A Justiça condenou nesta sexta-feira (11) o ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro a 44 anos e dois meses de prisão pelas mortes de duas pessoas, uma tentativa de assassinato, crimes de formação de quadrilha e falso testemunho.
Segundo a denúncia, o ex-bicheiro contratou um homem para matar Rivelino Jaques Brunini. O assassino disparou nove tiros contra Brunini em frente uma oficina na avenida Historiador Rubens de Mendonça, em Cuiabá, em junho de 2002.
Fauze Rachid Jaudy e Gisleno Fernandes foram atingidos por um tiro, cada um, porque estavam no local conversando com a vítima. Eles foram socorridos, mas Jaudy não resistiu ao ferimento e morreu.
O promotor Vinícius Gahyva defendeu durante o julgamento a tese de que o réu era chefe do crime organizado e exploração de máquinas caça-níqueis no Mato Grosso, além de ser responsável pelas mortes.
Para Gahyva, a defesa pretendia canonizar Arcanjo e promovê-lo a santo. "Uma ação de marketing para desfigurar a imagem que ele próprio construiu", disse o promotor.
O advogado de defesa Paulo Fabrinny falou que não tinha a intenção de beatificar seu cliente e que foi construído um mito em cima da imagem de Arcanjo.
Fabrinny disse que Brunini foi morto pelos chefes do esquema de caça-níqueis do Rio de Janeiro, porque tentou "passar a perna neles".
"Por que ele teria motivos para matar Rivelino? Não existe motivo, não há nada concreto nos autos", falou o advogado.
Arcanjo foi condenado pelas mortes por quatro votos a três, após 21 horas de julgamento. A defesa do réu vai recorrer da decisão.
HISTÓRICO
Comendador Arcanjo mantinha bancas de jogo do bicho de sua empresa, a Colibri, em cidades mato-grossenses como Cuiabá e Rondonópolis (a 220 km da capital do Estado).
Em dezembro de 2002, durante a Operação Arca de Noé, a Polícia Federal fez uma devassa em seu patrimônio, estimado na época em R$ 1,2 bilhão. Arcanjo fugiu para o Uruguai, mas acabou preso naquele país e foi extraditado.
O bicheiro, que é ex-policial civil, tinha contatos com políticos, conforme afirmou em vários depoimentos. O título de comendador vem de uma comenda outorgada a ele pela Câmara Municipal de Cuiabá, antes de as denúncias virem à tona.
O dono do jornal "Folha do Estado", Domingos Sávio Brandão de Lima Júnior, foi morto por pistoleiros em setembro de 2002.
Segundo declarações do Ministério Público Federal à época, o empresário publicava em seu jornal reportagens que prejudicavam a organização criminosa comandada por Arcanjo.
Em 2013, Arcanjo foi condenado a 19 anos de prisão pela morte de Brandão. Ele também cumpre pena de 25 anos por crimes contra o sistema financeiro.
Atualmente, o ex-bicheiro está preso na penitenciária federal de segurança máxima de Porto Velho (RO).