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    Lava Jato

    Duque chama delator de 'mentiroso' em acareação na CPI da Petrobras

    AGUIRRE TALENTO
    ENVIADO A CURITIBA
    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA

    02/09/2015 12h10

    O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, preso desde março na Operação Lava Jato, chamou o delator Augusto Mendonça de "mentiroso contumaz" durante acareação com ele na CPI da Petrobras em Curitiba, nesta quarta-feira (2), e afirmou que passar seis meses na prisão "não tem justificativa".

    O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto também foi submetido a essa acareação com Duque e Mendonça, mas optou por ficar em silêncio.

    Em sua delação premiada, Augusto Mendonça, ex-executivo da Toyo Setal, já havia afirmado que pagou propina referentes a contratos com a Petrobras via doações oficiais ao PT por meio de Duque.

    Duque, apesar de ressaltar que ficaria calado, fez várias críticas a Augusto Mendonça em tom irritado, mas não rebateu as acusações de pagamentos de propina.

    O ex-diretor atualmente também negocia um acordo de colaboração premiada, mas ainda não o fechou com o Ministério Público Federal.

    "Vou me manter em silêncio. Só gostaria de deixar ressaltado que o senhor Augusto é um mentiroso, ele mente na delação, ele sabe que está mentindo, mas por orientação do meu advogado eu vou permanecer em silêncio", afirmou.

    Em outro momento, o ex-diretor disse que, se precisasse tirar propina de seu bolso para dar ao PT, faria isso diretamente, sem esse intermediário.

    "Não precisaria dar pra essa pessoa [Augusto Mendonça]. Ele não tem competência nem para fazer isso", declarou.

    'TIGRÃO'

    Às acusações do delator, Duque respondia chamando-o de "mentiroso" outras vezes e chegou a citar o caso de um personagem chamado Tigrão que, segundo Augusto Mendonça, era um intermediário de Duque para receber propina.

    "Volto a insistir, esse senhor é um mentiroso contumaz. Na delação ele cita Tigrão, é o nome que ele cita. É um absurdo alguém dizer que entrega fortunas para alguém de nome Tigrão", afirmou Duque.

    Questionado sobre esse ponto, Augusto Mendonça disse que três pessoas diferentes que foram retirar dinheiro em seu escritório foram identificadas como Tigrão.

    "Agora o Tigrão já são três pessoas", ironizou Duque.

    Ao comentar sua situação, o ex-diretor criticou o fato de estar preso. "Eu tenho um sentimento pessoal, mas eu respeito a Justiça. Como pessoa, como pai, como marido, como avô, realmente acho que seis meses em prisão não tem justificativa, mas eu respeito a Justiça e estou aguardando que ela se pronuncie", declarou Duque.

    Questionado pela deputada Eliziane Gama (PPS-MA) sobre as provas de que Mendonça seria mentiroso, Duque foi para a ofensiva e disse que ele estava "roubando" a Toyo Setal, empresa na qual atuava.

    "Ele [Augusto] recebeu dinheiro do consórcio para repassar propina, é o que ele diz. Ele fez contratos com a empresa do senhor Julio Camargo para repassar propina. [...] Dos R$ 110 milhões que ele diz que recebeu do consórcio pra propina, só mostra que repassou R$ 33 milhões pro senhor Julio Camargo. O resto, sumiu", afirmou Duque.

    E completou: "Estou dizendo que ele roubou. Ele sabe disso, ele roubou do consórcio".

    Mendonça rebateu dizendo que as declarações de Duque eram para se defender e que entregou provas ao Ministério Público da saída dos recursos. "Eu não sou mentiroso e ele sabe que eu não sou mentiroso".

    CONTRADIÇÕES

    O relator Luiz Sérgio (PT-RJ) e o deputado Valmir Prascidelli (PT-SP) apontaram contradição na fala de Augusto Mendonça, lendo um depoimento dado por ele no qual afirmou que as doações ao PT eram legais e não configuravam propina.

    Mendonça afirmou não se recordar, porque deu muitos depoimentos, mas ressaltou que a versão correta é que doou ao PT a pedido de Duque, como parte da cota de propinas pagas à diretoria de Serviços.

    "Esta afirmação que parte dos valores a pedido do Renato Duque eu fiz em contribuições oficiais ao PT e era relativo ao dinheiro que eu deveria dar a eles, eu falei isso desde a primeira declaração e esta é a versão que eu confirmo", disse o delator.

    ENCONTROS

    Duque foi questionado pelo deputado Aluisio Mendes (PSDC-MA) sobre sua relação com Vaccari, disse que o conhecia desde 2010 e confirmou que se encontravam eventualmente, como já havia dito em depoimento à Polícia Federal.

    "[A relação] não era de amizade, nunca frequentei a casa dele e vice-versa. Era uma relação de conhecimento mesmo", afirmou.

    O deputado lhe perguntou sobre os motivos desses encontros. "Não tinha uma agenda, encontrava simplesmente quando eu ia a São Paulo, ligava, marcávamos um encontro. Quando ele ia ao Rio me procurava e vice-versa", disse o ex-diretor. Segundo ele, conversavam sobre "assuntos gerais", "nada específico".

    Duque disse que todas as reuniões com Vaccari em que o ex-gerente, também delator, Pedro Barusco esteve presente só ocorreram depois que Barusco saiu da Petrobras.

    Seu ex-gerente lhe acusa do recebimento de propina, dizendo que dividia as vantagens indevidas com Duque e com o PT. Mas, sobre isso, Duque preferiu se calar. Apesar de ter acusado Mendonça de mentiroso, ao ser questionado se Barusco também havia mentido, o ex-diretor respondeu: "Vou permanecer calado". Também ficou calado quando lhe perguntaram diretamente se havia recebido propina.

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