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    Lava Jato

    Investigação confirma trechos de depoimento de delator contra Cunha

    MÁRCIO FALCÃO
    RUBENS VALENTE
    GABRIEL MASCARENHAS
    DE BRASÍLIA

    20/08/2015 18h49

    A investigação feita pela PGR (Procuradoria Geral da República) com apoio da Polícia Federal sobre o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), confirmou trechos dos depoimentos prestados pelo operador Júlio Camargo em acordo de delação premiada.

    Camargo havia dito em delação que se reuniu com Cunha e o lobista Fernando Soares, o Baiano, em 18 de setembro de 2011, um domingo, no prédio "Leblon Empresarial", localizado na Avenida Afrânio Melo Franco, no Rio, entre 19 horas e 21 horas. O encontro tratou, segundo o delator, do pagamento de propina.

    A PF cruzou os dados do telefone celular de Baiano e confirmou que ele fez 11 ligações telefônicas na mesma região em que se localiza o prédio na data e horário indicados por Camargo. Além disso, no prédio citado pelo delator funciona uma empresa do advogado de Baiano, Sergio Roberto Weyne. Ouvido em depoimento no inquérito, o advogado confirmou que costumava ceder a sala de seu escritório para reuniões de Baiano, inclusive aos finais de semana.

    Na reunião, disse o delator, Cunha lhe cobrou propina que havia sido suspensa depois que Camargo deixou de receber recursos da Samsung. De acordo com Camargo, Cunha teria sido "irredutível" e dito: "Eu não sei da história e nem quero saber. Eu tenho um valor a receber do Fernando Soares e que ele atrelou a você".

    Camargo disse que Cunha nesse momento "solicitou expressamente a quantia de US$ 5 milhões".

    Outros trechos da delação de Camargo confirmados pela investigação dizem respeito a duas reuniões que Camargo teria mantido no Rio de Janeiro em 2011 para reclamar das pressões que passou a sofrer de Cunha: uma com o então diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e outra com o então ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA).

    A PF e a PGR confirmaram, com base em registros de entradas e saídas, que Camargo de fato esteve na sede da Petrobras, no Rio, para falar com Paulo Roberto Costa na mesma data indicada na delação. Os investigadores também puderam confirmar que um carro registrado em nome da empresa de Camargo esteve na Base Aérea do Rio de Janeiro onde, segundo o delator, ele se reuniu com Lobão. A pesquisa nas agendas de compromisso do então ministro indicou que ele estava no Rio naquela data.

    'SÓCIO OCULTO'

    Camargo também afirmou à PGR que Baiano lhe disse que Eduardo Cunha ameaçou prejudicar negócios na Petrobras caso não fosse retomado o pagamento de propina em virtude de contratos na estatal.

    Baiano disse, segundo o delator, que Cunha "estava 'extremamente agressivo' na cobrança e que criaria dificuldades com os contratos já firmados e os ainda em negociação na Petrobras de interesse de Júlio Camargo".

    Segundo o procurador-geral da República, Cunha era "sócio oculto" de Baiano e "o destinatário final da propina paga" em um total estimado em US$ 5 milhões, cerca de R$ 17 milhões em valores atualizados pelo procurador-geral. Uma pequena parte, segundo PGR, foi paga em doações a uma igreja evangélica.

    Em depoimento, Camargo afirmou que fez pagamentos à Assembleia de Deus a partir de orientações de Baiano. As empresas de Camargo, Piemonte e Treviso, fizeram duas transferências para as contas da igreja, no valor total de R$ 250 mil em 31 de agosto de 2012. A justificativa para os repasses, segundo a PGR, foi "falsa", como "pagamentos a fornecedores".

    A PGR diz que é "notória" a vinculação de Cunha com a igreja. O diretor da igreja registrado na Receita Federal é Samuel Cassio Ferreira, irmão de Abner Ferreira, pastor da igreja Assembleia de Deus Madureira, no Rio, frequentada pelo deputado. "Foi nela inclusive que Cunha celebrou a eleição para presidência da Câmara dos Deputados, conforme amplamente divulgado na imprensa", diz a denúncia da PGR. Conforme a denúncia, Camargo não havia feito doações à igreja até então e "nunca frequentou referida igreja e professa a religião católica".

    Na denúncia, Janot pede que Cunha e a ex-deputada federal Solange Almeida sejam punidos, além das penas de prisão previstas em lei, com o perdimento de bens no montante de pelo menos R$ 138 milhões –equivalente a US$ 40 milhões que teriam sido pagos em propina– e o pagamento de mais R$ 138 milhões "de valor mínimo de reparação dos danos causados pela infração".

    Eduardo Cunha

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