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    Lava Jato

    Anotações sugerem que Odebrecht tentou deter avanço de investigação

    BELA MEGALE
    GRACILIANO ROCHA
    GUSTAVO URIBE
    DE SÃO PAULO

    20/07/2015 21h47

    Anotações encontradas pela Polícia Federal nos telefones celulares do empresário Marcelo Odebrecht sugerem que ele se empenhou ativamente para conter danos causados pela Operação Lava Jato antes de ser preso pela PF.

    De acordo com relatório produzido pelos policiais que examinaram as anotações, o executivo buscou contato com políticos e auxiliares da presidente Dilma Rousseff para discutir o avanço das investigações e seu impacto.

    As anotações mencionam vários políticos, em geral indicando apenas as iniciais, e muitas são difíceis de interpretar com segurança sem conhecer o contexto em que foram produzidas e a identidade das pessoas mencionadas.

    O relatório é um dos elementos apresentados pela PF para justificar o indiciamento de Marcelo Odebrecht por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro, proposto nesta segunda-feira (20).

    O empresário está preso em Curitiba desde 19 de junho, junto com outros quatro executivos que trabalhavam para o grupo Odebrecht e também são acusados de participar do esquema de corrupção descoberto na Petrobras.

    Caberá aos procuradores da Operação Lava Jato analisar o relatório da PF para avaliar se novas investigações serão necessárias, ou se já há evidências suficientes para propor à Justiça uma ação penal contra os executivos.

    'GRUPO DE CRISE'

    Uma das anotações encontradas pela PF nos celulares de Marcelo Odebrecht diz ser necessário ter "contato ágil/permanente com o grupo de crise do governo e nós para que informações sejam passadas e ações coordenadas".

    A PF não sabe quando a anotação foi feita, mas suspeita que isso ocorreu depois de novembro do ano passado, quando a Operação Lava Jato prendeu executivos de várias empreiteiras que têm negócios com a Petrobras.

    A mesma anotação fala em "trabalhar para para/anular (dissidentes PF...)". Segundo a interpretação da PF, trata-se de um indício de que Marcelo Odebrecht pretendia usar policiais "dissidentes" para tumultuar as investigações.

    O empresário também parecia empenhado em oferecer garantias a dois executivos do grupo sob investigação, Márcio Faria e Rogério Araújo, que hoje estão presos com ele em Curitiba. "MF/RA: não movimentar nada e reembolsaremos tudo e asseguraremos a família. Vamos segurar até o fim", diz a anotação.

    O mesmo arquivo fala em "higienizar apetrechos MF e RA". De acordo com a interpretação da PF, isso significa que o empresário pretendia apagar o conteúdo de telefones, computadores e outros aparelhos dos executivos.

    Há referências ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que aparece numa anotação como "ECunha", mas o contexto não deixa claro por que Marcelo Odebrecht pensou neles ao redigir as anotações no telefone.

    Segundo a polícia, "MT" é o vice-presidente Michel Temer, "GA" é o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), "FP" é o governador mineiro, Fernando Pimentel (PT), e "JW" é o ministro da Defesa, o petista Jaques Wagner.

    A PF achou também um e-mail de 9 de janeiro de 2013 com o título "Pedido específico blindagem JEC". Para o policial que analisou o material, "JEC" pode ser o ministro da Justiça, o petista José Eduardo Cardozo. O texto do e-mail inclui esta frase: "Para Edinho visão da conta toda inclusive gasto com o Haddad. MRF: dizer do risco de chegar na campanha dela?"

    Para a PF, "Edinho" pode ser o então presidente do PT de São Paulo, Edinho Silva, hoje ministro da Secretaria de Comunicação Social do Palácio do Planalto, e a mensagem pode ser uma referência à campanha do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), eleito em 2012.

    OUTRO LADO

    A advogada de Marcelo Odebrecht, Dora Cavalcanti, não foi localizada na noite desta segunda-feira (20) para comentar o conteúdo das anotações e do e-mail encontrados nos telefones celulares do presidente da Odebrecht.

    Em nota, a empresa pronunciou-se apenas sobre seu indiciamento pela Polícia Federal: "Embora sem fundamento sólido, o indiciamento já era esperado" e que a defesa aguardará oportunidade de "exercer plenamente o contraditório."

    A assessoria do vice-presidente Michel Temer disse que não poderia emitir posição sobre uma "inferência" da Polícia Federal. Segundo a assessoria, Temer conhece Marcelo Odebrecht, mas não sabe nem sequer se as iniciais "MT" referem-se de fato a ele.

    "Nem sei se a Odebrecht colaborou com o PMDB. Várias empresas colaboraram, mandei verificarem. É uma inferência da Polícia Federal, não sei se legítima ou ilegítima", afirmou após almoço com investidores americanos em Nova York

    O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que não comentaria o assunto, pelo mesmo motivo.

    Em nota, a assessoria do governador Geraldo Alckmin afirmou que ele "não recebeu qualquer pedido de ajuda do empresário Marcelo Odebrecht". O texto diz, ainda, que "o único evento do qual [Alckmin e Odebrecht] participaram [...] ocorreu em jantar de homenagem ao presidente Fernando Henrique Cardoso ao qual compareceram 25 personalidades".

    Para a assessoria do governador, a anotação que faz referência a "GA" é "ininteligível", e não há "nenhuma comprovação ou sequer indício de tratar-se de alguém em especial, tampouco de algum assunto específico".

    Os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Edinho Silva (Comunicação Social) e o governador Fernando Pimentel não haviam sido localizados até a conclusão desta edição.

    A assessoria do prefeito Fernando Haddad, que está em Roma, deve se pronunciar nesta terça-feira.

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    OS CRIMES DOS EMPREITEIROS

    Três ex-executivos da Camargo Corrêa foram condenados nesta segunda (20)

    ACUSAÇÃO: Executivos da Camargo Corrêa pagaram R$ 50 milhões em propina para a diretoria de Abastecimento da Petrobras, nas obras da Repar (Refinaria Getúlio Vargas, no RJ) e Refinaria Abreu e Lima (PE)

    Pedro Ladeira - 20.mai.2015/Folhapress
    *Dalton Avancini - DELATOR* Dalton Avancini - DELATOR
    Cargo: ex-presidente da Camargo Corrêa
    Pena: 15 anos e 10 meses + multa de R$ 1,2 milhão + R$ 2,5 milhões de indenização cível
    Como cumprirá a pena: Em prisão domiciliar até mar.16, seguidos de, pelo menos, 2 anos no regime semiaberto diferenciado (obrigação de dormir em casa) com trabalho comunitário, com posterior progressão para o regime aberto

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    Pedro Ladeira - 20.mai.2015/Folhapress
    *Eduardo Leite - DELATOR* Eduardo Leite - DELATOR
    Cargo: ex-vice-presidente da Camargo Corrêa
    Pena: 15 anos e 10 meses + multa de R$ 900 mil + R$ 5,5 milhões de indenização cível
    Como cumprirá a pena: Em prisão domiciliar até mar.16, seguidos de, pelo menos, 2 anos no regime semiaberto diferenciado (obrigação de dormir em casa) com trabalho comunitário, com posterior progressão para o regime aberto

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    Pedro Ladeira - 20.mai.2015/Folhapress
    *João Ricardo Auler* João Ricardo Auler
    Cargo: ex-presidente do conselho de administração da Camargo Corrêa
    Pena: 9 anos e 6 meses + multa de R$ 288 mil
    Como cumprirá a pena: Inicialmente, em regime fechado, podendo evoluir para o semiaberto após 1/6 da pena

    Crimes: corrupção, lavagem de dinheiro e atuação em organização criminosa

    Também foram condenados:

    • Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras
    • Alberto Youssef, doleiro
    • Jayme de Oliveira Filho, funcionário de Youssef

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    À ESPERA

    Executivos que ainda serão julgados e quanto cada empreiteira pagou em propina, segundo o Ministério Público

    EMPRESA PROPINA PAGA RÉUS
    MENDES JÚNIOR R$ 71,6 milhões Sérgio Mendes, Rogério Cunha de Oliveira, Ângelo Alves Mendes, Alberto Vilaça Gomes, José Humberto Resende
    UTC R$ 86,4 milhões Ricardo Pessoa - DELATOR, João de Teive e Argollo
    OAS R$ 29,3 milhões Léo Pinheiro, Agenor Franklin Medeiros, Mateus Coutinho de Sá Oliveira, José Ricardo Nogueira Breghirolli, Fernando Andrade
    ENGEVIX R$ 52,9 milhões Gerson Almada, Carlos Eduardo Strauch, Newton Prado Jr., Luiz Roberto Pereira
    GALVÃO ENGENHARIA R$ 46 milhões Erton Medeiros Fonseca, Jean Alberto Luscher Castro, Dario Galvão Filho, Eduardo de Queiroz Galvão

    Foram indiciados pela PF:

    ODEBRECHT

    • Marcelo Odebrecht
    • Rogério Santos de Araújo
    • Alexandrino Alencar
    • Márcio Faria da Silva
    • Cesar Ramos Rocha

    ANDRADE GUTIERREZ

    • Otávio Marques de Azevedo
    • Rogério Nora de Sá
    • Flávio Lúcio Magalhães
    • Antonio Campello de Souza
    • Elton Negrão de Azevedo Jr.
    • Lucélio Goes
    • Paulo Dalmazzo*

    * Paulo Dalmazzo é o único indiciado que não está preso

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