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    Lava Jato

    Collor chama Janot de fascista e diz que ele tenta constranger Senado

    MARIANA HAUBERT
    DE BRASÍLIA

    24/08/2015 16h30

    Pedro Ladeira/Folhapress
    O senador Fernando Collor discursa na tribuna do Senado
    O senador Fernando Collor discursa na tribuna do Senado

    Denunciado pelo Ministério Público por suposta participação no esquema de corrupção da Petrobras, o senador Fernando Collor (PTB-AL) usou a tribuna do Senado nesta segunda-feira (24) para questionar e criticar a conduta do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a quem chamou de "sujeitinho à toa", "fascista da pior extração" e "sujeito ressacado, sem eira nem beira". O senador afirmou ainda que Janot tenta constranger a Casa às vésperas da sabatina de que participará na próxima quarta-feira (26).

    Durante o pronunciamento de cerca de 40 minutos, Collor questionou a atuação de Janot à frente da Operação Lava Jato. "Até quando vamos permitir esse estado policialesco que a PGR (Procuradoria-Geral da República) tenta implantar? Trata-se de questão que afeta, sim, diretamente as instituições, que afeta a separação dos Poderes, o estado de Direito e que merece, de nossa parte, por um freio nesses abusos inomináveis cometidos pelo senhor Janot", afirmou.

    Em seguida, Collor disse que Janot não possui estabilidade emocional, sobriedade e perfil democrático para conduzir o Ministério Público. "É esse tipo de sujeitinho à toa, de procurador-geral da República, da botoeira de Janot que queremos entregar à sociedade brasileira? Possui ele a estabilidade emocional, a sobriedade que sempre lhe falta nas vespertinas reuniões que ele realiza na procuradoria?", questionou.

    "Estamos sim diante de um sujeito ressacado, sem eira nem beira, que acha que tudo pode e tudo faz a seu bel prazer, desconectando as instituições e esterilizando, ele conhece bem isso, esterilizando os Poderes da República que garantem a nossa democracia. Trata-se de um fascista da pior extração", completou o senador.

    Collor e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foram denunciados por Janot na última quinta-feira (20). O procurador-geral pediu a condenação dos dois sob a acusação de terem cometidos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Esta foi a primeira vez que Collor falou publicamente após a denúncia.

    Investigadores da Lava Jato apontam que um grupo ligado ao senador recebeu cerca de R$ 26 milhões em suposta propina do esquema de corrupção da Petrobras entre 2010 e 2014. O esquema vinculado ao congressista, segundo as investigações, envolvia assessores do Senado, colaboradores, empresas em atividade e outras suspeitas de serem de fachada.

    Na próxima quarta-feira (26), Janot será sabatinado pela comissão de Constituição e Justiça do Senado, que votará sua recondução ao cargo de chefe do Ministério Público. Se for aprovado pelo colegiado, o procurador deverá ainda passar por análise do plenário do Senado.

    A Procuradoria-Geral da República não quis se pronunciar sobre a fala de Collor.

    RECLAMAÇÃO

    Da tribuna, Collor voltou a reclamar de não ter sido ouvido sobre os fatos que lhe são atribuídos mesmo tendo se colocado à disposição da PF e acusou Janot de patrocinar sucessivos vazamentos de informação.

    Ele reclamou ainda, da operação de busca e apreensão realizada em seu apartamento funcional em 14 de julho, em que, segundo ele, a Polícia Federal não apresentou à Polícia Legislativa do Senado o documento, assinado pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Celso de Mello, que autorizava a operação. Collor exibiu um vídeo em que o chefe da Polícia do Senado, Pedro Carvalho, é impedido de entrar no apartamento funcional por agentes da PF.

    "As imagens que aqui foram mostradas são a tradução fiel do que é hoje a política de conduta adotada pelo grupelho instalado pelo Ministério Público sob o comando de Rodrigo Janot, que, como vimos, prevalece a arrogância, o despreparo, a prepotência, o abuso e a arbitrariedade. É assim que eles se sentem, detentores do poder absoluto, acima da lei e de qualquer instituição", afirmou.

    "Essa é a realidade do perfil e da conduta do atual Ministério Público Federal. Se assim agem em relação a um representante da população, se assim agem nas dependências do Senado da República, imaginem o que não fizeram nas minhas outras residências a mando do senhor Janot. Mas tudo bem. Vamos em frente", completou.

    Na época, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), chegou a acusar a PF de invadir o imóvel ocupado por Collor. Em nota assinada pela cúpula do Senado, Renan afirmou que os métodos usados pela PF "beiram a intimidação" e foram uma "violência" à democracia.

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