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    o impeachment

    Opinião - Visões da Crise

    Não está claro o que as pessoas querem no lugar do que temos

    BERNARDO GUIMARÃES
    DE ESPECIAL PARA A FOLHA

    16/08/2015 02h00

    Em épocas de crise, o foco recai sobre o que é urgente. Para quem enfrenta uma crise de alcoolismo, o plano é ficar mais 24 horas sem beber. Empresas em dificuldades direcionam seus esforços para tentar sobreviver. E há quem almeje manter-se na Presidência até o final do ano.

    Não espanta, portanto, que a discussão econômica nos últimos meses esteja concentrada no ajuste fiscal e no controle da inflação. Tão concentrada que fica parecendo que nós economistas somos sujeitos chatos com pouca imaginação, obcecados com as contas do governo e com a taxa de juros escolhida pelo Banco Central. Economia é muito mais que isso.

    Não que essas questões urgentes não sejam importantes. Aumentar impostos ou reduzir os dispêndios do governo serviria não apenas para equilibrar as finanças públicas, mas também para ajudar a recuperar a credibilidade do governo. Um bom ajuste fiscal contribuiria para tirar o país da crise, principalmente se focado em cortes de gastos. Da mesma maneira, é fundamental que um país cuide de sua moeda, e o Banco Central está buscando recuperar sua credibilidade no controle da inflação.

    Editoria de arte/Folhapress

    Contudo, há que se perguntar sobre os planos para a nossa economia no médio e no longo prazo. Todos nós desejamos um país onde as pessoas vivam melhor, mais desenvolvimento e menos desigualdade. Mas isso não é um plano, é um objetivo. Qual o caminho para atingir essa meta? Eis a questão.

    A meu ver, o caminho passa por mais liberalismo econômico. Foi o caminho inverso que nos trouxe onde hoje estamos.

    Mais liberalismo significa, entre outras coisas, um ambiente de negócios melhor, com mais facilidade para abrir e operar empresas e mais segurança no cumprimento dos contratos. Significa também menos intervenção do governo no comércio internacional e muito menos crédito direcionado. Assim, teremos mais competição, maior produtividade e maior demanda por trabalho. É isso que gera maiores salários.

    O caminho passa também por políticas sociais focalizadas nos mais pobres, para que os recursos cheguem a quem mais precisa com a menor necessidade de tributação possível.

    Há outras visões, algumas completamente opostas às minhas. Precisamos reconhecer que há pessoas bem intencionadas com todo tipo de opinião para termos uma discussão produtiva sobre os planos para a nossa economia. Uma discussão de verdade.

    Porque hoje as pessoas vão às ruas contra um governo que se elegeu por conta da mentira, com uma campanha que escondeu quatro anos de políticas econômicas desastrosas atrás de uma luta imaginária entre poderosos e oprimidos.

    É claro o alvo dos protestos, mas muito menos claro o que as pessoas querem no lugar do que hoje temos. Não há nada errado com isso, mas é hora de colocar em pauta a agenda para construir o Brasil de amanhã. Nós podemos criar um país muito melhor.

    BERNARDO GUIMARÃES é professor de economia da FGV em São Paulo e autor do livro "A Riqueza da Nação no Século 21"

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