• Poder

    Friday, 03-May-2024 17:52:31 -03

    Lava Jato

    Parceiro de Zelada, consultor Felippe Jr. também tem bens bloqueados

    FLÁVIO FERREIRA
    ENVIADO A CURITIBA
    GABRIEL MASCARENHAS
    DE BRASÍLIA

    02/07/2015 12h55

    O juiz federal Sergio Moro, que decretou a prisão do ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada, também determinou o bloqueio de bens do ex-executivo e de um parceiro dele, o consultor Raul Schmidt Felippe Júnior.

    Ambos mantêm negócios juntos; integram a diretoria da TVP Solar, empresa de energia solar que tem escritórios na Suíça e no Brasil. A sede do braço brasileiro da companhia foi alvo de buscas da PF nesta quinta.

    Zelada foi preso nesta quinta-feira (2) durante a 15ª fase da Operação Lava Jato, suspeito de corrupção, fraude, desvio de verbas públicas e crimes fiscais, por ter movimentado dinheiro de contas no exterior para Mônaco mesmo após a deflagração das investigações sobre corrupção na Petrobras.

    Contra ele Moro determinou o bloqueio de até R$ 20 milhões. Felippe Jr. teve bloqueados R$ 7 milhões. Uma empresa de Zelada, a Z3 Consultoria em Energia Ltda., também teve seus ativos atingidos pela decisão, mas sem limite de valores.

    Ex-funcionário da Petrobras, o consultor fez carreira na área internacional da estatal. Entre 1994 e 1997, foi gerente da Braspetro em Angola, antes de ir para a iniciativa privada. Desde 2007, atua na intermediação de negócios de fornecedores da Petrobras. Ele vive em Londres, mas tem imóveis e empresas no Rio, em Genebra e Paris.

    De acordo com o Ministério Público de Mônaco, um executivo do banco Julius Baer informou que Zelada e Schmidt são "amigos de longa data" e foram proprietários de um apartamento entre 2012 e 2013. O ex-diretor teria comprado a parte do consultor no imóvel. No mesmo período, extratos mostram que Zelada transferiu 809 mil euros (R$ 2,8 milhões) para Schmidt.

    Segundo Moro, Felippe Jr. passou a ser suspeito de participação na lavagem de dinheiro em favor de Zelada e do ex-diretor de serviços da Petrobras Renato Duque —por isso também foi alvo do congelamento de bens.

    INTERMEDIÁRIO

    Documentos remetidos pelas autoridades de Mônaco ao Brasil apontam indícios de que Felippe Jr. atuou como intermediário de uma complexa operação financeira que resultou num depósito de US$ 2 milhões (R$ 6,3 milhões) para Renato Duque no principado.

    A origem do dinheiro foi a Samsung, beneficiada por um contrato que, segundo auditoria da Petrobras, teve sobrepreço de R$ 118 milhões.

    Em fevereiro deste ano, o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco e delator na Lava Jato afirmou que Zelada também era beneficiário do esquema.

    Na época, o procurador Deltan Dallagnol pediu à Justiça de Mônaco uma apuração sobre possíveis contas de Zelada e Duque no principado. A investigação resultou no bloqueio de uma conta em nome da offshore Rockfield International, onde estavam os 10,8 milhões de euros (R$ 32,8 milhões) atribuídos a Zelada, no banco Julius Baer. De Duque foram congelados 18,7 milhões de euros no mesmo banco.

    Assim como procedeu no caso de Duque, foi Felippe Jr. quem apresentou Zelada a um executivo do Julius Baer para abertura da conta, em fevereiro de 2011, quando ele ainda ocupava a diretoria Internacional da Petrobras.

    No dossiê do banco, constam cópias do passaporte de Zelada e de uma conta de luz de seu apartamento no Rio, além da assinatura dele em vários documentos para abertura da Rockfield e para movimentação do seu dinheiro.

    OUTRO LADO

    O ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada disse em e-mail encaminhado à Folha por seu advogado, Eduardo de Moraes, que não é sócio do consultor de petróleo Raul Schmidt Felippe Júnior na TVP Solar SA, empresa baseada em Genebra. O executivo afirmou que apenas faz parte do conselho da empresa.

    Zelada ainda negou ter imóvel em sociedade com Schmidt ou possuir contas em Mônaco, como afirmam as autoridades do principado. Ele voltou a classificar como "inverídicas" as declarações do ex-gerente Pedro Barusco, que o acusa de ter recebido suborno na estatal.

    Outro citado nos documentos enviados pelo Ministério Público de Mônaco às autoridades brasileiras, o ex-diretor de Engenharia e Serviços da Petrobras Renato Duque também nega ser dono de contas em Mônaco.

    Leonardo Muniz, advogado de Felippe Jr., afirmou que seu cliente não trabalha no setor petrolífero desde 2007, e que hoje atua no conselho da TVP Solar —onde, segundo Muniz, tem a única relação comercial com Zelada— e em avaliações de participação em start-ups de tecnologia e na comercialização e exposições de mobiliário de design brasileiro moderno e contemporâneo na Europa.

    O advogado nega que o consultor tenha apresentado Zelada e Duque ao banco ao banco Julius Baer e afirma que todas as transações financeiras de Felippe Jr. respeitam as legislações dos países onde são realizadas e que todas as atividades dele são regulares e legais.

    "Cabe acrescentar: o sr. Raul não intermediou nenhum pagamento ao sr. Renato Duque e não tem nem nunca teve apartamento em conjunto com o sr. Jorge Zelada", afirmou.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024