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    Lava Jato

    Empresa pagou R$ 2,7 mi por estudos 'pouco profundos', diz filha de almirante

    GRACILIANO ROCHA
    DE SÃO PAULO

    12/08/2015 22h31

    Pagamentos adiantados para estudos "pouco profundos" e contratos que já chegavam elaborados fazem parte da versão apresentada pela engenheira Ana Cristina da Silva Toniolo para justificar a maior parte dos pagamentos recebidos pela Aratec, suspeita de receber a propina da obra de Angra 3.

    Ana Cristina é filha do almirante reformado Othon Luiz Pinheiro da Silva, presidente da Eletronuclear entre 2007 e 2014.

    Ele está preso desde julho por suspeita de ter recebido R$ 4,7 milhões em propina das empreiteiras por meio de empresas intermediárias que realizavam depósitos na conta da Aratec –empresa da família.

    No depoimento à Polícia Federal, Ana Cristina, que constava como administradora da Aratec, disse que recebeu os contratos prontos da CG Consultoria –empresa suspeita de intermediar suborno de R$ 2,7 milhões à Aratec.

    Segundo ela, os pagamentos referiam-se a serviços efetivamente prestados –a elaboração de estudos para a CG Consultoria. Ana Cristina diz que Carlos Gallo, da CG, era amigo de seu pai.

    "Não se tratavam de estudos profundos de autoria da declarante e nem de consultorias, apenas de uma compilação de informações sobre um tema; a declarante apenas obedeceu àquilo que lhe foi pedido", diz trecho da transcrição do depoimento. "Não questionou Carlos a razão dos pedidos dos tais estudos, apenas atendeu a uma solicitação de seu pai".

    Segundo ela, Gallo entregava os contratos prontos, contendo a descrição do estudo a ser feito. Só depois da emissão da nota fiscal e do pagamento, o dono da CG pedia a Ana Cristina que "montasse um paper, um estudo referente ao tema".

    Ana Cristina também atribuiu ao pagamento de dívidas antigas e ao investimento de um sócio os repasses feitos por empresas suspeitas de escoar a propina de grandes empreiteiras ao almirante Othon.

    TURBINA

    A engenheira afirma que entrou na Aratec após iniciar a carreira como tradutora e usou a empresa do pai para emitir notas para receber pelas traduções feitas. Quando Othon foi para a Eletronuclear, ela passou à condição de sócia e administradora da firma.

    Ana Cristina disse à polícia que o pai desenvolveu na Aratec uma turbina, já patenteada no Brasil e no exterior, e que parte do dinheiro que entrou na empresa veio de investidores do projeto.

    Os auxiliares do almirante no projeto da turbina, disse, eram ex-colegas da época em que ele estava na Marinha. Segundo Ana Cristina, os pagamentos aos desenvolvedores da turbina não foram documentados em contrato nem emitidos recibos. Muitas vezes, o dinheiro era sacado das contas da Aratec e depositado nas contas dos prestadores de serviço. Segundo Ana Cristina, o método visava evitar a caracterização de relação
    trabalhista.

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