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    Desilusão com a política pode ajudar Novo a crescer, diz presidente da sigla

    ALEXANDRE ARAGÃO
    DE SÃO PAULO

    17/09/2015 17h00

    Leo Pinheiro - 11.mar.2011/Valor/Folhapress
    Data: 11/03/2011 Editoria: Politica Reporter: Cristian Klein Local: Rio de Janeiro, RJ Pauta: Criacao do Partido Novo Setor: Legenda, Empresario Personagem: Joao Dionisio Amoedo, presidente da legenda Partido Novo Fotos: Leo Pinheiro/Valor ***FOTO DE USO EXCLUSIVO FOLHAPRESS***
    João Dionisio Amoedo, presidente do Partido Novo, que nessa semana tornou-se a 33ª sigla do país

    Recém-aprovada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a criação do 33º partido político do Brasil, o Partido Novo, fez o país atingir o maior número de siglas de sua história. Para o economista carioca João Dionísio Amoedo, 52, no entanto, o Novo é diferente. Presidente da sigla, ele afirma que todos os eleitos pelo partido seguirão o ideário liberal –redução do Estado, maior autonomia do indivíduo, diminuição dos impostos, entre outras medidas.

    A favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, mas sem opinar se as condições para que isso ocorra por via constitucional estão postas, Amoedo diz que o descontentamento da população com políticos pode ajudar o crescimento do Partido Novo. "As razões que nos levaram a montar o partido são muito parecidas com o que a gente tem hoje", afirma em entrevista à Folha. Leia abaixo trechos da conversa.

    *

    Folha - O sr. está criando o Novo há alguns anos, antes mesmo de começar a haver uma crise econômica no país e antes de a sociedade expressar um descontentamento com os políticos. O sr. acha que o "timing" foi bom, mas foi involuntário, porque não havia como prever que essas situações ocorreriam em 2010?
    João Dionísio Amoedo - É verdade, não tinha como prever. Mas se você parar para pensar, as razões que nos levaram a montar o partido são muito parecidas com o que a gente tem hoje. A única coisa é que as coisas pioraram no grau. Em 2010, quando a gente começou, pensamos o seguinte: nós pagamos muitos impostos, mas os serviços públicos são ruins. As pessoas não se envolvem na política, e a gente tem falta de lideranças. O Estado ainda é intervencionista e muito concentrador, cobra muitos impostos. Esse é o cenário que a gente tinha em 2010, que nos incomodava. Isso piorou muito. Talvez a gente não imaginasse que piorasse tanto assim. Certamente eu não imaginava. O Novo é um projeto de longo prazo, mas pode ser que essa situação gere uma oportunidade de uma divulgação mais rápida, de uma aceitação mais rápida das nossas ideias. Porque a realidade está mostrando que esse outro jeito não funciona.

    No atual cenário, com o ajuste fiscal, um parlamentar do Novo não votaria por aumento de impostos?
    Não, ele teria que votar por uma redução de custos. Basicamente porque a gente entende que o patamar de impostos que o país tem já é muito elevado. E é um desenho que na verdade não funciona mais. O país não cresce porque a carga tributária é tão grande, que ninguém consegue investir, ninguém consegue produzir. O patamar de impostos já está tão alto que, na medida em que você sobe, às vezes até a arrecadação final acaba sendo menor, porque o nível de atividade econômica cai. Então aquele percentual que você deu de aumento é quase que marginal ao ganho.

    Nesse sentido, o sr. acredita que a redução de custos que o governo anunciou junto com a intenção de aumentar impostos é pequena?
    É pequena. O governo teria que pensar numa reforma realmente estrutural, teria que dizer o seguinte: eu parto do pressuposto de que não dá para aumentar mais nenhum imposto. Se essa é a realidade, vou olhar para dentro de casa –o que dá para fazer? O que a gente pode cortar? O que a gente pode rever? E aí fazer realmente cortes estruturais.

    Em relação a programas sociais, o partido tem uma diretriz?
    Nós achamos que alguns programas são importantes e válidos, como o Bolsa Família, porque atende uma camada muito pobre da população, o custo dele perto dos outros custos do governo não é tão relevante e, principalmente, você dá os recursos à pessoa e deixa a ela a opção de usar como achar melhor. Agora, o mais importante dos programas sociais, no fundo, é identificar de onde vêm os recursos. Porque senão a gente corre o risco de fazer alguns programas que aparentemente estão atendendo a alguns setores, mas no final quem paga a conta, quando a coisa estoura, é sempre o mais pobre –via inflação, perda de emprego, baixo crescimento. A preocupação do Novo com os programas sociais, ou com qualquer programa do governo, é sempre com a origem dos recursos.

    Em relação ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, o sr. tem participado das manifestações? Qual é a posição do sr. em relação ao assunto?
    O Brasil estaria melhor se a gente não tivesse a presidente Dilma na gestão basicamente por conta das ideias, dos conceitos errados, que foram sendo praticados ao longo desses últimos quase cinco anos. Acho que o Brasil teria condições de resolver as coisas com menos dificuldades se tivesse outra pessoa, e acho que no caso dela tem um problema maior que é a perda de credibilidade. Então, no momento em que você precisa fazer um sacrifício grande e trazer mudanças estruturais, com uma pessoa que está com pouca credibilidade o nível de aceitação é muito baixo, tanto pela população como pelo Congresso.

    Agora, a gente sempre tem que fazer as coisas pelo caminho legal, pelo caminho constitucional. Se for possível que isso seja feito pelo caminho legal, pelo caminho constitucional, ótimo –imaginando que ela não vai querer abrir mão do mandato.

    Mas o sr. acha que as condições para que isso ocorra por meio constitucional estão postas?
    Eu não sou especialista para dizer isso, então prefiro seguir o que vai ser decidido pelas instâncias competentes. Ou pelo TSE, no caso do julgamento da campanha, ou pela questão das investigações no TCU. Acredito que os dois órgãos têm isenção e competência técnica para fazer isso.

    O STF voltará a discutir a questão do financiamento privado de campanha, e o sr. já afirmou que o Novo abriria mão do fundo partidário.
    O fundo partidário, se você abre mão, ele é rateado entre os demais [partidos]. Então a nossa ideia é receber o fundo partidário, mas não utilizar o fundo nem para campanhas do Novo, nem para a manutenção do partido. A ideia seria utilizá-lo para fazer propaganda contra o fundo partidário, ou fazer vídeos educativos, alguma coisa que não tivesse relacionada a nenhuma atividade-fim do Novo.

    Caso o financiamento privado seja proibido, como o partido pretende se manter?
    Nossa ideia é manter o partido com o apoio dos filiados, principalmente, e dos apoiadores.

    Essa ideia é crível, dada a quantidade de pessoas que demonstrou interesse em se filiar?
    A gente está começando a filiação agora. Temos alguns números: mais de 40 mil cadastrados no site do Novo e temos quase 900 mil seguidores no Facebook. Agora, a gente vai começar mais esse processo da filiação para poder te dizer o seguinte: quantos porcento desses dois grupos vai se filiar. Eu acho que no caso dos cadastrados, a probabilidade é que boa parte se torne filiados. No caso dos seguidores do Facebook é difícil dizer. A nossa expectativa é que a estrutura do partido fosse bancada por essa contribuição mensal.

    Durante a coleta de assinaturas para a criação do partido, o Novo contratou empresas para ajudar. Como foi esse processo?
    A coleta das assinaturas veio de várias formas. A gente tinha no site, a ficha disponível, e também no Facebook. A gente contratou algumas empresas que iam para a rua e divulgavam a ideia do Novo, os principais princípios, e abordavam as pessoas que eventualmente tinham interesse em apoiar a criação do partido. E de voluntários, né? Foram se juntando ao Novo.

    O Novo promete que os eleitos pelo partido teriam metas de gestão. Como isso seria definido?
    Quem for ter atuação parlamentar terá um compromisso com as linhas de atuação [do partido]. Uma das coisas que nós achamos importante é estar comprometido a não aumentar impostos. Não votaria em nenhum tipo de aumento de impostos. No caso do Executivo, a ideia é que ele apresente no ato da candidatura algumas metas, e depois, se eleito, dê os números definitivos desses indicadores.

    O sr. pretende disputar a eleição de 2016?
    Eu não pensei sobre isso, e no caso do Novo tem uma diferença. Os membros do diretório não podem concorrer a cargos eletivos. O diretório tem como responsabilidade fiscalizar, monitorar e dar suporte àqueles candidatos eleitos. Então, para não ter a mesma função, a gente entende que tem a turma que vai trabalhar na gestão pública, que vão ser os políticos, e tem a turma que vai administrar o partido, que não podem se misturar. Até para impedir também que a máquina partidária vire uma máquina para eleger alguém dentro do partido. Como membro do diretório, não posso me candidatar, a não ser que eu saia do diretório com pelo menos um ano de antecedência.

    O Novo divulgou que os eleitos pelo partido não poderiam concorrer novamente ao mesmo cargo que ocuparam. Como isso está definido exatamente?
    O estatuto prevê o seguinte: alguém que foi eleito para um cargo no Legislativo só poderia concorrer a uma reeleição para o mesmo cargo [a lei permite reeleições indefinidas].

    Como se fosse um cargo do Executivo?
    Exato. Mas nada impede que alguém que foi vereador por oito anos, ao final, concorra a prefeito, deputado federal, deputado estadual. Ele só não poderia ficar 12 anos como vereador. No intuito exatamente de dar espaço para outra pessoa que possa trazer ideias novas e renovar.

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