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    Lava Jato

    E-mails mostram acesso privilegiado e influência da Odebrecht na Petrobras

    DE SÃO PAULO

    10/07/2015 17h32

    E-mails obtidos pelos investigadores da Operação Lava Jato indicam que executivos da empreiteira Odebrecht tiveram acesso a informações confidenciais da Petrobras e influenciaram decisão da estatal de petróleo, segundo relatório da Polícia Federal detalhado pelo jornal "O Globo" nesta sexta-feira (10).

    Segundo análise da PF, o e-mail escrito em junho de 2007 pelo então executivo da Odebrecht Rogério Araújo para outros diretores da companhia mostra que ele teve acesso ao orçamento da obra de terraplanagem da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que era sigiloso à época da licitação da Petrobras.

    Na mensagem eletrônica, Araújo afirma: "O orçamento interno do cliente está na faixa de 150 a 180 M Reais [milhões de reais], o que obviamente não dá".

    Araújo relata, no e-mail, que falou com "interlocutores" para apontar que o preço de mercado para esse tipo de obra era de o dobro do previsto pela estatal, e que "Engenharia" estaria trabalhando na revisão do orçamento.

    O executivo adiantou que o valor seria aumentado, como a Odebrecht desejava. "A revisão do orçamento vai indicar um novo número, acima dos indicados", escreveu.

    Segundo representação à Justiça feita pelo delegado Eduardo Mauat, a meta de Araújo foi alcançada, já que o contrato de terraplanagem foi fechado por R$ 429 milhões com um consórcio integrado pela Odebrecht.

    PROVA

    O e-mail foi usado pela PF como uma das provas para pedir à Justiça as prisões de executivos da Odebrecht, no último dia 19.

    Mauat apontou ainda que, na data do envio do e-mail, Araújo teve uma reunião com Paulo Roberto Costa, que à época ocupava o cargo de diretor de Abastecimento da Petrobras, conforme agenda de Costa obtida pela PF.

    O delegado relatou que o encontro ocorreu às 11h e que Araújo enviou a mensagem aos colegas de empresa após as 15h, e concluiu que o aumento no valor do orçamento foi negociado com Costa.

    O ex-diretor da estatal é um dos delatores da Lava Jato que apontou a Odebrecht como uma das empresas do esquema de corrupção.

    Segundo Mauat, a expressão "Engenharia" empregada por Araújo no e-mail refere-se à gerência executiva de Engenharia da Petrobras, à época ocupada por Pedro Barusco. O delegado lembrou que, em delação, Barusco afirmou ter repassado a Araújo informações confidenciais sobre licitações da estatal.

    Cerca de um mês depois do e-mail sobre o orçamento, Araújo enviou mensagem a executivos da Odebrecht para informar que era preciso mobilizar equipamentos para fazer parte do "teatro" de lançamento da obra, que contaria com a presença do então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.

    OUTRO LADO

    A empreiteira Odebrecht negou que seus executivos tenham obtido informações confidenciais da Petrobras e influenciado decisão da petrolífera sobre orçamento da refinaria Abreu e Lima.

    Em nota, a Odebrecht afirma lamentar "que e-mails em poder da Polícia Federal desde novembro venham a público fora de contexto, prejudicando o exercício do contraditório".

    A companhia relata que mantém contratos com a Petrobras há muitos anos e "este relacionamento ocorre rigorosamente dentro da lei, com ética e transparência".

    "Todos os contratos de prestação de serviços conquistados com a Petrobras ocorreram de acordo com a legislação", completa a nota.

    A defesa do executivo Rogério Araújo, que se desligou da Odebrecht após ser preso, no dia 19, informou que só vai se manifestar em petição à Justiça na próxima semana.

    A Petrobras informou que a Odebrecht está impedida de participar de novas contratações da estatal desde dezembro e que os contratos com a empreiteira estão passando por auditorias internas.

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