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    Costa volta a citar aliado de Renan em depoimento

    RUBENS VALENTE
    DE BRASÍLIA

    05/07/2015 02h00

    Ouvido no inquérito que investiga se houve envolvimento de Renan Calheiros (PMDB-AL) em irregularidades apuradas pela Operação Lava Jato, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa reforçou as suspeitas sobre o presidente do Senado.

    Costa, um dos principais delatores do esquema de corrupção na estatal, reafirmou que foi procurado pelo deputado federal Aníbal Gomes (PMDB-CE). Segundo o ex-diretor, Gomes dizia "falar em nome" de Renan ao lhe pedir favores na estatal.

    O depoimento foi prestado no dia 8 do mês passado à Polícia Federal no inquérito que trata de Renan no STF (Supremo Tribunal Federal), aberto pelo ministro Teori Zavascki a pedido da Procuradoria-Geral da República.

    Costa voltou a dizer que Aníbal Gomes lhe ofereceu R$ 800 mil "em caso de resolução favorável" em uma disputa judicial que colocava em campos opostos a Petrobras e duas empresas de prestação de serviços de praticagem na Baixada Santista.

    Práticos são as pessoas responsáveis por ajudar os navios a atracarem nos portos. A demanda entre práticos e Petrobras girava, em 2007, em torno de R$ 60 milhões.

    Costa afirmou à PF que Aníbal "reiteradas vezes" lhe relatou que falava em nome de Renan. O ex-diretor disse que confiou na palavra do deputado porque Aníbal costumava aparecer nas reuniões de que participou na casa do presidente do Senado, em Brasília.

    Segundo Costa, o acordo entre práticos e Petrobras foi concretizado, mas Aníbal nunca lhe pagou os prometidos R$ 800 mil. Alegou que seu papel se resumiu a encaminhar Aníbal "ao setor técnico", com negociação conduzida "no âmbito da Gerência Executiva e Logística".

    Em 26 de agosto de 2008, práticos e Petrobras assinaram um acordo de transação extrajudicial, pelo qual a estatal se comprometeu a transferir R$ 61,9 milhões para o escritório de advocacia que atuava na Justiça do Rio pelos práticos, o Ferreira Ornellas Advogados.

    TRANSFERÊNCIA

    A investigação da PF descobriu que o escritório Ornellas transferiu R$ 6 milhões, em setembro de 2008, para um advogado de Brasília que atuou na causa dos práticos, Paulo Roberto Baeta Neves.

    Daí em diante, porém, a PF ainda não sabe o caminho do dinheiro nem se houve benefício final a Aníbal ou Renan.

    A próxima etapa da investigação será a análise da quebra do sigilo bancário de Baeta Neves, já ordenada.

    O pagamento ao advogado foi depositado em uma conta bancária pertencente ao escritório do seu ex-sócio, Eduardo Ferrão.

    Em depoimento à PF, Ferrão, que também é advogado, explicou que o depósito realizado pelo escritório Ornellas ocorreu sem o seu conhecimento. Ferrão afirmou ainda que, no dia seguinte, ordenou a transferência do dinheiro para uma conta pessoal de Baeta Neves, após o recolhimento de R$ 500 mil em impostos.

    A PF chegou a marcar um depoimento de Baeta Neves, mas ele foi adiado porque o advogado alegou possuir "uma saúde absolutamente frágil", aos 77 anos, sendo "dependente de hemodiálise, cardiopata e com dificuldades para se locomover".

    O advogado pediu para ter seu depoimento cancelado ou, se isso não fosse possível, que fosse ouvido em seu apartamento. Já adiantou que não pretende dizer nada.

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