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    Lava Jato

    Omissões de delator podem elevar multa para R$ 70 mi

    MARIO CESAR CARVALHO
    ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

    13/09/2015 02h00

    Omitir supostos crimes relacionados ao ex-ministro José Dirceu e ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), vai custar uma pequena fortuna ao executivo Julio Camargo, um dos delatores da Operação Lava Jato.

    A força-tarefa de procuradores que investiga desvios na Petrobras quer que ele pague R$ 10 milhões a mais por cada uma de três omissões, todas consideradas graves.

    Como Camargo aceitou pagar uma multa de R$ 40 milhões ao celebrar o acordo de delação, a conta final pode chegar a R$ 70 milhões.

    Camargo ficou famoso entre os delatores por ter escondido inicialmente dos investigadores que dera US$ 5 milhões ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) –o que o parlamentar sempre negou.

    Ele fez um acordo de delação em outubro do ano passado, mas só falou do suposto repasse em julho deste ano, quando a Procuradoria-Geral da República ameaçou romper o trato com ele.

    O valor seria de propina sobre a compra de dois navios-sonda pela estatal, um negócio de mais de US$ 1 bilhão. Camargo alegou que sofrera ameaças de Cunha para omitir a doação ilícita, o que o deputado também nega.

    Havia outros dois fatos omitidos na delação de Camargo, segundo o procurador Carlos Fernando Lima. Camargo escondera que repassara R$ 4 milhões a José Dirceu e que vendera 1/3 de um avião Cessna ao ex-ministro por R$ 1,07 milhão.

    A REVELAÇÃO

    O repasse dos R$ 4 milhões só foi revelado à Justiça em julho, nove meses depois dos primeiros depoimentos de Camargo. Ele só não contou a origem dos recursos. Eram parte da propina paga por duas empresas que fornecem mão de obra terceirizada à Petrobras, a Hope e a Personal, segundo investigadores.

    Outro delator da Lava Jato, Milton Pascowitch, ajudou os procuradores a desvendar as omissões. Ele contou que a Hope RH e a Personal pagavam R$ 800 mil mensalmente a Dirceu. Em troca, as empresas eram privilegiadas quando a Petrobras precisava de mão de obra terceirizada, segundo Pascowitch.

    Desde 2006, Hope e Personal têm contratos com a estatal que somam R$ 6,4 bilhões –elas negam irregularidades.

    Pascowitch contou que passou a fazer essa tarefa depois que Dirceu desconfiara que Camargo embolsava parte do suborno que deveria repassar ao ex-ministro.

    Pascowitch revelou a compra do avião porque fora ele que pagara Camargo. Ele adquiriu 1/3 da aeronave em julho de 2011, na época do mensalão, quando o ex-ministro passou a ser hostilizado em voos de carreira.

    Dirceu desistiu do avião porque jornalistas descobriram que ele passara a usar a aeronave. Pesou também na decisão o fato de o avião ter pertencido ao ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira e ter sido adquirido em uma transação com características de lavagem de dinheiro.

    Ao homologar o acordo de delação do executivo, o juiz federal Sergio Moro escreveu que, "apesar da relevância da colaboração, não foi Julio Camargo verdadeiro desde o início" e fixou a pena em cinco anos de prestação de serviços. Se tivesse contado tudo, a pena seria de três anos.

    OUTRO LADO

    O advogado de Julio Camargo, Adriano Bretas, diz que a posição da defesa é inflexível: "Não vamos arredar pé em nenhum milímetro na multa". Segundo ele, "o próprio juiz já reconheceu a higidez do acordo e a justificativa dada pelo nosso cliente".

    Nos acordos de delação, o juiz analisa se as normas legais foram seguidas no trato. Os procuradores podem renegociar o valor da multa, estabelecida no caso de Camargo em R$ 40 milhões.

    A defesa de José Dirceu nega que ele tenha recebido R$ 4 milhões de Camargo. Sobre o avião, a assessoria do ex-ministro afirma que o advogado de Dirceu só vai prestar esclarecimentos sobre a questão quando convocado pelo juiz.

    O advogado do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Antonio Fernando de Souza, diz que neste momento não comenta nenhuma acusação a seu cliente porque está preparando a defesa dele.

    A Hope diz em nota que "que sempre colaborou e continuará colaborando com as autoridades" e que, ao final das apurações, tudo será esclarecido.

    A Personal Service afirma que só se manifestará sobre as apurações após seus advogados terem pleno acesso às investigações da Lava Jato.

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    IDAS E VINDAS DE JULIO CAMARGO

    Lobista omitiu fatos em sua delação e deu novas informações após a Procuradoria ameaçar romper o trato

    Alan Marques/Folhapress
    BRASÍLIA, DF, BRASIL, 30.08.20125. O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, comanda sessão de votação da Casa. (FOTO Alan Marques/ Folhapress) PODER

    EDUARDO CUNHA
    Camargo não informou em outubro, mas disse em seu depoimento de março, que pagou US$ 5 milhões ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), como propina sobre a compra de dois navios-sonda pela Petrobras, negócio de mais de US$ 1 bilhão

    Hedeson Alves/Efe
    BRA01. CURITIBA (BRASIL), 31/08/2015.- El exministro brasileño José Dirceu, el hombre fuerte del primer mandato del expresidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006), condenado hace dos años por corrupción y detenido este mes por su supuesta vinculación a la red de corrupción en la petrolera estatal Petrobras, habla en la sede de la Policía Federal de Curitiba (Brasil). Dirceu se negó a declarar hoy ante una comisión del Congreso brasileño que investiga el caso. Los miembros del grupo parlamentario se desplazaron hasta la ciudad de Curitiba, en el sur del país, donde se reunieron con Dirceu en dependencias de la justicia federal, pero no lograron una sola respuesta a las preguntas formuladas durante una media hora. EFE/Hedeson Alves ORG XMIT: BRA01

    JOSÉ DIRCEU
    Julio Camargo revelou apenas em julho, e não no seu primeiro depoimento, duas informações em relação ao ex-ministro: que repassou a ele R$ 4 milhões (que seriam parte da propina paga por duas fornecedoras da Petrobras) e que vendera a Dirceu um terço de um avião Cessna por R$ 1,07 milhão

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