• Poder

    Thursday, 02-May-2024 21:24:47 -03

    Lava Jato

    Delegado da PF relata pressão de colegas em investigação no Paraná

    AGUIRRE TALENTO
    DE BRASÍLIA

    12/07/2015 02h00

    Um delegado da Polícia Federal que foi a Curitiba apurar vazamentos da Operação Lava Jato relatou ter sofrido pressão dos colegas do Paraná no trabalho e recomendou que a sindicância sobre a escuta na cela do doleiro Alberto Youssef fosse refeita.

    O relato está em um despacho interno do delegado Mário Fanton de maio deste ano, no qual ele afirma ter presenciado "uma participação direta do DPF [delegado de Polícia Federal] Igor [Romário de Paula]" e de outra delegada "para quererem ter ciência e manipular as provas".

    O caso da escuta na cela de Youssef voltou aos holofotes depois que dois policiais federais disseram à CPI da Petrobras, no último dia 2, que o equipamento foi instalado sem autorização judicial e captou conversas do doleiro.

    As declarações contrariaram sindicância interna da PF do ano passado, que apontou que a escuta era inativa.

    Depois disso, a CPI aprovou a convocação dos delegados da Lava Jato, incluindo Igor, para esclarecimentos. O caso é objeto de nova investigação interna da PF, conduzida por Brasília.

    Félix R. /Futura Press/Folhapress
    O doleiro Alberto Youssef, ao deixar a sede da Polícia Federal, em Curitiba, para depor à Justiça
    O doleiro Alberto Youssef, ao deixar a sede da Polícia Federal, em Curitiba, para depor à Justiça

    DESCONFIANÇA

    Fanton foi a Curitiba depois que a sindicância interna havia terminado. Esse não era o foco inicial de sua missão, mas ele também apurou fatos relacionados à escuta.

    Seu objetivo na superintendência era apurar boatos de que ocorriam vazamentos das investigações para a confecção de um dossiê com o objetivo de anular a Lava Jato.

    Sua atuação provocou insatisfação e desconfiança dos delegados da operação.

    Nesse período, Fanton obteve novo depoimento do agente Dalmey Werlang, um dos que falou à CPI, no qual ele mudou a versão sobre a escuta e apontou ilegalidade.

    O delegado Fanton escreveu: "Sugiro que o MPF [Ministério Público Federal] reanalise as provas, inclusive a sindicância da escuta clandestina, se possível refazendo-a, e conduza diretamente a presente investigação ou com grande proximidade a um novo delegado a se indicar, pois não acreditamos mais nas provas antes constituídas".

    Em outro trecho, Fanton conta que foi informado pelo delegado Igor de que a PF de São Paulo não havia prorrogado sua permanência em Curitiba e, quando entrou em contato com SP, responderam-lhe que sequer houve pedido de renovação da missão.

    A Folha pediu para ouvir o delegado Igor por meio da PF em Curitiba. O órgão respondeu que não iria comentar o caso. A PF em Brasília também não comentou.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024