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    Contadora de petista diz que registrou R$ 36 mi para pagamento de R$ 725

    JOSÉ MARQUES
    DE BELO HORIZONTE

    11/06/2015 16h17

    Sete meses após ter registrado o pagamento de R$ 36 milhões feito por uma candidata a deputada estadual do PT mineiro a uma gráfica investigada pela Polícia Federal, a contadora da campanha disse que cometeu um "erro de cálculo" e que o valor a ser registrado, na realidade, era de R$ 725.

    Filiada ao DEM, Rosilene Alves Marcelino é dona de uma empresa de contabilidade em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, e teve serviço contratado pela petista Helena Ventura no fim da eleição. A contadora diz só ter descoberto o valor milionário nesta quarta-feira (10), quando Helena esteve em sua casa acompanhada da advogada.

    "Eu nunca fiz prestação de contas pra alguém do PT, nem gosto do PT, mas o erro não foi por isso", afirma Rosilene. "Só sou filiada a um partido para não ser mesária, porque fui uma vez e não quero nunca mais."

    No ano passado, diz ela, Helena chegou "apavorada" à contabilidade, uma hora antes de encerrar o prazo para a prestação de contas, e a pressa teria provocado o erro.

    Segundo Rosilene, a doação foi feita para bancar os 50 mil santinhos da campanha da candidata, que teriam custado R$ 725. O preço unitário seria R$ 0,015, mas, em vez de ser dividido, o valor foi multiplicado.

    A retificação foi encaminhada à Justiça Eleitoral, que havia notificado Helena a esclarecer as contas. A contadora também registrou em cartório uma declaração em que diz ter errado.

    A doação de Helena Ventura foi divulgada após o empresário Benedito de Oliveira Neto, o Bené, ter sido preso pela Operação Acrônimo da Polícia Federal.

    Duas empresas controladas pelo empresário, que tem relações com o PT, receberam R$ 525 milhões de órgãos do governo federal entre 2005 e 2015. A PF investiga suspeitas de lavagem de dinheiro e associação criminosa.

    Ele foi preso na Operação Acrônimo da Polícia Federal no dia 29, com mais três pessoas, e solto após pagamento de R$ 188 mil em fiança.

    A então candidata disse ter pago o valor à Gráfica e Editora Brasil Ltda., empresa de Bené, por "publicidade por material impresso".

    INDEFERIDA

    Helena tem 61 anos, é enfermeira, e declarou ter um patrimônio de R$ 290 mil. Ela disse à Justiça Eleitoral que seu gasto máximo para se eleger seria de R$ 3 milhões. Os votos da petista não foram contabilizados porque sua candidatura foi indeferida.

    A candidata diz que não sabia que na prestação de contas de sua campanha havia uma declaração de pagamento de R$ 36 milhões à gráfica do empresário Benedito Oliveira e que "nunca ouviu falar" de Bené.

    A quantia corresponde a praticamente todos os gastos em campanha feitos pela candidata, que diz ter pago apenas cerca de R$ 5.000 para outros serviços de campanha.

    De acordo com o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de Minas Gerais, Helena teve a candidatura indeferida pela primeira vez no dia 31 de julho do ano passado e recorreu ao órgão superior. Durante o período, ela podia tocar a campanha normalmente, recebendo doações e fazendo pagamentos, até a decisão final do órgão superior -que veio apenas em 4 de março deste ano.

    O PT mineiro disse que transferiu a ela, nesse período, cerca de R$ 16 mil por meio do comitê financeiro único.

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