• Poder

    Wednesday, 08-May-2024 03:33:52 -03

    'Você acha que algum partido é capaz de me controlar?', diz Datena

    LÍGIA MESQUITA
    COLUNISTA DA FOLHA

    22/07/2015 18h03

    Divulgação
    O apresentador José Luiz Datena, durante as gravações de um programa de TV
    O apresentador José Luiz Datena, durante as gravações de um programa de TV

    No momento, a única política que interessa a José Luiz Datena, 58, é a familiar. "Por isso tô embarcando para Goiânia para tirar cinco dias de folga e ficar com meus netos. Vou fazer política interna lá", diz o apresentador à Folha, nesta quarta-feira (22).

    O âncora do "Brasil Urgente" (Band) foi convidado a disputar a Prefeitura de São Paulo em 2016, conforme revelou Flavio Ricco, no UOL.

    Segundo reportagem da Folha, Datena foi sondado por PSDB, PSB e PP e teve um encontro com o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP). Na próxima semana, se encontrará com o vice-governador Marcio França (PSB-SP).

    Não é a primeira vez que Datena é sondado para se candidatar. "Não estou impelido a aceitar nenhum convite. Eu não me considero um cara capaz de mudar alguma coisa. Se me considerasse, já teria convicção e toparia de cara", diz. "Mas tô ouvindo [as propostas]."

    A diferença, segundo ele, é que desta vez "parece que os partidos não têm muitas opções. E acham que eu tenho potencial".

    Leia a seguir a entrevista que o apresentador concedeu à Folha, por telefone, antes de embarcar para Goiânia:

    *

    Folha - Não vai disputar a Prefeitura de São Paulo?
    Datena - Nâo tô impelido a aceitar nenhum tipo de proposta, a não ser que me convençam muito bem que eu possa realmente contribuir e fazer algo pela cidade. Mas até agora consegui superar a vaidade que todo mundo tem de ser procurado para uma coisa importante. Ser prefeito de São Paulo é importante. Mas até agora não faz parte dos meus planos.

    Acha que você daria certo na política?
    Sou um cara estourado.
    Por isso que esse negócio de política é complicado, já tem essa coisa de mediação.
    Eu estranharia o fato, por exemplo, de um marqueteiro tentar me transformar no que já falaram por aí de Datena "light". Eu não sou margarina, pô, jamais viraria Datena light. Não sou produto de marketing. Por isso que enfiam um monte de coisa ruim pro povo. Quando precisa de um marqueteiro para vender um produto é porque não é bom normalmente.

    Você não mudaria então?
    Se um dia me aventurasse nessa vida política, eu seria o que sou mesmo, não mudaria nada. Mas falam 'Fulano de tal quando foi eleito teve que tirar o pé [do acelerador]'. Não tiraria o pé de nada.

    E se o partido exigisse?
    Ah, rá-rá. Você acha que algum partido é capaz de me controlar? Eu sou um cara que voo por instrumentos que eu programo. Quando não concordei com ideias em emissora de televisão [Record], saí e paguei. Paguei caro, mas paguei. Se as pessoas acham que vão me transformar numa coisa que não sou, elas estão completamente enganadas. Isso já disse para os caras [que me convidaram]: se vocês acham que vou ser uma pessoa que vocês querem e não a que sou, vamos parar a conversa por aqui que não é o meu caminho.
    Eu sou um cara com todos defeitos e poucas virtudes. Não preciso de marketing para me deixar bonitinho nem legalzão. Não sou nem legalzão nem bonitinho. Sou um cara normal.

    Você acha que conseguiria mudar algo na política?
    Eu tava uma vez no Congresso, numa votação de redução de maioridade penal, e encontrei o Walter Feldman [ex-deputado federal]. E ele me falou 'Datena, não vejo a hora de ir embora, não consigo fazer nada aqui'. Aí lembrei daquele [quadro] "O Grito", do Munch. O cara tava numa situação daquelas.
    É mais ou menos o que representa a política hoje. As pessoas que querem fazer alguma coisa ficam desesperadas porque normalmente não conseguem.
    Tem tanto cara que você acha que vai fazer uma coisa na política e entra lá e é engolido pelo sistema. Essa é uma das coisas que não me atraem. E cá entre nós já tem muito cara ruim por aí para pegar mais um [risos].

    O que você conversou com o governador Alckmin?
    Foi uma visita, uma conversa após ele ter perdido o filho [Thomaz, em um acidente de helicóptero, em abril]. Mas foi interessante porque o Alckmin me contou uma história do Zé Bodinho. Era um cara que confundiu a popularidade dele com a possibilidade de sair candidato. Aí, um mês depois ele saiu candidato e tava lá falando: 'Vocês estão loucos. Eu era um santo aqui na minha comunidade, no meu bairro, foi só eu ser político e descobri num mês que era corrupto, no outro, que era corno. Não quis mais saber disso'.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024