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    o impeachment

    Na Fiesp, Temer coloca-se como 'advogado' do setor produtivo

    DANIELA LIMA
    DAVID FRIEDLANDER
    RAQUEL LANDIM
    DE SÃO PAULO

    28/08/2015 00h43

    Ernesto Rodrigues - 27.ago.2015/Folhapress
    O vice Michel Temer (ao centro) em jantar com empresários na Fiesp, nesta quinta-feira (27)
    O vice Michel Temer (ao centro) em jantar com empresários na Fiesp, nesta quinta-feira (27)

    Após um jantar em que ouviu críticas à política econômica da presidente Dilma Rousseff e reclamações contra o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o vice-presidente da República, Michel Temer, disse nesta quinta-feira (27) a um grupo de 14 líderes empresariais que pretende atuar como um "advogado" do setor produtivo no governo e defendeu o diálogo como essencial para evitar o agravamento da crise.

    O encontro, que durou quase três horas, foi patrocinado pelo presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, e reuniu empresários e banqueiros. Ao final do evento, Skaf classificou Joaquim Levy como um ministro "insensível" ao aumento do desemprego e disse que ele não tem sido capaz de apontar um rumo para a recuperação da economia.

    Segundo o presidente da Fiesp, o governo erra ao apostar no aumento dos juros e da carga tributária como receita para sair da crise e Levy é o principal responsável por essa política. Na avaliação de Skaf, se for para continuar no caminho que vem trilhando, seria melhor que o ministro da Fazenda deixasse o cargo.

    A insatisfação do empresariado com a política econômica aumentou com a notícia de que o governo estuda recriar um imposto sobre transações financeiras nos moldes da antiga CPMF, extinta em 2007. Segundo Skaf, se a proposta for levada adiante, o governo pode se preparar porque "o empresariado e a sociedade vão reagir fortemente".

    "A gota d'água foi na semana passada, quando se falou em aumentar o imposto sobre a folha de pagamento", disse Skaf, referindo-se à proposta enviada ao Congresso pelo governo para reverter desonerações que aliviaram a carga tributária de vários setores da economia. "A classe produtiva do país não está a favor dessa política."

    Na quarta (26), Dilma recebeu no Palácio da Alvorada um grupo de empresários que incluiu alguns dos participantes do jantar de quinta na Fiesp. Skaf disse que o fato de "meia dúzia" de empresários aceitarem um convite para jantar com a presidente não é sinônimo de apoio ao programa adotado pelo governo.

    Segundo a Folha apurou com pessoas que participaram do jantar com Temer, o sentimento de insatisfação foi expressado de forma quase generalizada. Ninguém além de Skaf mencionou Levy. Alguns empresários comentaram que o ministro merece crédito e está fazendo o que pode numa situação difícil. Mas outros disseram que a política econômica não deveria ser conduzida pelo pensamento de um "tecnocrata financeiro".

    CRÍTICAS VELADAS

    Mesmo as falas mais amenas, como a do vice-presidente do conselho de administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, foram permeadas por críticas veladas. O executivo do Bradesco, onde Levy trabalhava antes de ir para o governo, falou sobre a necessidade de o governo recuperar a confiança dos investidores, "a moeda mais forte que existe".

    Ainda segundo esses relatos, o empresário Jorge Gerdau disse ao vice-presidente que a indústria do país "está morrendo" e que esse resultado é fruto de um "problema de liderança". Gerdau criticou o Banco Central por subir os juros para combater a inflação, dizendo que a instituição é "paranoica" e não avalia o impacto do aumento dos juros no setor produtivo.

    Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, disse estar preocupado com o crescimento da sonegação e da informalidade no varejo, e que aumentar os impostos agora é um "tiro no pé". Rubens Ometto, do grupo Cosan, afirmou que o governo deveria lançar um programa de privatizações mais ousado, pondo à venda participações na Petrobras, no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal.

    Participantes da reunião relataram que o vice-presidente se colocou à disposição para levar sugestões ao governo e disse que estava lá mais para ouvir do que falar. Questionado sobre sua saída da articulação política do Palácio do Planalto, repetiu aos empresários o discurso que faz em público: disse que abandonou o "varejo" das relações com os aliados do governo, mas continuará cuidando das "grandes questões".

    DEFESA

    Em defesa de Levy, Temer disse que o ministro da Fazenda não carrega o governo sozinho e que é preciso dialogar. Por fim, reconheceu que o país vive uma crise econômica e política, mas que não se pode permitir que ela se torne uma crise "institucional".

    Aos empresários, o vice-presidente disse que não há consenso no governo sobre a necessidade de aumentar a carga tributária para equilibrar o orçamento do próximo ano, indo na contramão do que os ministros de Dilma afirmaram nesta quinta.

    Com o clima tenso, coube ao presidente da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), Benjamin Steinbruch, ensaiar uma piada. Segundo relatos, ele afirmou que o vice-presidente não deveria se impressionar com os relatos feitos à mesa, porque o que se ouvia fora dali era ainda pior.

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