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    Empresários temem ambiguidade do PMDB

    ANDRÉIA SADI
    VALDO CRUZ
    DE BRASÍLIA

    05/07/2015 02h00

    Enquanto alguns dos líderes do PMDB trabalham para ampliar o desgaste do Palácio do Planalto, empresários têm procurado o partido para discutir saídas para a crise política e econômica.

    Em encontros reservados, pesos pesados da economia têm exposto aos peemedebistas a avaliação de que, se a economia afundar ainda mais, o setor privado irá junto e o país corre o risco de enfrentar graves tensões sociais.

    Segundo um empresário ouvido pela Folha, o vice-presidente Michel Temer, que é do PMDB e ameaçou deixar a articulação política do governo na semana passada, virou figura central do processo.

    O empresariado não quer nem ouvir falar em sua saída da nova função, porque acham que isso representaria um agravamento da crise, com desfecho imprevisível.

    O problema é que Temer hoje rema para um lado, enquanto dois peemedebistas tão ou mais fortes do que ele, os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e do Senado, Renan Calheiros (AL), navegam na direção oposta.

    A poucos metros da residência oficial de Cunha, quatro senadores têm se reunido há meses para discutir a crise. Além de Renan, participam do grupo Romero Jucá (RR), Eunício Oliveira (CE) e o ex- presidente José Sarney (AP).

    O diagnóstico feito reservadamente é que o governo está no chão, sem capacidade de se levantar, e eles não têm condições de ajudar o Palácio do Planalto a superar a crise.

    Na última quarta (1º), Renan deu uma demonstração pública do que é tratado nos bastidores: horas após ouvir um apelo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ajudar a presidente Dilma Rousseff no Congresso, o Senado aprovou o reajuste dos salários do Judiciário, que ameaça as contas do governo.

    Renan sabia que Dilma vetaria o projeto, mas não quis perder a oportunidade de provocar desgaste do governo. Renan e Eduardo Cunha são chamados no Palácio do Planalto de "maestros do caos". Desde março, jogam ora juntos, ora separados. Mas sempre contra o governo.

    Em uma coisa, pelo menos, o Planalto e os dois concordam: a relação se rompeu depois que os peemedebistas foram incluídos na lista de políticos investigados pela Operação Lava Jato sob suspeita de envolvimento com a corrupção na Petrobras. Os dois acreditam que o governo estimulou o procurador-geral Rodrigo Janot a inclui-los na lista, hipótese que o governo e o procurador refutam.

    Nas últimas semanas, Temer, Cunha, Jucá e outros peemedebistas passaram a ser procurados por empresários que querem saber a possibilidade de um impeachment. Outros querem discutir saídas para a crise, do parlamentarismo à posse de Michel Temer.

    Os peemedebistas dizem que não apoiam o impeachment da presidente. Mas reconhecem que a rejeição ao governo contamina o ambiente político e econômico.

    "O governo precisa tomar cuidado para não entrar no cheque especial de popularidade'', ironiza Eduardo Cunha, que tem poder para dar andamento a qualquer pedido de impeachment que venha a ser levado à Câmara.

    As chances de o PT e o PMDB voltarem a trabalhar na mesma frequência são praticamente nulas. A avaliação da cúpula do PMDB é que atender ao pedido de Lula para ajudar Dilma politicamente serviria, no fundo, para que os petistas recuperem o seu poder. O que figura como último item na lista de prioridades do PMDB.

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