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    Lava Jato

    Diretor preso na Lava Jato se demite da Odebrecht

    GRACILIANO ROCHA
    DE SÃO PAULO

    23/06/2015 12h28

    Pouco depois de depor à Polícia Federal em Curitiba, na noite desta segunda-feira (22), o executivo Alexandrino de Salles Ramos de Alencar oficializou seu pedido de demissão da Odebrecht para "se dedicar integralmente à defesa".

    Preso na fase Erga Omnes da Operação Lava Jato na última sexta (19), Alexandrino era diretor de relações institucionais da Odebrecht e um dos elos entre a construtora e doações para campanhas eleitorais.

    Habilidoso com políticos, ele foi o executivo da Odebrecht que acompanhou o ex-presidente Lula em viagens ao exterior.

    Em viagem à Guiné Equatorial em 2011 como representante do governo Dilma, Lula colocou Alexandrino entre os integrantes de sua delegação oficial, conforme a Folha revelou em 2013.

    Lula e Alexandrino são conhecidos de longa data: no livro "Mais Louco do Bando", o deputado Andrés Sanchez (PT-SP), ex-presidente do Corinthians, relata uma viagem em 2009 que o funcionário da Odebrecht fez a Brasília com Emílio Odebrecht, então presidente do conselho de administração da empresa. Na época, Lula pediu ajuda à Odebrecht para o Corinthians construir seu estádio.

    "Em virtude dos fatos envolvendo a minha pessoa e vindos a público na sexta-feira (19.06.2015), comunico meu afastamento e meu desligamento da empresa, a fim de que me possa me dedicar integralmente à minha defesa no procedimento no qual figuro como investigado", escreveu Alexandrino, no comunicado endereçado à diretoria da empreiteira.

    Após o término do depoimento de Alexandrino, o advogado Augusto de Arruda Botelho protocolou uma petição junto à 13ª Vara da Justiça Federal do Paraná com o pedido de demissão anexado. Segundo a defesa, o fim do vínculo de Alexandrino com a Odebrecht afastaria o "risco à ordem pública" que poderia embasar a prorrogação da sua prisão temporária.

    "Para fulminar em definitivo qualquer receio de risco à ordem pública, o peticionário informa que afastou-se e desligou-se em definitivo de suas funções na Construtora Norberto Odebrecht S/A", diz trecho da petição protocolada nesta segunda.

    Botelho afirma que o agora ex-executivo tampouco oferece risco de fuga –"mesmo sabendo-se investigado há vários meses, ele foi localizado em seu endereço residencial"– nem de destruição de provas, outros requisitos para embasar a prorrogação da prisão.

    PRISÃO

    Alexandrino Alencar foi preso na mesma ação que deteve os presidentes Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, além de outros executivos ligados às duas empreiteiras, as maiores do país.

    O juiz Sergio Moro recusou duas vezes pedidos da Polícia Federal pela prisão preventiva do executivo, concedendo somente a temporária (detenção com prazo de cinco dias).

    O delegado Eduardo Mauat da Silva baseou o segundo requerimento no fato do então diretor da Odebrecht ter admitido em depoimento que recebeu em escritório da empresa um dos emissários de Alberto Youssef, Rafael Angulo Lopez, e que se reuniu com o doleiro, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e o ex-deputado José Janene (PP-PR), morto em 2010, acusados de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras.

    O executivo negou, porém, que os encontros tiveram relação com pagamentos de propina ou outros crimes.

    Em um de seus depoimentos de delação premiada, Lopez afirmou que esteve várias vezes no escritório da Odebrecht em São Paulo entre 2010 e 2012 para se reunir com Alexandrino e entregar a ele informações de contas para transferências ao exterior, além de retirar comprovantes de repasses fora do Brasil.

    No depoimento de maio passado, informado pelo site do jornal "O Estado de S. Paulo" nesta segunda-feira (22), o executivo apresentou outra versão para os contatos com o mensageiro de Youssef.

    Alexandrino disse que se encontrou com Lopez por quatro ou cinco vezes e que tais reuniões serviram para que o emissário entregasse ou buscasse papéis relacionados a doações de campanha para o PP (Partido Progressista), como recibos de contribuições e pedidos de doações manuscritos por Janene.

    Quanto aos contatos com Janene, Youssef e Costa, Alexandrino relatou que a partir de 2003 passou a procurar o então congressista para falar da importância das indústrias do setor plástico para o país, uma vez que era executivo da Braskem e Janene ocupava o cargo de presidente da comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados.

    Alexandrino afirmou que nas duas reuniões sobre o assunto, ocorridas em hotéis da cidade de São Paulo, Janene nunca condicionou o apoio ao setor plástico a doações eleitorais ou propinas.

    Posteriormente, em 2007, ocupava cargo na Odebrecht e passou a ter contatos com Janene "para fazer tratativas no âmbito político" e falar sobre doações de campanha para políticos do PP, de acordo com o depoimento.
    O executivo negou que qualquer das tratativas envolveu contribuições eleitorais ilegais ou subornos.

    Alvos da 14ª fase da Lava Jato/Editoria de Poder

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