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    Lava Jato

    Em depoimento à PF, executivo liga doleiro a senador do PMDB

    GRACILIANO ROCHA
    BELA MEGALE
    DE SÃO PAULO

    06/09/2015 02h00

    Alan Marques - 9.jun.14/Folhapress
    BRASÍLIA, DF, BRASIL, 09.06.2014. às 17h30. O vice-presidente da República, Michel Temer, participa de reunião da Comissão do Meio Ambiente do PMDB, ao lado do presidente do PMDB, Valdir Raupp. (FOTO Alan Marques/ Folhapress) PODER*** FOTO EM ARTE E NÃO INDEXADA ***
    O vice-presidente do PMDB e senador por Rondônia, Valdir Raupp

    Em depoimento à Polícia Federal, o ex-diretor de óleo e gás da empreiteira Queiroz Galvão Othon Zanoide de Moraes Filho ligou doações que alimentaram a campanha do senador Valdir Raupp (PMDB-RO) ao doleiro Alberto Youssef, pivô do esquema de corrupção na Petrobras.

    Caciques do PMDB no Senado, Valdir Raupp passou a ser investigado em inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) depois que dois delatores da Lava Jato –o próprio Youssef e o ex-diretor Paulo Roberto Costa– afirmaram ter repassado a ele recursos oriundos de desvios em contratos da estatal.

    A Queiroz Galvão fez duas doações ao diretório estadual do PMDB de Rondônia, à época presidido por Raupp. O primeiro de R$ 300 mil, em 27 de agosto de 2010, e outro de R$ 200 mil, cinco dias depois. Na reta final da campanha, o diretório injetou R$ 520 mil na campanha de Raupp.

    Othon Zanoide era o responsável pela elaboração da lista de políticos do PP a serem agraciados com doações da Queiroz Galvão em 2010.

    Em 15 de maio deste ano, o executivo disse à PF em Brasília que o repasse ao PMDB de Rondônia foi solicitado pelo doleiro Alberto Youssef.

    Zanoide relatou aos policiais que recebeu o pedido "com espanto", já que o doleiro lhe fora apresentado no ano anterior por José Janene (PP-PR) e só operava para candidatos da sigla. Segundo o executivo, o doleiro não mencionou o nome de Raupp.

    Apesar do espanto, Zenoide levou o pedido adiante após ouvir de Youssef que a doação ao PMDB de Rondônia era do interesse do PP. Segundo ele, o presidente do grupo, Ildefonso Collares, deu o sinal verde.
    Embora o executivo tenha negado que a doação se deva a propina, seu depoimento reforça os indícios já encontrados pelos investigadores.

    Numa das agendas apreendidas na casa de Paulo Roberto Costa consta a anotação "WR 0,5" –que o delator afirma se tratar de R$ 500 mil para Raupp. A PF também encontrou um e-mail em que Zanoide cobra de Youssef o recibo da doação ao PMDB-RO.

    A ASSESSORA

    A Polícia Federal localizou registros de três encontros entre Raupp e Paulo Roberto Costa no primeiro semestre de 2010. Dois deles na sede da Petrobras, o terceiro em um evento no Rio. Foi depois disso que o ex-diretor teria autorizado seu operador a tirar a doação para Raupp do caixa da propina do PP.

    Segundo Youssef, uma assessora do senador o procurou em seu escritório em São Paulo. O doleiro não soube dizer o nome da emissária, mas reconheceu uma foto da advogada Maria Cleia de Oliveira, lotada no gabinete de Raupp desde 2007.

    Sem dinheiro em espécie no momento, o doleiro diz ter combinado com a assessora repasse via doação oficial. Após o acerto, procurou então Zanoide.

    Pela versão de Youssef, a escolha da Queiroz Galvão para pagar Raupp se devia a um crédito que ele tinha de R$ 7,5 milhões junto à empreiteira da "comissão" do PP por obras na diretoria de Abastecimento da Petrobras.

    Além de PT e PP, a Lava Jato dragou os principais líderes do PMDB no Congresso. Também são investigados os presidentes do Senado, Renan Calheiros (AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e os senadores Romero Jucá (RO) e Edison Lobão (MA).

    Embora a diretoria de Abastecimento tenha sido entregue ao PP no governo Lula, Paulo Roberto Costa disse que passou a atuar também em favor do PMDB após movimento para apeá-lo do cargo no final de 2006.

    Costa atribui sua permanência na diretoria ao apoio de Jucá, Lobão e Renan.

    OUTRO LADO

    Procurado pela Folha, o senador Valdir Raupp não fez comentários específicos sobre a doação da Queiroz Galvão ter sido intermediada pelo doleiro Alberto Youssef.

    "Ao contrário do que vem sendo afirmado, as doações feitas pela empresa Queiroz Galvão foram destinadas ao PMDB de Rondônia, e não à minha campanha. Foram, também, devidamente aprovadas pela Justiça Eleitoral", disse ele, por meio de nota.

    Em depoimento prestado à Polícia Federal de Brasília em 6 de maio, Raupp alegou desconhecer o esquema de corrupção na Petrobras e disse "não ter opinião" sobre as declarações de Paulo Roberto Costa, vinculando-o a repasse de propina.

    Segundo ele, suas visitas à sede da Petrobras visavam discutir com dirigentes da estatal a implantação do gasoduto Urucum-Porto Velho.

    Quando foi questionado sobre Maria Cleia de Oliveira ter negociado doação de campanha com o doleiro, o senador negou e disse que "duvida" que sua assessora tenha estado no escritório do doleiro.

    A Folha também tentou ouvir o ex-diretor de óleo e gás da Queiroz Galvão Othon Zanoide de Moraes Filho. Ele não respondeu aos recados deixados no telefone celular e com sua secretária, no Rio.

    Atualmente, ele é diretor-executivo da Queiroz Galvão Defesa e Segurança.

    Em ocasiões anteriores, a Queiroz Galvão negou veementemente ter feito qualquer pagamento ilícito para obtenção de contratos ou vantagens. Desde a empresa foi referida no escândalo da Lava Jato, empresa tem afirmado que todas as suas atividades e contratos seguem rigorosamente a legislação vigente.

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