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    o impeachment

    Não posso deixar a articulação política 'de uma vez', afirma Temer

    MARINA DIAS
    DE BRASÍLIA

    25/08/2015 11h49

    Pedro Ladeira - 19.ago.2015/Folhapress
    A presidente Dilma Rousseff e Michel Temer, que não vai mais negociar cargos e emendas parlamentares
    A presidente Dilma e Michel Temer, que não vai mais negociar cargos e emendas parlamentares

    Um dia após comunicar à presidente Dilma Rousseff que deixará a função principal de articulador político do Palácio do Planalto, o vice-presidente Michel Temer tentou minimizar o impacto de seu movimento no governo, disse que vai continuar cuidando da relação com o Congresso e que não pode deixar a articulação política "de uma vez".

    "Tenho responsabilidade com o país", declarou nesta terça-feira (25).

    "No PMDB há alguns que querem que eu deixe a articulação e outros tantos que querem que eu continue, mas eu entendi que não posso, tendo responsabilidade com o país, deixá-la de uma vez", afirmou o vice.

    O movimento foi interpretado por aliados como o primeiro passo de afastamento de Temer e do PMDB em relação ao governo.

    Segundo o peemedebista, a aprovação das medidas do ajuste fiscal pelo Legislativo "esgotou" a primeira fase da articulação política, com distribuição de cargos e emendas parlamentares a partido que dão sustentação ao governo no Congresso, assuntos dos quais o vice-presidente não vai mais tratar.

    "Eu continuo na articulação formatada dessa outra maneira [tratativas com o Congresso]. O que muda é a questão, que é importante, aquela chamada entrega de cargos, emendas orçamentárias, praticamente já solucionado. Nessa parte eu não vou entrar mais", disse Temer.

    Ele estava insatisfeito na atribuição há meses e disse a Dilma que vivia um ambiente de "intrigas e fofocas" no Palácio do Planalto. Além disso, o vice sofria pressão de setores do PMDB que insistiam que ele deixasse o cargo.

    Na prática, Temer devolveu a função que Dilma havia delegado a ele em abril, numa de suas primeiras tentativas de pacificar a relação com o Congresso, onde sofreu derrotas sucessivas desde o início de seu segundo mandato.

    A presidente fez um apelo que ele permanecesse acompanhando todas as funções da articulação política, mas o vice disse que Dilma "concordou" que ele deve "exercitar uma outra espécie de atividade ainda na coordenação política" e que "não há embaraço" com a petista.

    IMPEACHMENT

    Temer rechaçou ainda a hipótese de que sua decisão tenha alimentado movimentos que estimulam a votação de um processo de impeachment contra a presidente.

    "É falso, absolutamente falso. Sempre tenho dito e repetido que qualquer hipótese de impeachment é impensável".

    Nesta segunda, em entrevista à Folha e a outros dois jornais brasileiros, a presidente Dilma fez um desagravo a Temer.

    "O Temer, aquele dia estava inteiramente estressado porque percebeu que o país ia ter uma aprovação de uma medida provisória que impactaria em bilhões e bilhões", contou.

    "Não acho que ele falou aquilo [sobre a necessidade de ter 'alguém' para 'unificar' o Brasil] com a intenção que atribuíram a ele. O Temer tem sido de imensa lealdade comigo", "tem responsabilidade com o país", defendeu. "O papel dele é a macro política, não a micro".

    'NINGUÉM NO LUGAR'

    Braço direito de Temer na articulação política até agora, o ministro Eliseu Padilha (Aviação Civil) disse que o vice "acertou" em deixar "a área de atritos", que envolve distribuição de cargos e emendas, para cuidar da macropolítica, e que não acha que há necessidade de alguém substituir a dupla nessa função.

    "Eu tenho muita dúvida da necessidade [de outra pessoa assumir as tratativas]. Mas é uma questão pessoal. Não ouvi nada de ninguém", disse o ministro após participar de uma reunião com Temer e os líderes da base na Câmara.

    Isso porque, explica, o chamado "varejo" da articulação política vai "desaparecer" visto que o governo vai acertar os restos a pagar e terminar de nomear aliados para os cargos de segundo e terceiro escalão.

    "Vamos resolver, essa foi a queda de braço que tivemos com a área econômica. Se resolvermos o para trás, no ano que vem só teremos as emendas impositivas e aí pode ser o ministro Nelson Barbosa, do Planejamento, [quem irá resolver]", disse Padilha. "Com todo respeito que membros do meu partido e do governo merecem, penso que a pessoa talhada à alta articulação política é Temer, pela sua história de vida, gentileza, cavalheirismo, ele é ideal para esse trabalho de alto nível", completou.

    Até o fim do mês, Padilha fará a transição da agenda da SRI (Secretaria de Relações Institucionais) para quem for designado pela presidente Dilma. O ministro, no entanto, afirmou que nenhum nome foi escolhido.

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