas empresas.

    A Polícia Federal encontrou três indícios que ligam Duque à Hayley. O delator Julio Camargo relatou ter feito depósitos de US$ 1 milhão numa conta da Hayley na Suíça para Renato Duque (antes ele dissera que a Hayley era de Fernando Soares, mas depois disse haver se enganado).

    O atestado de autenticidade de uma tela de Alfredo Volpi (1896-1988), comprada por R$ 400 mil numa casa de leilões, foi encontrado na casa de Duque e estava em nome da Hayley.

    Por fim, Duque ocupou por 11 meses um escritório no centro do Rio, sem pagar aluguel, que estava em nome da empresa uruguaia. As duas salas ficam num edifício de alto padrão e são avaliadas em R$ 840 mil. O advogado de Duque, Alexandre Lopes, diz que ele ficou sem pagar aluguel porque o imóvel precisava de reforma.

    O ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró foi condenado a cinco anos de prisão por conta de uma situação similar.

    Ele morou dois anos pagando aluguel de R$ 750 por um apartamento duplex em Ipanema, no Rio, avaliado em R$ 7,5 milhões e que depois foi alugado por R$ 18 mil mensais. A proprietária formal do apartamento também era uma empresa uruguaia.

    O juiz Sergio Moro considerou na sentença que o apartamento havia sido comprado por meio de uma operação de lavagem de dinheiro, com recursos de propina.

    O Uruguai é escolhido como sede de empresas como a Hayley porque sua legislação dificulta saber quem é o verdadeiro dono do negócio e de onde vêm os seus recursos.

    Representante da Hayley no Brasil, o engenheiro João Antonio Bernardi é um velho conhecido no mercado de óleo e gás. Foi até 2002 diretor-geral da Odebrecht Perfurações, onde ficou por 25 anos, e hoje assessora a presidência do grupo italiano Saipem, cujos contratos com a Petrobras somam mais de R$ 1 bilhão.

    Em abril de 2011, quando Duque ainda era diretor de Serviços da Petrobras, cargo que ocupou de 2003 a 2012, a Saipem assinou contratos com a Petrobras para fazer dois gasodutos submarinos na bacia de Santos, o Guará-Lula e o Lula NE, obras que custaram R$ 437,5 milhões.

    Bernardi e Duque trataram desses dois contratos, segundo dois ex-funcionários da Petrobras ouvidos pela Folha. Bernardi nega essa versão. Duque disse por meio de seu advogado não se lembrar se recebeu-o na estatal.

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