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    Lava Jato

    Marcelo Odebrecht vinha pedindo que funcionários defendessem a empresa

    DAVID FRIEDLANDER
    RAQUEL LANDIM
    DE SÃO PAULO

    20/06/2015 02h00

    Divulgação
    O fundador do grupo, Norberto Odebrecht, já falecido, entre o filho Emílio (à direita) e o neto Marcelo
    O fundador do grupo, Norberto Odebrecht, já falecido, entre o filho Emílio (à direita) e o neto Marcelo

    Preso na manhã desta sexta-feira (19) em sua casa, o empresário Marcelo Odebrecht, 46, vinha pedindo nos últimos tempos a seus principais executivos que saíssem da defensiva e rebatessem as acusações de que o grupo tinha pago propina para conseguir obras na Petrobras.

    Um dos empresários mais poderosos do país, Odebrecht chegou a enviar uma carta a seus milhares de funcionários com o mesmo pedido.

    Dizia que o fato de nenhum executivo do grupo ter sido preso até então, ao contrário do que ocorrera com outras grandes empreiteiras, depunha a favor da companhia.

    Odebrecht achava que, por ser a maior do país, sua empreiteira era vista como uma espécie de troféu pelos investigadores da Lava Jato. Segundo pessoas próximas, pensava que a possibilidade de ser preso era remota, embora outros executivos do grupo não mostrassem tanta certeza.

    Esse sentimento foi reforçado depois que o STF (Supremo Tribunal Federal) mandou soltar, em abril, empreiteiros presos desde o ano passado. Ele e alguns diretores achavam que dificilmente o juiz Sérgio Moro iria autorizar novas prisões.

    De todas as companhias envolvidas na Operação Lava Jato, a Odebrecht é a de maior poder econômico e influência política. Sua construtora é a maior do país, e a petroquímica Braskem é líder do setor na América Latina.

    Na política, está entre os principais financiadores de campanhas e seus controladores são próximos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Depois de deixar o governo, o ex-presidente fez viagens ao exterior bancadas pela Odebrecht.

    DE BEM COM DILMA

    Casado e pai de três filhas, Odebrecht é uma pessoa de opiniões fortes e fama de briguento. Os concorrentes dizem que é bem mais agressivo nos negócios do que o pai Emílio. Ele assumiu um dos maiores grupos empresariais do país, fundado pelo avô Norberto, no começo de 2009.

    A personalidade forte lhe custou a antipatia da presidente Dilma Rousseff, que achava Marcelo arrogante desde seus tempos de ministra da Casa Civil.

    A opinião mudou depois de uma viagem a Cuba, em que a presidente ficou bem impressionada com a relação próxima dele com os irmãos Fidel e Raul Castro.

    Por causa da fama de pavio curto, Odebrecht também enfrentou a desconfiança dos funcionários mais antigos quando assumiu a empresa.

    Essa postura mudou depois que ele assumiu o papel de principal porta-voz da defesa da companhia, a ponto de assinar um anúncio nos maiores jornais do país, em que reafirmava a inocência da empresa.

    No ano passado, em entrevista à Folha, Odebrecht afirmou que é obrigação dos empresários tentar influenciar as decisões do governo.

    "Não faria nenhum pedido que não pudesse ser feito de maneira transparente. Que mais tarde pudesse me deixar mal com meus filhos", afirmou, na ocasião.

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