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    Piora no cenário econômico traz novos riscos para Dilma

    VALDO CRUZ
    DE BRASÍLIA

    23/08/2015 02h00

    Em uma semana em que a presidente Dilma ganhou um "pouco de fôlego" no campo institucional, a piora do cenário econômico e os riscos de ela agravar a crise política viraram a maior preocupação das conversas reservadas no Palácio do Planalto.

    Um assessor presidencial disse à Folha que o governo precisa "reverter urgentemente" as expectativas negativas da economia para "evitar o pior": o aprofundamento da recessão no país.

    Em sua avaliação, o governo conseguiu melhorar o quadro de instabilidade institucional, mas precisa evitar que uma deterioração econômica gere a imagem de que o Planalto perdeu a capacidade de comandar o país.

    Segundo ele, se isto ocorrer, a oposição vai explorar este cenário politicamente para desgastar Dilma e tentar forçar a abertura de um processo de impeachment.

    Outro assessor reconhece que o sentimento, ultimamente, é o de que "todo dia é de notícia ruim" para o governo na área econômica.

    Enquanto a semana começou com a avaliação de que os protestos do último domingo (16) não foram "gigantescas", dando tempo ao governo para negociar a Agenda Brasil articulada com o PMDB do Senado, na economia analistas passaram a prever dois anos seguidos de recessão.

    Oficialmente, o governo diz acreditar que o país não seguirá em retração em 2016, mas reservadamente admite que a "atual desaceleração é muito forte" e há o risco de ela se manter no próximo ano.

    Depois das previsões do mercado de retração superior a 2% neste ano e de 0,15% em 2016, novos dados negativos foram divulgados. O desemprego medido pelo IBGE nas principais regiões metropolitanas passou de 6,9% para 7,5% em julho. E o corte de vagas com carteira assinada no mesmo mês foi o pior desde 1992, com eliminação de 158 mil postos em todo país.

    Um aliado da presidente diz que estes números ainda vão ter reflexos mais negativos na economia quando o seguro-desemprego dos novos desempregados acabar.

    Em busca de uma reação da atividade econômica para "quebrar o ambiente de pessimismo", assessores de Dilma defendem que o melhor caminho é aprovar pontos da Agenda Brasil para melhorar o ambiente de negócios.

    FALTA DE CONFIANÇA

    Um assessor lembra que o Planalto tomou uma série de medidas para combater a inflação, corrigir preços públicos e buscar o equilíbrio fiscal, mas que, sem a volta da confiança, o crescimento da economia não virá.

    Outra ala do governo, porém, preocupada em diminuir os danos na economia nesta fase de transição, voltou a defender uma atuação do Estado para tentar tirar a economia do atoleiro.

    Daí veio a decisão de usar o Banco do Brasil e a Caixa para socorrer setores em dificuldades com crédito mais barato. Para este grupo, o Banco Central poderia dar sua contribuição começando a reduzir a taxa de juros no final deste ano. Integrantes desta ala, porém, não acreditam neste movimento do BC.

    A equipe de Alexandre Tombini segue sinalizando que a taxa Selic, hoje em 14,25% ao ano, ficará neste patamar por "tempo suficientemente prolongado" até garantir que a inflação irá convergir para o centro da meta, de 4,5%, no final de 2016.

    A avaliação é que isto pode ocorrer apenas no final do primeiro trimestre do próximo ano, quando o BC começaria a analisar a possibilidade de reduzir os juros.

    No governo, alguns avaliam que a elevação do desemprego e a forte retração da economia podem fazer a inflação cair mais rapidamente e mudar os planos do BC.

    Na política, a semana que começou mais tranquila terminou com dois reveses: a decisão do vice, Michel Temer, sair da articulação política e o pedido de uma investigação contra a campanha de Dilma feito pelo ministro Gilmar Mendes, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e do STF (Supremo Tribunal Federal).

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