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    'Discurso golpista é do PT', reage Aécio Neves após entrevista de Dilma

    FLÁVIA FOREQUE
    MARIANA HAUBERT
    DE BRASÍLIA

    07/07/2015 12h06

    A oposição reagiu, nesta terça-feira (7), à declaração da presidente Dilma Rousseff de que não "pegou um tostão" de dinheiro sujo e que não teme o debate sobre sua saída antecipada da Presidência da República.

    Os parlamentares classificaram as declarações da presidente à Folha como uma demonstração de "prepotência" e de "postura imperial". Em entrevista publicada na Folha nesta terça, Dilma diz não ter medo de sofrer impeachment.

    Em nota, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), argumentou que o PT adota esse discurso para "inibir" a atuação de instituições –TCU (Tribunal de Contas da União) e TSE (Tribunal Superior Eleitoral) analisam contas do governo e da campanha petista que, na visão de opositores, pode resultar no fim antecipado do mandato de Dilma.

    "Na verdade o discurso golpista é o do PT, que não reconhece os instrumentos de fiscalização e de representação da sociedade em uma democracia", afirma a nota.

    "Para o PT, se o TSE investiga ilegalidades na prestação de contas das campanhas eleitorais da presidente da República, trata-se de golpe. Tudo que contraria o PT, e os interesses do PT, é golpe!", ironizou o tucano.

    Em entrevista a jornalistas, o senador criticou o que considera "desequilíbrio" da presidente Dilma ao ter desafiado a oposição a tentar encerrar seu mandato antes do prazo previsto. "Não tem base para eu cair, e venha tentar", disse a presidente em entrevista à Folha.

    "É algo que da minha parte gera até uma certa consternação, ao ver tamanho desequilíbrio da Presidente da República. Somos um país democrático, com instituições sólidas e o papel da oposição é defender essas instituições."

    Ele afirmou ainda que não deseja nenhum "desfecho traumático" para o atual governo e alegou que a oposição quer que esse processo "ocorra pela via constitucional".

    "Lamentavelmente o que eu vejo é uma presidente cada vez mais fragilizada. Deixo aqui para ela uma sugestão: se ocupe cada vez menos da oposição e se preocupe mais com seus aliados", concluiu.

    O senador disse que o discurso de petistas tem como objetivo "constranger e inibir instituições legítimas". "Os partidos de oposição continuarão atentos e trabalhando para impedir as reiteradas tentativas do PT para constranger e inibir a autonomia e independência das instituições brasileiras", concluiu.

    'JOGO ESPÚRIO'

    Na Câmara, deputados da oposição também criticaram a postura da presidente. Para o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), a fala de Dilma mostra que ela aceita o "jogo espúrio da troca de cargos, da compra de favores".

    Segundo ele, a presidente desconsiderou a importância institucional dos órgãos de controle ao dizer "eu não vou cair".

    "Mais do que uma prepotência, isso é uma desconsideração para com os órgãos de controle do país. Quem pode rejeitar as contas dela é o TCU. Quando ela diz isso, ela passa por cima de um órgão fiscalizador. Ela desconsidera que isso independe da sua vontade", disse.

    O líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE), afirma que Dilma deveria abandonar o "discurso de bravata" e "serenar os ânimos". Líder da legenda no Senado, Ronaldo Caiado (GO) argumenta que Dilma está "escrevendo o script" de quem está deixando o poder. "É o discurso do 'eu me garanto', 'não me intimidam', 'estou acostumada com isso'", disse ele.

    Caiado negou atitude golpista de partidos da oposição e ponderou que "as regras estão sendo seguidas à risca", em referência aos questionamentos sobre as pedaladas fiscais, em análise pelo TCU (Tribunal de Contas da União) e sobre suposto crime na campanha que reelegeu a presidente, em estudo pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

    "Ela é imune a tudo? É uma postura imperial, não é uma postura republicana", afirmou.

    BRIGA

    No auge da pior crise de seus quatro anos e meio de governo, Dilma desafiou, na entrevista à Folha, os que defendem sua saída prematura do Palácio do Planalto a tentar tirá-la da cadeira e a provar que ela algum dia "pegou um tostão" de dinheiro sujo.

    "Eu não vou cair. Eu não vou, eu não vou. Isso aí é moleza, é luta política".

    Apesar do cerco político que parece se fechar a cada dia, Dilma chamou os opositores para a briga. "Não tem base para eu cair, e venha tentar. Se tem uma coisa que não tenho medo é disso".

    Com dedo indicador direito erguido, foi mais enfática: "Não me atemorizam".

    Afirmou, ainda, que o governo prepara novas medidas para ampliar o ajuste fiscal –mas não quis detalhar quais– e admitiu que cometeu erros no primeiro mandato, mas disse que as "pedaladas" fiscais foram adotadas antes do PT entrar no governo.

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