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    Ex-diretor reafirma proibição à divulgação de dados na eleição

    ANDRÉIA SADI
    GABRIEL MASCARENHAS
    DE BRASÍLIA

    09/07/2015 02h00

    O ex-diretor do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Herton Araújo contou à Justiça Eleitoral que foi impedido de divulgar, durante a campanha de 2014, dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) 2013 que mostravam aumento da extrema pobreza no Brasil.

    O depoimento foi tomado em 27 de maio e faz parte de uma ação movida no final do ano passado pelo PSDB contra Dilma Rousseff e Michel Temer no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A ação pede a cassação da chapa encabeçada pela petista por abuso de poder econômico e político.

    O Ipea é vinculado à SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência).

    No depoimento, a que a Folha teve acesso, Araújo disse que os dados mostravam que a ''pobreza tinha aumentado de 3, alguma coisa para 4, alguma coisa''.

    Ele afirmou ter entrado em contato com o então presidente do Ipea, Serguei Soares: "Olha, esse aumento é marginal, e a gente tem que falar isso para a população''. Segundo Araújo, a divulgação da Pnad era praxe. "Aí eu recebi a notícia de que eu não podia falar com a imprensa por causa da lei eleitoral."

    Mais adiante, Araújo conta ter recebido um e-mail de ''um diretor'' com os dizeres: "'É, Herton, acho que nesse período de eleição', ele até brincou assim, 'o que é terra vira mar e o que é mar vira terra. Eu estou com um monte de produto aqui que eu estou querendo divulgar e foi pedido para a gente divulgar só depois das eleições'."

    O ex-diretor do Ipea foi interrogado se o assunto foi levado a outras esferas do Poder Executivo, como ministros. Ele disse que, quando entregou sua carta de demissão, o então ministro Marcelo Neri o procurou para tentar reverter a sua decisão.

    "[Neri] Sabia que tinha aumentado (...), aí quando o dado foi ruim, ele recuou. Na minha opinião. Como estava aquele contra-ataque na política, a política influenciou muito. Acho que as pessoas ficaram com medo'', disse.

    OUTRO LADO

    O ex-presidente do Ipea Serguei Soares informou que a decisão de não divulgar o estudo foi tomada pela diretoria colegiada, por unanimidade, antes de o instituto ter acesso aos dados. E que apenas trabalhos com periodicidade regular foram publicados, entre eles uma Carta de Conjuntura com dados negativos da economia brasileira.

    "Herton jamais [pode] dizer que foi para beneficiar quem quer que seja."

    O Ipea diz que a decisão da diretoria ocorreu a partir de orientações enviadas pela Controladoria-Geral da União. O órgão, porém, não enviou a ata da reunião em que o tema foi deliberado, conforme a Folha solicitou, nem informou se o procedimento ocorreu em outros anos eleitorais. Marcelo Neri não respondeu à reportagem.

    Editoria de Arte/Folhapress

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